domingo, março 22, 2020

Discussão sobre próximo orçamento da UE congelada

Pandemia parou o debate do orçamento dos 27 para 2021-27. Parlamento Europeu insiste num plano de contingência. A negociação do próximo orçamento da União Europeia (UE), que em fevereiro já estava atrasada e era prioritária, deixou de o ser em março. Com a pandemia, o braço de ferro em torno das verbas do próximo Quadro Financeiro Plurianual (QFP) entrou em pausa. O novo coronavírus parou a UE, colocou vários países em confinamento e, perante o cenário, pôr na mesma sala 27 líderes europeus é um risco acrescido que ninguém quer correr. A impossibilidade de se encontrarem fisicamente torna quase impossível um debate que por norma só se desbloqueia em longas cimeiras e muitos encontros bilaterais, mesmo que a última reunião não tenha dado em nada. O presidente do Conselho Europeu cancelou a cimeira marcada para a próxima semana em Bruxelas, adiando todos os temas da agenda. Charles Michel quer os líderes a falarem de novo por videoconferência na próxima quinta-feira, mas o único assunto será a covid-19.
O orçamento da UE em vigor mantém o mesmo prazo de validade: termina no último dia deste ano
Os técnicos da Comissão admitem que uma recessão económica em 2020 é muito provável, mas falta calcular a dimensão do estrago. A incerteza é grande e vai depender do tempo que demorar a controlar o vírus e o número de infetados. Segundo duas fontes, o impacto económico obrigará a rever a discussão do próximo orçamento da UE. Os parâmetros de base, como o crescimento ou a inflação, serão de tal maneira afetados que terão consequências. Se a última proposta em cima da mesa não agradou, agora tem de ser revista.
Comissão pressiona acordo
O número de mortes, o congestionamento dos hospitais e o impacto nas empresas obriga os governos a focarem-se numa nova prioridade. No entanto, o calendário não mudou, e o atual QFP continua a ter o mesmo prazo de validade: termina no último dia do ano. A posição da Comissão Europeia tem sido sempre a de que um acordo é necessário e quanto mais rápido melhor. Não mudou, pelo contrário. Para o diretor-geral do orçamento, o holandês Gert Jan Koopman, a situação mostra que nenhum país pode resolver o problema sozinho. “Não sabemos quanto tempo a crise do coronavírus vai durar, temos também uma crise migratória nas fronteiras, e isto evidencia a importância de fechar rapidamente o QFP”, disse na semana passada aos correspondentes em Bruxelas.
Várias questões estão em aberto. É preciso perceber se com a pandemia mudam também os argumentos dos chamados frugais — Holanda, Dinamarca, Suécia e Áustria —, que defendem que o orçamento comunitário para sete anos não deve ir além de 1% do Rendimento Nacional Bruto, implicando cortes na política de coesão e na agricultura.
A surpresa do coronavírus mostra também como os recursos europeus são limitados. O orçamento da UE tem o dinheiro contado e praticamente todo atribuído. Basta olhar para os 37 mil milhões de euros que a Comissão mobilizou agora para ajudar à liquidez rápida dos países. Não é dinheiro novo, é dinheiro dos fundos estruturais que passa a ser canalizado para as necessidades imediatas dos países: apoio ao sistema de saúde, empresas e trabalhadores.
Face à falta de acordo e ao tempo cada vez mais curto até 31 de dezembro, o Parlamento Europeu insiste num plano de contingência. Num relatório divulgado esta semana, os eurodeputados que acompanham as negociações do QFP pedem o prolongamento do atual até à entrada em vigor do seguinte. “Não podemos correr o risco de, a 1 de janeiro de 2021, os fundos europeus não estarem a circular”, diz ao Expresso a eurodeputada Margarida Marques. A socialista, responsável pelo documento, defende que “com o impacto da crise do coronavírus na economia, no investimento e no emprego, [um plano de contingência] torna-se ainda mais urgente”. O orçamento plurianual da UE é negociado pelos 27 chefes de Estado e de Governo, mas só avança se tiver a aprovação do Parlamento Europeu (SUSANA FREXES, Expresso)

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