O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho criticou hoje a postura de
"passa-culpas" que considera que caracteriza o atual Governo, assim
como os casos "lamentáveis de fuga às responsabilidades" e de
"ausência de humildade".
"Chega a ser chocante ver responsáveis políticos e governantes a
cederem ao autoelogio e ao desafio arrogante, quando não ao puro passa-culpas,
em vez de assumirem responsabilidades, tanto por fracassos, como por
verdadeiros escândalos que afetam a reputação externa do país e abalam a
confiança dos cidadãos nas suas instituições", considerou Pedro Passos
Coelhos.
O ex-governante e ex-líder do PSD discursava hoje no encerramento da
conferência "Globalização em português: Revoluções e continuidades
africanas", em Lisboa, no âmbito das comemorações dos 150 anos do
nascimento do empresário Alfredo da Silva, fundador do Grupo CUF (Companhia
União Fabril).
Passos Coelho criticou também as declarações, em 08 de dezembro, do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, que considerou que as políticas do ex-ministro da Educação, Nuno Crato (2011 -- 2015), são responsáveis pelos maus resultados dos alunos portugueses do 4.º ano no Trends in International Mathematics and Sciense Study (TIMMS).
O programa avalia as competências dos estudantes do ensino básico nas
áreas da matemática e das ciências.
Este é "um dos casos lastimáveis de fuga às responsabilidades e da
ausência de humildade para corrigir políticas que, manifestamente, se revelaram
desadequadas", atenta o ex-primeiro-ministro no discurso do encerramento
da conferência, a que a agência Lusa teve acesso.
"O facto de o atual governo ter preferido culpar o Governo que
chefiei, e que já terminou funções há mais de cinco anos, por estes resultados
recentemente divulgados e que incidem sobre o percurso escolar de alunos que
iniciaram os seus estudos já no âmbito das reformas introduzidas pela atual
equipa governativa, além do ridículo, apenas serve para sublinhar como o
populismo e o facilitismo podem animar o debate político", prosseguiu
Passos.
Esta postura do executivo liderada pelo socialista António Costa,
criticada pelo ex-primeiro-ministro, acaba "por desqualificar as políticas
públicas e por impor um ónus sobre as futuras gerações que enfraquece" o
país.
"É da nossa estrita responsabilidade não deixar as novas gerações
sozinhas nessa tarefa e nesse esforço, que será tanto maior quanto o peso do
legado de omissões que temos eticamente o dever de evitar", acrescentou o
social-democrata.
No plano europeu, Passos Coelho disse que Portugal, que é "um dos
países mais antigos da política de coesão", poderá ser "em breve, se
tudo continuar como até aqui, o que mais distante se apresentará de todos os
outros, incluindo os da coesão, e daqueles em que as desigualdades de
rendimento mais e apresentarão vincadas".
A solução, para o ex-governante, é olhar "para dentro" da
sociedade portuguesa, "mudando o que é preciso", nomeadamente as
"estruturas públicas e privadas".
"Conseguir, se assim o desejarmos, implantar regras estáveis e
confiáveis. Responsabilizar a sociedade civil e o Estado e cultivar um exemplo
de salvaguarda e de separação de interesses que possa incutir o desenvolvimento
do capital social e da confiança", completou.
A "internacionalização da economia" de Portugal, assim como a
atração de investimento externo e "de uma maior intensidade da inovação e
do conhecimento" não se fazem com uma "agenda externa de discursos de
fachada, desligada das transformações internas que devemos promover",
criticou Passos.
Esta agenda de mudança tem de estar "no coração" da política
externa e não pode "deixar de ser pautada e coordenada" pelo
"mais alto responsável que é o primeiro-ministro", mas,
"infelizmente, o país tem despendido demasiado tempo e desperdiçado
demasiado talento na `mise en scene`".
O país também tem de olhar para o "mundo global em língua
portuguesa, que tem andando tão arredado e distante das preocupações dos
poderes públicos, ainda para mais quando há situações que bem reclama uma outra
atitude de responsabilidade e solidariedade, como acontece perigosamente em
Moçambique".
O ex-líder dos sociais-democratas criticou a "passividade
portuguesa" que "não tem explicação" em relação aos sucessivos
episódios de violência perpetrada por jihadistas na região de Cabo Delgado
(Moçambique). (Lusa)
Sem comentários:
Enviar um comentário