Ventura pode retirar confiança política a deputados. PAN chumba eventual
moção de censura ao Governo, André Ventura rumou esta semana aos Açores e, pela
segunda vez em pouco mais de um mês, o governo regional fica sob ameaça. O
líder nacional do Chega já tinha esta deslocação ao arquipélago agendada para
falar das eleições autárquicas mas, de acordo com o “Observador”, pôs em cima
da mesa a retirada da confiança política a um dos dois deputados. Os
parlamentares açorianos, contactados pelo Expresso, classificam a notícia do
jornal online como “um disparate” e “uma novidade pura”.
Em causa estará um desentendimento relacionado com o Rendimento Social de Inserção (RSI). José Pacheco, um dos dois deputados, fez uma publicação na sua página pessoal e na página do partido no Facebook em que declarava que o Chega está “contra o aumento” do RSI na região autónoma. O parlamentar, que é secretário-geral do Chega-Açores, sinalizou o aumento de beneficiários “em mais de 200 no início deste ano”. A publicação seria retirada da página do partido por Carlos Augusto Furtado, o outro deputado na assembleia legislativa e presidente do Chega Açores, sublinhando que “o Chega tem a obrigação de contribuir para a resolução deste problema e não apenas criticar por criticar”. Posteriormente, José Pacheco retirou também a publicação do seu Facebook pessoal.
Contactada pelo Expresso, a assessoria de Ventura confirmou a viagem aos
Açores na quinta-feira para “falar com a delegação regional, que inclui os dois
deputados, a propósito das eleições autárquicas”. “Relativamente ao conteúdo da
notícia do ‘Observador’, não faremos qualquer comentário”, acrescenta.
O governo regional de José Manuel Bolieiro é formado por uma coligação
entre PSD, CDS e PPM e sustentado por acordos de apoio parlamentar com os dois
deputados do Chega e um do Iniciativa Liberal. No total, os cinco partidos
garantem os 29 deputados necessários para a maioria absoluta. Se um dos deputados
do Chega perder a confiança política do líder nacional, poderá renunciar ou
tornar-se independente. Resultado: a governação ficaria comprometida. No
entanto, há quem esteja pronto a entrar em cena para garantir a estabilidade
governativa no arquipélago.
“FANTOCHES” NAS MÃOS DE VENTURA
Em socorro do governo de Bolieiro poderá avançar o deputado único do
PAN-Açores, Pedro Neves. Assegurando que “o PAN não substitui um partido como o
Chega nem será flor de lapela de ninguém”, o deputado diz ao Expresso que se
houver uma moção de censura “para mandar abaixo o governo, sem dúvida que o PAN
tudo fará para que este continue”. Não sendo, mesmo assim, um “apoio total à
governação em si”, antes “a uma governação sólida para os açorianos”,
distingue.
Ao mexer com os deputados regionais, que Pedro Neves descreve como
“fantoches” e um “brinquedo novo” nas mãos de Ventura, o líder nacional do
Chega “está a mexer com a assembleia regional” da qual o deputado do PAN também
faz parte. “Ventura já demonstrou que não respeita a autonomia e que está a
usar os Açores como um joguete para as suas agendas políticas continentais”,
acusa.
Pedro Neves vai mais longe e carrega nas críticas ao dizer que “os
deputados regionais do Chega não decidem absolutamente nada” e ao indiciar que
a atual atividade parlamentar poderá ser uma antecâmara de uma eventual
“remodelação do xadrez político”. “Tanto o PAN como o IL já demonstraram que o
poder que têm na Assembleia é bastante mais importante do que o do Chega”,
avalia. O deputado do PAN considera que o Governo tem condições para continuar
— “sem dúvida”, enfatiza — e que o foco atual é o orçamento da região.
Em fevereiro, Ventura foi aos Açores, ameaçando romper o acordo que
sustenta a ‘geringonça’ de direita. O líder nacional do partido não gostou de
ver PSD e CDS a rejeitarem entendimentos pré-eleitorais com o Chega para as
autárquicas, acusando-os de fazerem bullying político. Tudo ficou sanado na
altura, agora a indefinição volta a pairar sobre o arquipélago (Expresso)
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