quinta-feira, dezembro 30, 2021

Sondagem: Maioria dos eleitores PS espera negociação ainda à esquerda


Os portugueses têm sentimentos mistos sobre as vantagens de uma maioria absoluta, mas parecem ligeiramente mais predispostos a aceitar um Governo de um partido só, mostram os dados da sondagem ISCTE/ICS feita para o Expresso e para a SIC.

Com António Costa marcadamente a assumir o pedido — esta semana, numa entrevista à CNN Portugal, deixou pela primeira vez expresso o desejo de obter “metade dos votos mais um” para garantir um Governo estável para quatro anos —, a maio­ria dos portugueses mostra-se ainda contrária a um Governo maioritário de um só partido: são 40% os que acreditam que seria “melhor”, contra 47% que preferem que não exista.

Ainda assim, nota-se uma inversão: em setembro de 2019, antes das últimas legislativas, eram apenas 27% os que respondiam favoravelmente à mesma pergunta. Note-se que, embora a subida de 13 pontos percentuais seja pronunciada, os 40% de respostas favoráveis não chegariam (em tese) para que um partido a obtivesse, ainda que todos esses votos fossem para o mesmo partido — e não é o caso.

Sem surpresa, são precisamente os simpatizantes do PS quem mais defende as vantagens de uma maioria absoluta do partido vencedor (61%, bem acima dos 41% de 2019), face a apenas 43% dos eleitores do PSD. Mas para António Costa há um elemento de expectativa: é que se os eleitores de outros partidos — ou os que declaram não ter nenhuma simpatia partidária — tendem a preferir a inexistência de maiorias absolutas, também é verdade que quase um terço desses eleitores parecem predispostos a aceitar essa opção agora, elemento importante para quem procura o voto útil, como PS e PSD.

ELEITORES PS ENTRE A ESQUERDA E RUI RIO

Mas é quando se pergunta com quem deve negociar um apoio de governação caso não saia uma maioria absoluta das legislativas que surgem as maiores surpresas desta sondagem.

No cenário A, ganhando António Costa, os entrevistadores perguntaram diretamente “com quem deveria negociar para obter apoio para governar?”. E o partido que mais respostas tem (33%) é o PSD de Rui Rio. Porém, contando os 26% que indicam o Bloco e os 20% que apontam o PCP, percebe-se que são 46% os que esperam ainda uma negociação à esquerda. Essa opção é até mais clara entre os simpatizantes do PS: se Costa for novamente o vencedor, são mais os votantes socialistas (38%) que apontam primeiro para um diálogo ao centro, mas entre os 33% que indicam o Bloco e os 22% que apontam o PCP, é claro que a maioria (55%) prefere um acordo à.esquerda. Já o PAN obtém 5% de preferências.

Quanto ao cenário B, o de uma vitória do PSD nas legislativas, as preferências são quase simétricas: 37% dos inquiridos (todos) entendem que deveria negociar com o PS para a formação do Governo, ao passo que 20% indicam o CDS-PP — cuja estimativa de voto, tudo indica, será muito curta para fazer qualquer maioria — e apenas 6% o Iniciativa Liberal (que tem 4% de indicação de voto neste inquérito). E até se olharmos apenas para os simpatizantes dos sociais-democratas, se são 39% que defendem negociações com o habitual parceiro CDS, são mesmo assim 31% os que defendem como prioritária uma negociação com o PS — um grupo três vezes superior ao dos que privilegiam o Iniciativa Liberal (10%).

Apenas 8% defendem que Rio deve negociar com o Chega, quase tantos como os que irão votar em Ventura

Nota importante: apenas 8% do conjunto dos inquiridos defendem que Rui Rio deveria negociar com o Chega de André Ventura, um número quase idêntico ao de preferências de simpatizantes do PSD, 7%. O recente discurso de Rio dizendo que não haverá conversações com o Chega parece, assim, ter colhimento entre a esmagadora maioria dos eleitores — todos os que não votam no próprio Chega (que são precisamente 7%, de acordo com esta sondagem).

Quanto ao PAN, que Rio já admitiu poder ser um parceiro negocial, é indicado por 4% do total de eleitores e só 2% dos sociais-democratas.

Neste inquérito perguntou-se também aos portugueses se acreditam que o desempenho do atual Governo teria sido melhor, ou pior, ou igual, caso António Costa tivesse conseguido obter uma maioria absoluta dos votos nas legislativas de 2019. Confirmando o ceticismo das perguntas anteriores, a opinião mais prevalecente é de que a maioria absoluta não foi nestes dois anos um fator relevante: 43% dos inquiridos consideram que o desempenho do Governo teria sido igual, 24% acham mesmo que teria sido pior, e só 18% admitem que o Governo teria tido melhor desempenho. A colaboração dos partidos da oposição durante a pandemia talvez tenha, neste particular, suplantado o impacto do chumbo do Orçamento do Estado.

Mas e, afinal, quem é que os inquiridos acham que vai vencer as legislativas? A opinião muito prevalecente é de que vencerá outra vez o PS de António Costa: são 59%, bem acima dos 18% que acreditam numa vitória do PSD de Rui Rio. Porém, a diferença estreitou-se um pouco face às expectativas pré-legislativas de 2019: os socialistas têm menos quatro pontos, os sociais-democratas mais nove (Expresso, texto de DAVID DINIS e infografias de JAIME FIGUEIREDO)

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