Escreve a jornalista do Público ROMANA
BORJA-SANTOS que “os cidadãos europeus não confiam na União Europeia nem nas
suas principais instituições. Portugal está entre os mais desconfiados e
desconfiança ainda é maior em relação ao Governo e Parlamento nacional. Apesar
de existir um maior optimismo sobre a evolução do país, Portugal ainda é o
segundo Estado-membro da União Europeia (UE) onde mais pessoas acham que a
situação económica está pior, com 45% dos cidadãos a escolherem esta opção,
contra uma média de 25% na Europa a 28. Muitos dos portugueses inquiridos num
Eurobarómetro especial, feito a propósito das eleições europeias, acreditam que
o pior ainda está para vir, nomeadamente na área com que assumiram estar mais
preocupados: o desemprego. O estudo de opinião, que contou com quase 28 mil
participantes, 1025 dos quais portugueses, conduzido em Março pelo organismo de
estatísticas da UE, para assinalar as eleições de 25 de Maio, mostra que, em
geral, os Estados-membros estão mais confiantes na retoma económica, com as
pessoas a dizerem-se mais optimistas em relação à economia e áreas como o
desemprego. Regra geral, Portugal acompanha a tendência europeia, com mais
opiniões positivas sobre o futuro do país e da Europa do que no trabalho
realizado no Outono. Porém, a melhoria não foi suficiente para que
ultrapassasse outros Estados. Ao todo, 45% dos portugueses respondem que a
situação económica do país está pior, uma queda de 12 pontos percentuais, mas que
mesmo assim mantém o país como o segundo mais negativo, logo a seguir à Grécia.
Houve, ainda, 16% de inquiridos a responderem que a situação portuguesa está
melhor (mais 5% do que no estudo anterior), porém o valor é o segundo mais
baixo da UE, depois da República Checa e empatado com a Grécia e Eslovénia. Só
3% dos portugueses dizem que a situação actual do país é totalmente boa, contra
33% na UE. No campo específico do desemprego, 34% dos inquiridos em Portugal
dizem que o impacto da crise no mundo do trabalho já atingiu o pico máximo
(mais nove pontos percentuais do que no Outono), quando na UE o valor é de 44%
(mais quatro pontos). Pelo contrário, 59% dos portugueses dizem que o pior
ainda está para vir (menos oito pontos), contra 47% da média europeia (menos
três pontos).
Um país de insatisfeitos
Mesmo em termos de vida quotidiana, só
2% dos portugueses estão "muito satisfeitos" com a vida e 36% tendem
a estar "satisfeitos", quando a média europeia é de 21% e 24%,
respectivamente. Portugal é, assim, o país com menos gente "muito
satisfeita", seguido da Bulgária e Itália. Quanto a pessoas
"satisfeitas", só a Bulgária teve menos gente a dar esta resposta. A
Dinamarca é o país onde mais gente disse estar "muito satisfeita" (70%).
Na área da qualidade de vida, nenhum português respondeu que era "muito
boa" e só 17% disseram que era "boa". Houve ainda 60% dos
inquiridos a dizer que tendia a ser "má" e 23% a dizer que era
"mesmo má". Neste último ponto, só na Bulgária, Grécia, Croácia,
Itália, Roménia e Eslovénia houve mais gente a escolher a resposta “má”. Quando
questionados sobre os maiores desafios que o país enfrenta no momento, 65% dos
portugueses identificam o desemprego à cabeça, tal como 49% na média europeia.
Porém, quando a pergunta é sobre a vida pessoal dos inquiridos, a opção mais
escolhida é a inflação e a escalada de preços, com 52% dos portugueses e 38%
dos europeus a darem ênfase a esta área, surgindo o desemprego em segundo lugar
com 30% dos portugueses a referirem-no e 21% em termos médios europeus. Já
sobre os desafios europeus, as respostas voltam a trocar o assunto a ocupar o
topo da tabela, que neste caso é a situação económica para 49% dos portugueses
e para 40% dos europeus.
Europeus não confiam na EU
Quanto à opinião sobre as instituições,
os europeus não confiam na União Europeia nem nas suas principais instituições:
nenhuma escapa, nem o Parlamento, nem a Comissão nem o Banco Central Europeu.
Segundo a sondagem, 59% dos europeus não confiam na UE e só 32% dizem confiar.
É na Estónia, que aderiu em 2004, e na Roménia, que chegou à UE em 2007, que se
encontram os cidadãos mais confiantes (58%), enquanto gregos (81%) e cipriotas
(74%) são os que mais desconfiam da associação de países. Portugal (70%) e
Espanha (67%), que tal como a Grécia foram duramente tocados pela crise, vêm
logo a seguir. O Eurobarómetro compara, ainda, a confiança na UE com a
confiança dos cidadãos nos seus Parlamento e Governo nacional. No caso
português, só 13% confiam no Parlamento nacional, contra 27% na média europeia
e só 14% confiam no Governo, contra 26% na UE. Olhando para os resultados
portugueses, há uma subida de três pontos percentuais na confiança na UE e uma
quebra de um ponto na confiança no Governo e de dois pontos no que diz respeito
à Assembleia da República. Porém, nem nos maiores países europeus, tidos como
aqueles que mais poder e influência têm nas decisões tomadas pelo todo, a
confiança supera a desconfiança. Em França só 28% dos cidadãos confiam nas
instituições europeias; na Alemanha, apenas 31%. Não há grandes diferenças
entre instituições: 54% do conjunto dos cidadãos da UE não confiam no BCE, 53%
não acreditam no Parlamento e 51% desconfiam da Comissão presidida por Durão
Barroso. Apesar destes números, a imagem da União Europeia mantém um saldo
ligeiramente positivo – 34% dos europeus vêem a associação de países com bons
olhos; 26% dizem ter uma imagem negativa da UE. No que diz respeito à UE e sua
influência na vida do país, os portugueses são mais descrentes do que a média
europeia com 40% a dizerem que percebem o funcionamento da comunidade (contra
51% na UE) e com 41% a afirmarem que vêem a globalização como uma oportunidade
de crescimento (contra 52% na UE). Há 37% de portugueses a defender que o país
estaria melhor se não pertencesse à UE, quando a média europeia se fica pelos
32%. Mesmo assim, 63% dos portugueses admitem que a "facilidade de
circulação" é uma das mais-valias da comunidade, seguida da
"paz", que foi referida por 37% dos inquiridos, e do "euro",
apontado por 24% das pessoas, em empate com o "programa Erasmus". Aliás,
para 44% dos europeus, a liberdade de viajar, estudar e trabalhar em todos os
Estados-membros constitui o principal atractivo da UE. Sinal da crise, 12% dos
europeus identificam a UE com prosperidade económica, mas são 16% os que a
identificam com desemprego. E enquanto a UE representa a paz e a democracia
para 25% e 19% dos europeus, há 22% e 25% dos cidadãos europeus que associam a
União à burocracia e ao desperdício de dinheiro”