Manuel Carmo Gomes compara a variante Ómicron com a gripe para defender a necessidade de mudar de se paradigma e permitir a circulação do vírus. Mas também defende que é preciso manter alguns cuidados Tem sido recorde atrás de recorde: Portugal nunca teve tantos casos de covid-19 num só dia, nem tantos testes feitos, mas a pandemia está menos grave. A corrida aos testes de rastreio, potenciada pela época festiva e pelo "tsunami de casos" da Ómicron, tem sobrecarregado a Linha SNS24. E, sobre isso, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes apela à necessidade de se alcançar um "equilíbrio difícil": podemos abdicar "da obsessão extrema" de rastreios que sobrecarregam os serviços de saúde, mas fazendo o possível para retardar o avanço da nova variante através de medidas individuais.
O professor de epidemiologia, que faz também parte da comissão técnica da DGS, destaca que a Ómicron é "altamente transmissível" e que querer travá-la com as características que aparentemente tem "é como querer travar as constipações no inverno". "Nunca nos passou pela cabeça querer fazer isso."
Carmo Gomes frisa que, no inverno, as constipações são em grande número e a maior parte não tem quaisquer consequências. "E nós o que fazemos é proteger as pessoas que eventualmente são mais vulneráveis mas não lhes damos uma importância enorme", afirma.
Para o especialista, aquilo que se tem passado nos últimos dias em Portugal "obriga-nos a fazer esta reflexão": "Neste momento, as nossas linhas de defesa (a Linha SNS24 e a testagem) e os hospitais não estão a conseguir dar conta do recado", afirma, exemplificando que o SNS24 não está a ser capaz de esclarecer as pessoas, quer para quem tem dúvidas, quer para quem esteja infetado e em isolamento em casa.
Sublinhando a necessidade de confirmação (que deverá chegar nos próximos dias), Carmo Gomes apela a que se reconheça que os números são de tal ordem que não podemos manter o mesmo paradigma que temos tido. "Se se confirma que a Ómicron é pouco mais do que uma constipação, talvez faça mais sentido que circule de forma controlada sem abdicar de algumas medidas que atualmente temos", como as máscaras.
Vamos sair da obsessão que é querer rastrear todos os contactos da pessoa infetada com Ómicron. Não é possível. Os números estão a crescer e não há recursos humanos que possam acompanhar uma coisa destas
Ainda assim, o especialista não advoga que se termine drasticamente com a testagem que estamos a fazer. "Não testar para fazer casos equivale a varrer o lixo para debaixo do tapete. Nós queremos ter uma noção de qual é o nível de infeção que a comunidade tem, para sabermos também como temos de agir", refere. "Mas também reconheço que é um exagero que se está a cair querer fazer uma testagem e acompanhar todo e qualquer um caso. É um exagero testarmos todos os dias, a menos que a pessoa tenha sintomas, esteja isolada e necessite de saber quando é que já não transmite a infeção.".
Os quatros dias com mais testes realizados desde o início da pandemia foram, de acordo com os dados do Ministério da Saúde, precisamente 22, 23, 24 e 27 de dezembro de 2021 (só nesses quatro dias foram realizados mais de 1,1 milhões de testes). Tudo ponderado, foram realizados 197.740 testes em média por dia entre 20 e 27 de dezembro deste ano, dos quais 4,8% foram positivos; no período homólogo de 2020 foram realizados 31.411 testes por dia, em média, dos quais 9% deram positivo.
Diminuição do período de isolamento? "As vantagens superam muito os inconvenientes"
Manuel Gomes é também um dos especialistas que defendem a redução do período de isolamento de dez para cinco dias. O epidemiologista sublinha as vantagens dessa mudança, sobretudo para os médicos de família.
O especialista justifica que a Ómicron tem um período de incubação mais curto (são essencialmente os primeiros três a quatro dias após a infeção em que a transmitimos e também quando os autotestes revelam ser positivos), mas também "limpamos o vírus mais depressa" do que no caso da Alfa e da Delta".
"Faz sentido começar a tomar um período mais curto como referência, como oposição aos dez dias, até porque isso vai aliviar imensamente todos os médicos e família que têm a obrigação de contactar os doentes que estão em casa." (CNN-Portugal, texto da jornalista Rafaela Laja)
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