quinta-feira, novembro 08, 2012

Em 2013 o sector público terá de pagar 9,7 mil milhões de euros em juros

Segundo a jornalista do Jornal I, Ana Suspiro, “a crise da dívida soberana vai continuar a ter um impacto negativo nas contas do Estado e no futuro da economia portuguesa para os próximos anos. Em 2013 o sector público terá de pagar 9,7 mil milhões de euros em juros, um que valor que duplicou desde 2009 e corresponderá dentro de menos de dois anos a 5,2% do produto interno bruto (PIB). Isto significa que Portugal irá pagar mais em juros do que o governo gastou com o Ministério da Saúde em 2010 (9,8 mil milhões). Em 2009, os juros equivaliam a 2,8% do PIB. As contas somam o endividamento das empresas públicas e encargos com parcerias público-privadas (PPP) à dívida pública directa. O estudo do BPI, actualizado em Fevereiro deste ano, já inclui o incremento da pressão sobre o financiamento da economia portuguesa nos últimos leilões de dívida. "Achamos que as perspectivas de descida do prémio de risco vão ser mais lentas. Subimos a taxa de juro média da dívida pública e mantivemo-la alta mais tempo. É significativo", explica ao i Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI. De acordo com este documento, a taxa implícita da dívida pública portuguesa estará nos 5% em 2013, uma subida em relação aos 3,9% com que terminou 2010. Apesar de considerar a subida preocupante, a economista considera que os juros que Portugal tem pago nos leilões "podem ser geridos a dois ou três anos", embora avise que isso obrigará Portugal a crescer muito mais depressa. O aumento do valor pago em juros tem por base a evolução do endividamento português. É muito mais pesado pagar 7% de juros por uma dívida de 5 mil milhões do que pagar o mesmo juro por uma dívida de 10 mil milhões. Nos próximos anos, apesar de um grande esforço de austeridade, o peso da dívida pública no PIB continuará a aumentar. No final de 2013, ano em que termina o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), o endividamento do sector público representará 107,6% do PIB português, num total de quase 200 mil milhões de euros. Em 2010 estava nos 102,5%. "A dívida não tem um comportamento sustentável. A desconfiança dos investidores tem origem aqui", afirma Cristina Casalinho. Além da dívida do Estado e das empresas, esta avaliação inclui os compromissos das autarquias e das regiões autónomas. "O que vimos num passado recente é que o Estado acaba por ser chamado a responder por estas dívidas. Em princípio o Estado deverá ter de pagar", lembra a economista. Aliás, parte relevante destes empréstimos, sobretudo no sector empresarial, beneficia de garantias do Estado. Se houve incumprimento, a dívida pública assume. O estudo apresenta três cenários de evolução das contas públicas. O cenário B - que prevê a manutenção de receitas e despesas em percentagem do PIB nos níveis enunciados no Relatório de Orientação de Política Orçamental de 2010 - estima que a dívida do sector público se mantenha acima dos 100% do PIB, até depois de 2020. Existe ainda uma quarta avaliação, em que é apenas considerado o endividamento do Estado, o critério usado em contabilidade nacional e que serve de referência internacional. Nesta análise, o peso da dívida é obviamente menor, representando apenas 85% do PIB em 2013. Quanto aos juros da dívida são também mais baixos. Dentro de dois anos, Portugal pagará 8 mil milhões de euros em juros, o que representa 4,32% do PIB. Ainda assim, é um salto de 60% face ao valor pago em 2010 e de 25% face aos juros previstos para este ano. A trajectória ascendente da dívida pública só deverá começar a travar a partir de 2012, segundo as contas do governo. Para isso é preciso que avance o programa de privatizações, com que o Estado quer encaixar 6 mil milhões de euros até 2013. Todos os cenários supõem que essa meta será alcançada, mas um ano depois só houve uma operação, a Galp - as condições adversas de mercado obrigaram a adiar o BPN e a EDP. Cristina Casalinho admite ter "algumas dúvidas" de que seja possível alcançar o objectivo”.