O PS sobe dois pontos, para 39%. O PSD desce dois pontos, para 25%. A
diferença entre os dois partidos aumenta, de outubro para cá, para 14 pontos —
é a maior registada pela sondagem realizada pelo ISCTE e ICS para o Expresso e
para a SIC desde início de setembro de 2019, um mês antes das eleições
legislativas. Os 25% são também o número mais baixo dos sociais-democratas
desde essa altura, depois de uma estabilização nos 27%, 28% nas intenções de
voto desde então.
Uma perda de dois pontos nos últimos dois meses não será estatisticamente significativa em si mesma, mas esta não é a única má notícia para os sociais-democratas nesta sondagem. É que a avaliação da atuação de Rui Rio também sofre uma quebra, neste caso a primeira desde junho de 2019. E é ainda mais significativa: numa escala de 0 a 10, Rio passa de 4,8 para 4,3, perdendo terreno para António Costa, que sobe dos 5,7 para 6 pontos na média das avaliações dos inquiridos — em plena pandemia e em plena crise económica.
Os comunistas, que foram essenciais para a aprovação do Orçamento do Estado, passam dos 6% para os 7%, Rui Rio, de resto, cai também entre os eleitores de direita — mesmo mantendo média positiva, passa de 5,8 para 5,5. E visto pelo mesmo eleitorado de direita, está agora tecnicamente empatado com Costa (que merece nota 5,4 neste segmento). De setembro para cá, houve apenas dois factos novos relevantes na vida política nacional: a difícil negociação do Orçamento para 2021 e as eleições para o governo regional dos Açores, onde o PSD (segundo partido mais votado) negociou uma coligação de Governo com CDS e Iniciativa Liberal — e um polémico acordo parlamentar com o Chega, para garantir uma maioria na Assembleia Regional. À direita, só este facto teve relevância. A direita, de resto, não tem aqui resultados animadores: se o Chega de André Ventura se mantém com 7% das intenções de voto (teve 1,3% nas legislativas), o CDS fica-se ainda pelos 2% (bem abaixo dos 4,2% que foram uma derrota nas eleições). Quanto ao Iniciativa Liberal, cai de 2% para 1%.
Toda junta, contas feitas, a direita só somaria 35% dos votos — ficando
a 4 pontos da intenção de voto dos socialistas. Mesmo com a subida do Chega,
estes quatro partidos ficariam longe, bastante longe, de poder negociar uma
maioria no Parlamento nacional.
E À ESQUERDA?
À esquerda, consolida-se a tendência de subida do PS — seis pontos de
fevereiro para cá, agora três acima do resultado nas legislativas. Mas nessa
subida os socialistas são acompanhados pela CDU: os comunistas, que foram
essenciais para a aprovação do Orçamento do Estado, passam dos 6% para os 7%.
Quanto ao BE, resiste nos 8%. O único partido que regista uma queda à esquerda
é o PAN, que cai dos 4% para os 2% — o seu resultado mais baixo do histórico
destas sondagens.
Se os à esquerda eleitores veem o BE como o partido que deveria ser
central nas negociações da antiga ‘geringonça’, o único sinal de desagrado com
o falhanço das negociações do Orçamento está na análise de popularidade dos
líderes. Enquanto António Costa sobe, Jerónimo de Sousa sobe também (de 3,6
para 3,8 valores). Já Catarina Martins segue em contramão, passando dos 4,6
para 4,4 pontos.
A líder bloquista está ainda a grande distância do secretário-geral do
PCP, mas tem nesta sondagem o seu ponto mais baixo do histórico. Mais significativa,
porém, será a sua popularidade junto do eleitorado de esquerda: se em setembro
passado Catarina Martins era a única líder — além de Costa — avaliada
positivamente por estes eleitores (5,5), a queda para 4,9 deixa-a, agora, em
território negativo.
UM GOVERNO A RECUPERAR
A subida quer do PS quer do próprio António Costa parece ser consonante
com a avaliação sobre o trabalho do Governo: depois da forte queda registada de
fevereiro para setembro (57% para 49% de opiniões positivas), o Executivo socialista
volta agora a terreno positivo (51%), contra os 31% que consideram o seu
desempenho mau e 11% muito mau.
A inversão de sentido acontece no momento em que os portugueses
consolidam a perceção de que a situação da economia virou 180 graus com o aparecimento
da pandemia e as suas consequências. De fevereiro para setembro, os que
consideram que a situação piorou escalaram de 18% para 79%, e estabilizaram
agora nos 80%. Essa perceção é semelhante entre eleitores do PS (80%) e do PSD
(86%), sendo simétrica entre eleitores de esquerda (83%) e de direita (85%). Ao
dobrar da esquina está 2021, um ano ainda de recuperação progressiva, de acordo
com as estimativas desta semana do Banco de Portugal. Mas as eleições
legislativas, se se cumprir o calendário normal, ainda vêm longe — em 2023 (Expresso, texto do jornalista DAVID DINIS e infografias de SOFIA MIGUEL
ROSA)
Sem comentários:
Enviar um comentário