Foi um ano de confinamentos,
distância social e apoios financeiros. Mas quem se saiu melhor? Em junho de
2020, Ian Bremmer e alguns dos seus colegas do Eurasia Group analisaram os
países do mundo que melhor reagiram ao surgimento da Covid-19 – desde
Singapura, à Alemanha ou aos Emirados Árabes Unidos. Agora, passados oito
meses, o jornalista da revista TIME voltou a analisar a resposta destes mesmos
países à pandemia e verificou que bons exemplos devemos retirar deste primeiro
ano a co-habitar com o vírus.
Taiwan
Após um ano de pandemia, a ilha
vizinha da China conta apenas 940 casos e 9 mortes de Covid-19, fruto de um
rápido fecho de fronteiras no início da pandemia, da utilização de uma
aplicação digital para identificar e confirmar que as pessoas em quarentena
estão a obedecer às regras, assim como a uma resposta centralizada do Governo
(com um vice-presidente epidemiologista) através do seu sistema nacional de
saúde. Graças a esta rápida ação e apertado controlo dos cidadãos, Taiwan nunca
impôs um confinamento geral, ao contrário da maioria dos países do mundo,
apesar de recentemente ter proibido a entrada de pessoas estrangeiras e não
residentes no país. Agora, enfrentam um obstáculo inesperado: o facto de
estarem a lidar tão bem com o vírus está a diminuir o sentido de urgência da
vacinação dos cidadãos.
Singapura
Com 59 mil casos e 29 mortes desde o início da pandemia, o caso de Singapura é semelhante ao de Taiwan: uma ação rápida e agressiva do Governo, com o uso de tecnologia e poderes do Estado para implementar uma monitorização dos cidadãos, permitiu um baixo número de transmissões do vírus. Entre estas medidas, contaram-se a verificação de bilhetes de identidade nas portas de supermercados ou a rápida construção de novas camas para acomodar e isolar doentes. Graças a isso, Singapura conseguiu enviar os seus estudantes universitários de volta às faculdades – uma exceção num mundo dominado pelas aulas online -, enquanto manteve o país economicamente sustentável através de pacotes de grandes pacotes de estímulo do Governo. No entanto, o país continua a sofrer críticas pelo tratamento desigual dado aos seus trabalhadores imigrantes.
Coreia do Sul
Graças a uma política implacável de
controlo de pequenos surtos do vírus e a um alto controlo da população – tal
como nos casos de Taiwan e Singapura -, a Coreia do Sul continua a destacar-se
como um dos casos de maior sucesso entre as democracias avançadas mundiais. Em
fevereiro, o país asiático registava 85 mil casos de Covid-19 e 1544 mortes,
números significativamente baixos para a sua população de 51 milhões de
pessoas. Contudo, o país enfrenta um problema: após ter apostado em tratamentos
com anticorpos monoclonais, a Coreia renegou para segundo plano a compra das
vacinas, adquirindo menos doses por habitante que países como o Reino Unido e
os EUA. Agora, os tratamentos com anticorpos monoclonais revelaram-se menos
eficazes do que o esperado – e o governo está a correr atrás do prejuízo.
Nova Zelândia
Contando apenas pouco mais de 2 mil
casos e 26 mortes desde o início da pandemia, a Nova Zelândia tem corrido os
jornais de todo o mundo como um dos melhores exemplos a seguir. Graças a
medidas de confinamento agressivas, testes em massa, uma boa comunicação
política da primeira-ministra Jacinda Adern e o fecho de fronteiras, o país tem
mantido os casos de Covid-19 sob controlo. No entanto, o seu lento ritmo de
vacinação tem levantado preocupações – mais um país onde o baixo nível de casos
reflete a menor importância dada à imunização, tanto pelo governo como pelos
cidadãos.
Austrália
Os números da Austrália – 28 mil
casos e 909 mortes – parecem elevados quando comparados com a vizinha Nova
Zelândia. No entanto, estes são números positivos para um país que tem feito um
bom controlo da pandemia, com a rápida implementação de restrições de viagens e
de confinamentos desde o início da pandemia. Paralelamente, o
primeiro-ministro, Scott Morrison, tem acompanhado estas restrições com grandes
pacotes de estímulo económico para a população, assim como apoios para desempregados
e cuidados para crianças gratuitos para todos.
Canadá
Enquanto a Austrália sofre por ser
comparada com a vizinha Nova Zelândia, o Canadá tem o efeito contrário quando
comparado com os EUA, com quem partilha uma longa fronteira. Ainda assim, os
canadianos contam com 840 mil casos e 21455 mortes de Covid-19, tendo sofrido
particularmente com a segunda vaga do vírus e as suas novas variantes. Com um
sistema nacional de saúde a nível federal e vários apoios fiscais concedidos ao
longo da pandemia, o governo do Canadá tem evitado males maiores. No entanto, o
país tem assistido a crescentes protestos anti-confinamento e vários locais
estão a começar a desconfinar, apesar de apenas 4% da população ter sido
vacinada até ao momento, fruto desta pressão pública.
Alemanha
Com mais de 2 milhões de casos de
Covid-19 e 66 mil mortes, Angela Merkel não tem tido uma tarefa fácil no
combate à pandemia. O ritmo de vacinação na Alemanha é inferior ao de outros
países da União Europeia e os protestos anti-confinamento também estão a
crescer no país, pondo em causa a resposta robusta que o governo tinha dado nos
primeiros meses da pandemia, com testes em massa e uma comunicação
transparente. Recentemente, Merkel anunciou que planeia manter o atual
confinamento até ao dia 28 de março, após o país ter sofrido um forte impacto
com a segunda vaga do vírus.
Islândia
Com apenas 6 mil casos e 29 mortes,
os números do pequeno país falam por si próprios. A Islândia manteve-se fiel à
sua campanha de testes em massa e quarentenas desde o início da pandemia e,
graças a tal, este mês iniciou o processo de reabertura de bares e ginásios.
Apesar de ter apenas 364 mil habitantes, facilitando o controlo dos casos
positivos e de risco, a Islândia ainda assim chegou a apresentar o índice de testes
por habitante mais elevado do mundo. Neste momento o país enfrenta o desafio da
vacinação da sua população – cujos números não são particularmente altos, tendo
imunizado apenas 2.5% da população.
Emirados Árabes Unidos
Com o seu primeiro caso confirmado a
29 de janeiro de 2020, os Emirados Árabes Unidos tomaram rápidas e implacáveis
medidas de confinamento, distância social e recolher obrigatório no país desde
cedo. Apesar de ter instalado um sistema de vigilância apertado – qualquer
pessoa que partilhe informação médica falsa nas redes sociais pode enfrentar
uma multa de 4500 euros -, o governo garantiu apoios financeiros a todos os
custos causados pela Covid-19. Agora, o país conta com 361 mil casos e mil
mortes de Covid-19. Perturbado pelas disrupções no mercado do petróleo, a maior
fonte de rendimento do país, os Emirados Árabes Unidos continuam a conseguir
controlar o vírus apesar dos surtos pontuais. Segundo Bremmer, os Emirados
“podem vir a ser considerados o modelo desta pandemia.” (Visão)
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