Coligação de Montenegro passa o PS e recupera entre os mais velhos e os que têm menos estudos. A sondagem do ICS/ISCTE aponta para um empate técnico a poucos dias das legislativas, mas a maioria de direita encolhe. 18% de indecisos deixam tudo — mesmo tudo — em aberto para 10 de março. O choque da demissão de António Costa já lá vai, os congressos passaram, os debates acabaram, mas o impasse arrasta-se: AD e PS continuam tecnicamente empatados na última sondagem Expresso/SIC antes das legislativas, separados agora por um ponto apenas e deixando totalmente em aberto não só quem pode vencer, mas também as condições de governabilidade do país após a noite de 10 de março. Face ao estudo realizado pelo ICS/ISCTE há cerca de um mês, os ponteiros mexem ligeiramente: com os dados em bruto, sem distribuição de indecisos, o PS cai para 20% (tinha 23% em janeiro e 22% antes da eleição de Pedro Nuno Santos); e a AD aparece em movimento contrário: sobe dos 19% para os 21% — dois pontos que, sem terem grande relevância estatística, lhe permitem passar por um ponto os socialistas.
COMO VOTARIA SE AS
ELEIÇÕES LEGISLATIVAS FOSSEM HOJE?
Resultados do total da amostra. A projeção do resultado eleitoral é calculada pela distribuição da intenção de voto após a exclusão dos inquiridos que dizem não votar (14%) e a imputação dos inquiridos indecisos (18%). A variação, em pontos percentuais, é relativa aos resultados da última sondagem (fevereiro de 2024)
Após uma
distribuição de indecisos, a tendência é semelhante: a projeção de resultado
aponta para uma diferença mínima entre os dois maiores partidos (31% para a AD,
30% para o PS), mas também para uma subida visível de quatro pontos da
coligação de centro-direita, em contraste com a estabilização da intenção de
voto nos socialistas.
O relatório da
sondagem acrescenta um dado relevante, nos últimos anos e até janeiro o PS
recolhia “valores particularmente elevados” entre os mais idosos e os que têm
menor nível de instrução (até ao 3º ciclo), agora “notam-se alterações
relevantes”. E quais são elas? “A vantagem que o PS tinha sobre a AD
desapareceu entre os mais velhos, ao passo que se tornou menos expressiva entre
os que não completaram mais do que o 3º ciclo, a ponto de a diferença entre os
dois partidos já não ser estatisticamente significativa.”
INDECISOS SOBEM
Ainda assim, com
18% de indecisos (mais dois pontos do que em janeiro) e com uma margem de erro
de 3,25% é impossível antever quem terá mais probabilidades de ganhar, seja em
número de votos seja em deputados eleitos. Neste retrato, a AD poderia variar entre
27,3% e 34,9%, correspondendo ao pior resultado desde 1976 ou ao resultado de
Fernando Nogueira em 1995. Já o PS poderia ficar entre 26,1%, abaixo do de José
Sócrates após o resgate, e os 33,5% — equivalente ao que António Costa
conseguiu em 2015.
Mas há tendências
a registar. Se a AD sobe neste estudo, o Chega é o que mais perde face a
janeiro. O partido de André Ventura tem, antes da distribuição de indecisos,
12% das intenções de voto, ainda um ponto acima do valor registado em dezembro,
mas três abaixo do valor máximo que tinha atingido em janeiro. Redistribuindo
indecisos, o Chega vê-se reduzido dos 21% para os 17%, apenas dois pontos acima
do ponto de partida após a crise política. Uma vez mais, anote-se que estes
valores não são uma previsão do resultado eleitoral, apenas um retrato das
intenções de voto a semana e meia das legislativas. E a margem de erro permite
uma variação do Chega dos 14% (um pouco acima dos melhores dias de Paulo Portas
no CDS) até aos 20 % (que seria um recorde para um terceiro partido em
Portugal).
Face às
legislativas de 2022, a sondagem indica duas diferenças: um PS bem menos forte
e o Chega em ascensão. Só que, uma vez mais, impõem-se as cautelas: na última
sondagem das legislativas de 2022 o PS aparecia dois escassos pontos à frente
do PSD de Rui Rio (35% vs. 33%) e acabou por ganhar com maioria absoluta. Um
estudo pós-eleitoral mostrou que 14% decidiram o seu voto no próprio dia das
eleições e 9% nas semanas de campanha.
BE EM QUARTO,
MAIORIA DE DIREITA ENCOLHE
Abaixo do pódio, a
sondagem Expresso/SIC aponta para outra (ligeira) descida no espaço à direita:
a IL passa de 3% de intenção de voto direta para 2%, levando a uma quebra
(estatisticamente não significativa) para os 4% após redistribuição de
indecisos. Recorde-se que, há dois anos, o partido agora liderado por Rui Rocha
elegeu oito deputados com 4,9% dos votos dos portugueses.
Com isso, o BE eleva-se ao quarto lugar — embora com a mesma intenções de voto (3% antes, 5% após redistribuição), em linha com os 4,4% das últimas legislativas. Acontece o mesmo com a CDU liderada por Paulo Raimundo, que estabiliza nos 2% (e 3% após ponderação), ainda abaixo dos 4,3% das últimas eleições.
Já o Livre sobe um ponto nos resultados em bruto até aos 2% — resultado que se projeta também para o PAN, apesar de obter a base de intenções de voto ligeiramente inferior à do partido de Rui Tavares. A confirmar-se, seria o melhor resultado do Livre de sempre, mas não do partido de Inês Sousa Real (que chegou aos 3,1% em 2019). Feitas as contas, o estudo continua a apontar como provável uma maioria de direita (52% vs. 42% da esquerda), mas com menos 4 pontos do que a verificada no retrato de janeiro. Fosse este o resultado, a AD precisaria mesmo do apoio do Chega, que exclui, para governar em maioria. E uma eventual vitória do PS acabaria sem deputados suficientes para uma maioria de esquerda. Mas estes não são os resultados finais: esses só os saberemos na noite de 10 de março.
FICHA TÉCNICA
Sondagem cujo
trabalho de campo decorreu entre os dias 17 e 25 de fevereiro de 2024. Foi
coordenada por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL), tendo o trabalho de campo sido realizado pela GfK Metris. O
universo da sondagem é constituído pelos indivíduos com idade igual ou superior
a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal Continental. Os
respondentes foram selecionados através do método de quotas, com base numa
matriz que cruza as variáveis Sexo, Idade (4 grupos), Instrução (3 grupos),
Região
(5 Regiões NUTII) e Habitat/Dimensão dos agregados populacionais (5 grupos). A
partir de uma matriz inicial de Região e Habitat, foram selecionados
aleatoriamente 102 pontos de amostragem onde foram realizadas as entrevistas,
de acordo com as quotas acima referidas. A informação foi recolhida através de
entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos, em sistema CAPI, e a
intenção de voto em eleições legislativas recolhida através de simulação de
voto em urna. Foram contactados 2972 lares elegíveis (com membros do agregado
pertencentes ao universo) e obtidas 907 entrevistas válidas (taxa de resposta
de 31%, taxa de cooperação de 45%). O trabalho de campo foi realizado por 46
entrevistadores, que receberam formação adequada às especificidades do estudo.
Todos os resultados foram sujeitos a ponderação por pós-estratificação de
acordo com a frequência de prática religiosa e a pertença a sindicatos ou
associações profissionais dos cidadãos portugueses com 18 ou mais anos
residentes no Continente, a partir dos dados da vaga mais recente do European
Social Survey (Ronda 10). A margem de erro máxima associada a uma amostra
aleatória simples de 803 inquiridos é de +/- 3,25%, com um nível de confiança
de 95%. Todas as percentagens são arredondadas à unidade, podendo a sua soma
ser diferente de 100% (Expresso, texto e grafismo dos jornalistas David Dinis e
Sofia Miguel Rosa)
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