segunda-feira, dezembro 27, 2021

Expresso: Ryanair ou EasyJet candidatas fortes a slots da TAP



A TAP vai ser salva mas vai ficar mais pequena e terá de abdicar de 18 slots (faixa horária para aterrar e descolar) por dia no congestionado e cobiçado aeroporto de Lisboa, o equivalente a 3400 voos de ida e volta por ano. São apenas 5% dos 300 slots da TAP, desdramatizou o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. A questão é que todos eles serão entregues a uma única concorrente da TAP, como já esclareceu a Comissão Europeia, defendendo que só assim medida será eficaz. E o Governo, sabe o Expresso, admite mesmo que possa ser uma low-cost, a Ryanair ou a EasyJet, a ficar com tudo. Michael O’Leary, o combativo presidente da low-cost irlandesa, que tem feito amiúde conferências de imprensa em Portugal onde critica duramente a TAP e a estratégia do Governo, não esconde a ambição de ficar com todos os slots que forem libertados pela companhia portuguesa.

É a Comissão Europeia quem vai liderar e organizar todo o processo de distribuição dos slots, num concurso cujos moldes ainda são desconhecidos mas que está previsto para o inverno de 2022. Resta saber em que horários serão os slots cedidos pela TAP — uma questão relevante, já que as primeiras e últimas horas do dia são as mais importantes.

Neste momento, depois do golpe duro que tem sido para os trabalhadores o plano de reestruturação que já obrigou à saída de 2900 pessoas e cortes de salários de 25% a 50%, é no corte de slots que a mão pesada e punitiva de Bruxelas mais se faz sentir. A hipótese de que todas as faixas horárias libertadas possam acabar nas mãos da Ryanair não é o único cenário que o Governo e a TAP colocam em cima da mesa. Há também a possibilidade de a vizinha espanhola Iberia poder estar interessada em licitar os slots, com o objetivo de tirar força ao hub da TAP em Lisboa, reforçando o de Madrid. Neste momento, está tudo em aberto e todas as companhias poderão lançar-se aos slots da TAP que irão a concurso sem condicionantes — a EasyJet também se afirma como candidata. A companhia que ficar com eles é que vai decidir para onde irá voar. A TAP não terá uma palavra a dizer sobre este processo.

VÃO ENTRAR JÁ MAIS €536 MILHÕES

A aprovação do plano na reta final de 2021 vem aliviar as exauridas contas da TAP. Ainda este ano vão entrar mais €536 milhões de ajudas de Estado, dos quais €107,1 milhões resultam da compensação por danos provocados pela pandemia, verba aprovada esta quarta-feira, no mesmo dia em que Bruxelas deu luz verde ao plano. Um balão de oxigénio que só poderia ser libertado depois do sim da Comissão. É urgente a entrada de mais dinheiro, pois a TAP está pressionada por uma quebra das receitas para menos de metade face a 2019. Os €536 milhões completam os €998 milhões que o Estado previa que entrassem na companhia este ano e dos quais fazem parte também os €462 milhões de compensações para danos provocados pela covid, injetados no primeiro semestre e já transformados em capital.

É Bruxelas quem liderará o processo de distribuição dos slots, num concurso cujos moldes são ainda desconhecidos

É possível que entrem nos primeiros meses do ano mais cerca de €50 milhões para aliviar os danos da pandemia. O pedido já foi feito pelo Governo. “Aguardamos ainda uma segunda decisão relativa à compensação covid face ao primeiro semestre de 2021, que pensamos deverá ocorrer muito brevemente”, esclareceu fonte oficial das Finanças ao Expresso.

VENDAS E FUSÕES ATÉ 2025

Apesar dos grandes desafios que a TAP terá pela frente, a aprovação do plano de reestruturação antes do Natal reduz a incerteza sobre o futuro de curto prazo da companhia aérea e acabou por ser uma vitória do Governo, já que o chumbo do plano podia sempre acontecer e ditaria a falência, como aliás Pedro Nuno Santos salientou na semana passada. A TAP mantém-se, mas vai haver uma mudança de paradigma: a companhia vai ter de se desfazer de alguns negócios não essenciais — como o catering, a assistência aos aeroportos (Groundforce) e a manutenção do Brasil — e está impedida de crescer nos próximos anos. A escala e a dimensão são importantes no negócio da aviação (ver Economia, pág. 11). Estes são compromissos que o Estado português aceitou em troca da aprovação do plano e da autorização para injetar €2,55 mil milhões.

O desinvestimento nestes negócios é para ser feito até 2025. Até lá muita coisa pode mudar e há uma quase certeza de que a TAP não irá ficar sozinha. Pedro Nuno Santos voltou a referi-lo esta quarta-feira. Mas o Governo não quer abrir o jogo sobre futuras fusões ou vendas de capital da TAP — a alemã Lufthansa já foi a favorita do Executivo de António Costa, mas não se sabe se continua a ser.

Entretanto, em breve, o Estado vai ficar com 100% da TAP SA, que se separará da TAP SGPS. A transportadora volta assim às mãos do Estado. O futuro Governo decidirá se ela regressa aos privados ou não. O PSD já disse que nunca foi a favor da nacionalização feita pelo PS. O tempo o dirá (Expresso, texto das jornalistas ANABELA CAMPOS e LILIANA VALENTE)

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