domingo, dezembro 13, 2020

Sondagem: A esquerda prefere Marcelo. Ventura chama 8% do PSD

 


A seis semanas das eleições, Marcelo segura enorme vantagem e Ana Gomes mostra mais força que Ventura — até numa eventual 2ª volta. Ainda há indecisos e 20% admitem mudar de voto, mas sobretudo à esquerda. Ainda não é uma certeza de vitória — já lá vamos ao porquê —, mas se as eleições presidenciais fossem agora, na semana em que o atual Presidente formalizou a sua recandidatura, Marcelo Rebelo de Sousa ganharia sem dúvidas e à primeira volta: na sondagem Expresso/SIC, realizada pelo ISCTE e ICS, Marcelo recebe 66% das intenções de voto — precisamente dois terços do eleitorado.

Se Marcelo ainda não atinge os 70,35% de Mário Soares em 1991, a verdade é que nem a sucessiva declaração do estado de emergência nem a tripla crise (económica, social e pandémica) que atinge o país tiraram força ao atual Presidente. Face à sondagem publicada na primeira semana de outubro, Marcelo sobe até um ponto — e mostra amplo apoio em todos os sectores políticos. É assim entre os eleitores que se assumem de direita (58% das intenções de voto brutas, ainda antes da redistribuição dos indecisos). Também ao “centro” (45%). Mas até entre os que ideologicamente se posicionam “à esquerda”. 35% desses eleitores entregam intenção de voto a Marcelo, quase tanto quanto o somatório dos três candidatos desse mesmo espaço político, Ana Gomes fica-se pelos 16%, Marisa Matias 11% e João Ferreira 10%. Mais ainda, 56% dos simpatizantes do PS dizem querer reconduzir no cargo o atual Presidente, muito acima dos 18% que dizem preferir Ana Gomes. Lembrete: há um mês, o PS deu liberdade de voto nas presidenciais, uma via verde para muitos no Governo e no partido declararem apoio ao que foi outrora líder dos sociais-democratas.

Na análise detalhada desta sondagem, Marcelo só mostra resultados piores entre os eleitores dos 18 aos 24 anos — 28%, menos do que os 35% que assumem não querer sequer votar — e entre os eleitores “sem simpatia” partidária. Entre esses, conquista apenas 37% de votos, face a 35% que não pretendem votar e 16% de indecisos.

A seguir a Marcelo, embora muito abaixo na escala, Ana Gomes e Ventura sobem também um ponto face a outubro. A ex-embaixadora tem agora 13% e Ventura 9%, ficando este último ainda distante do segundo lugar e mais longe ainda de obrigar Marcelo a uma segunda volta, que fixou como meta pessoal. De resto, na simulação de uma eventual segunda volta, Ana Gomes faria melhor do que o líder do Chega: conseguiria ‘encolher’ a votação do atual Presidente para 62% (segurando 12% dos seus eleitores), ao passo que Ventura faria disparar a votação em Marcelo para os 71%, ficando-se pelos 7%. Mas, no caso destas segundas voltas, estes são ainda resultados brutos, sem redistribuição de indecisos — são mais contra Ventura (15%) do que com Ana Gomes (10%), indiciando que a vantagem de Marcelo seria ainda superior aos 64 pontos que o separam de Ventura e 50 que leva de vantagem sobre Ana Gomes.

Entre os eleitores de esquerda, 35% dizem votar Marcelo, quase tanto quanto o somatório dos três candidatos desse mesmo espaço político

De todo o modo, as intenções de voto em André Ventura merecem um olhar atento: se tem 0% de eleitores que se posicionam à esquerda, ganha 14% dos à direita — entre os quais 8% de assumidos simpatizantes do PSD. É bem menos do que os 73% que Marcelo tem no seu partido, mas ainda assim um valor estatisticamente significativo. O eleitor-tipo de Ventura, neste inquérito, é sobretudo masculino (7% dos homens que vão votar votarão nele, contra 3% das mulheres), mas também jovem (7% de votos entre 18 e 24 anos, 8% entre 25 e 44 anos) e menos instruído (12% dos eleitores com ensino secundário, contra 1% dos que têm curso superior).

Ligeiramente abaixo, mas ainda na margem de erro para disputar o terceiro lugar, estão Marisa Matias (mantendo os 7% de outubro) e João Ferreira (o único a perder, estando agora com 5% das intenções de voto). Os dois candidatos terão, no entanto, eleitores bem diferentes: a bloquista mais mulheres, mais jovens e com maior grau de instrução; o comunista mais homens e eleitores mais velhos — sem diferenciação por grau de instrução.

20% ADMITEM MUDAR DE VOTO, MAS…

Mesmo assim, a seis semanas das presidenciais, com uma campanha quase inteiramente neutralizada pela pandemia, resta uma incógnita: se os debates televisivos podem inverter as tendências de voto que praticamente não mudaram nas últimas 10 semanas. Nesta sondagem, respondendo à pergunta sobre se a opção de voto “é definitiva ou ainda pode mudar”, os inquiridos parecem também inclinar-se a favor do atual Presidente: é que se 20% admitem ainda escolher outro candidato, 77% garantem já ter uma decisão fechada. Mais: são precisamente os que escolhem votar Marcelo que mais dão o seu voto por fechado (85%), ao contrário de 46% dos que admitem votar Ana Gomes, de 47% dos que votarão Marisa Matias e de 43% dos que apoiarão João Ferreira. Tudo indica, portanto, que é o eleitorado à esquerda que permanece mais indeciso entre candidatos.

Olhando para a avaliação do mandato de Marcelo, podemos ter uma explicação adicional para isto: os seus cinco anos merecem nota positiva de 78% dos inquiridos — 29% muito, 49% algo satisfeitos —, contra apenas 20% que fazem uma avaliação negativa. Esta aprovação generalizada chega mesmo a 88% dos simpatizantes socialistas, 90% entre sociais-democratas.

Decidido, então? Estando a seis semanas das eleições, não é possível pressupor “intenções de voto plenamente cristalizadas, menos ainda previsões de um qualquer futuro resultado eleitoral”, alerta o relatório do ISCTE e ICS. A dúvida maior é se, face à cada vez menor participação eleitoral em presidenciais que são de reeleição (a de Cavaco, em 2011, teve 53,5% de abstenção) e com a pandemia a chegar à zona de perigo de inverno, Marcelo conseguirá levar toda esta taxa de aprovação até às urnas. No dia 24 saberemos.

NÚMEROS

78% - é o número total de eleitores que se mostram “muito” ou “algo” satisfeitos com o mandato de Marcelo. Entre eleitores do PS são 88%

12%  - é a percentagem de inquiridos que se declaram indecisos. Este número é 6 pontos mais baixo do que no início de outubro

35% - dos eleitores abaixo de 24 anos (mais de um terço) assumem que não vão votar. Este número tende a ser subestimado

58% - são os eleitores de “direita” que dizem votar Marcelo. Já em André Ventura são 14%. Indecisos neste grupo são apenas 7%

9% - é a percentagem de eleitores acima de 65 anos que votarão em Ana Gomes. Em Marcelo são 52%. É o melhor registo dos dois em todos os escalões etários

20% - dos eleitores assumem um voto tático em janeiro — por exclusão de partes ou pelas boas hipóteses de dilatar um resultado

85% - é a percentagem de eleitores de Marcelo que dão o seu voto por definitivo. Só Ventura se aproxima (82%). À esquerda, estas percentagens são mais baixas

OS GRUPOS DE RISCO DA ABSTENÇÃO

Em outubro eram 18% os inquiridos que diziam ainda não saber em quem iam votar. Dez semanas depois, esse número reduziu-se para 12%, mas fazendo subir os que optaram por não votar. O número “não é diretamente comparável a possíveis valores de abstenção”, anotam os autores do inquérito, porque os abstencionistas “têm menor propensão a responder a estudos de opinião” e a intenção de não votar “tende a não ser assumida”. Mas deste inquérito resulta claro que há alguns grupos em maior risco de não ir às urnas nas presidenciais do que outros.

Desde logo, os eleitores mais jovens: entre os eleitores que responderam a este inquérito, 35% dos que têm entre 18 e os 24 anos assumem não votar — mais de um terço destes eleitores. O número é igualmente elevado no escalão etário entre 25 e 44 anos, com 24% de abstencionistas assumidos — mas vai descendo à medida que sobe essa escada etária.

Mas a abstenção pode ser mais elevada, também, entre os eleitores que dizem não ter qualquer simpatia partidária: 35% desses eleitores decidiram também não votar.

Quanto aos indecisos, são em número mais elevado também entre os mais jovens (até aos 24 anos) — são 18%. E, uma vez mais, também entre os que não assumem simpatias partidárias (16%). Já quanto a posicionamento ideológico, são mais os indecisos que se assumem ao centro do espectro político (16%) e os de esquerda (12%) do que os da direita (só 7% continuam sem sentido de voto definido) (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS e infografias de  SOFIA MIGUEL ROSA)

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