quinta-feira, maio 29, 2014

Apenas 20% dos eleitores votaram nos partidos colados à troika

Diz o Jornal I que "um dos sinais que saltou logo à vista na noite eleitoral foi a brutal descida dos três partidos comprometidos com a troika, PSD, PS e CDS. Uma análise mais fria dos números torna evidente que nenhum deles ficou bem na fotografia. Se tivermos em conta o número total de eleitores, a aliança entre o PSD e o CDS conseguiu apenas o voto de 9,4% dos portugueses inscritos nos cadernos eleitorais. Se olharmos para o PS, a situação não melhora muito. A "vitória clara" festejada por Seguro na noite eleitoral foi conseguida com o voto de apenas 10,7% dos eleitores. Ou seja, o PSD e o CDS juntos tiveram menos de 1 milhão de votos e o PS ultrapassou por pouco esta fasquia. A culpa é também da elevada abstenção e da subida dos votos brancos e nulos. Ao todo, 73,6% dos portugueses optaram por não votar em nenhum partido político. 66% preferiram abster-se, mas quase 8% deram-se ao trabalho de sair de casa e ir colocar na urna o boletim em branco ou com qualquer referência que o anulou - o que representa 6,6 milhões de portugueses. A abstenção foi a maior de sempre, mas nem sempre foi assim. Na primeira eleição para o Parlamento Europeu, em 1987, a maioria dos portugueses foi votar, ou seja, mais de 72%. E o partido vencedor, o PSD de Cavaco Silva, conseguiu o voto de mais de dois milhões de pessoas. O politólogo Carlos Jalali alerta, no entanto, que esta não é a "abstenção real", já que algumas pessoas que já morreram ou emigraram continuam a constar dos cadernos eleitorais. "Está na hora de se limpar os cadernos eleitorais. Podemos estar a falar de uma diferença de 10% se contarmos as pessoas que faleceram ou que emigraram e teriam de alterar o local de recenseamento para votar." Seja como for, "isso não altera a avaliação de que os portugueses estão insatisfeitos com a democracia e, se excluirmos o PCP, há uma fuga de votos dos grandes partidos", acrescenta Jalali. Ao todo, os pequenos partidos, dos quais a estrela da noite foi o MPT de Marinho e Pinto, conseguiram quase 540 mil votos, com mais de 16%, enquanto há cinco anos os partidos de menor dimensão tinham captado pouco mais de 193 mil eleitores, correspondentes a cerca de 5% dos votos. Foi um sinal claro do descontentamento com as duras medidas de austeridade que não deixou nenhum dos partidos que dialogaram com a troika de fora. No fim, todos pagaram a factura e os três partidos somados não atingiram os 60%. Se recuarmos a 2004, quando a aliança PSD/CDS liderada por Durão Barroso governava o país, PSD, PS e CDS ultrapassaram os 77% dos votos nas europeias - uma diferença que vai obrigar todos os grandes partidos a reflectir"