Eu não tenho dúvidas que a candidatura de Paulo Cafofo à liderança do PS-Madeira, e a sua mais que certa eleição a 2 de Dezembro, representa um desafio duplo, acrescido, direccionado em dois sentidos diferentes:
- em primeiro lugar obriga a coligação regional no poder - a geringonça PSD-CDS-PAN - a ter juízo, a resolver interna e rapidamente os seus problemas e divergências, quando surgirem, para garantir a estabilidade política para cumprirem a Legislatura regional de 4 anos. Porque para o PSD, CDS e PAN, por razões diferentes, enfrentar nas urnas um PS liderado por Sérgio Gonçalves, com o devido respeito pelo ainda líder do PS-Madeira, e tenho consideração por ele, que considero uma pessoa séria, embora sem o perfil político que os socialistas eventualmente precisavam, não tem nada a ver com enfrentar um PS-Madeira liderado por Paulo Cafofo que falhou por poucos votos, em 2019, a vitória socialista nas regionais;
- em segundo lugar, obriga a esquerda a repensar muito seriamente tudo o que "gira" a sua volta. Falo concretamente da JPP, do PCP, do Bloco e do próprio PAN que nas regionais de 2019 foram quase "engolidos" pela dinâmica socialista, da qual resultou a perda de votos e de mandatos, incluindo o facto do Bloco até ter sido afastado da Assembleia Legislativa. Uma coisa é certa: a eleição de Cafofo em próximas eleições regionais, representa uma potencial ameaça eleitoral a esses partidos, sobretudo na eventual perda de apoio eleitoral e na perda dos chamados eleitores flutuantes, os eleitores que votam diferentemente, de eleição em eleição, sem compromissos fixos com nenhum partido.
Lembro que nas regionais de 2019 Paulo Cafofo foi candidato à liderança do Governo Regional da Madeira, mesmo sem ser o líder do PS regional, função que era desempenhada por Emanuel Câmara, presidente da edilidade do Porto Moniz, que concorreu ao cargo garantindo que Cafofo era o seu candidato às regionais de 2019.
Em Janeiro de 2018, Câmara ganhou as internas, e num universo de 1.952 militantes em condições de exercerem o seu direito de voto, dos 1.545 votantes, 877 escolheram Emanuel Câmara e 668 apoiaram a candidatura de Carlos Pereira. Pereira tinha sido eleito líder dos socialistas em internas realizadas em Maio de 2015, tendo obtido 701 votos num universo de 906 votantes
Em Julho de 2020 o então deputado Paulo Cafofo, antigo presidente da Câmara Municipal do Funchal e candidato do Partido Socialista nas eleições legislativas regionais de 2019, conquistou a liderança do PS-Madeira, com 1.431 votos, tendo sido o presidente eleito com a maior votação da história do partido. Já Sérgio Gonçalves foi eleito em Fevereiro de 2022 obtendo 1.095 votos dos 1.630 militantes com capacidade eleitoral.
Recordo os resultados eleitorais obtidos por candidaturas lideradas por Paulo Cafofo, porque muitas vezes a memória colectiva perde-se facilmente nomeadamente nas elites políticas. E preservação da memória muitas vezes é a nossa melhor defesa:
Autárquicas 2013 (Funchal)
- PS-BE-PND-MPT-PTP-PAN, 21.102 votos, 39,2%, 5 mandatos (maioria relativa)
- PSD, 17.450 votos, 32,4% (candidatura liderada por (Bruno Pereira), 4 mandatos
Autárquicas de 2017 (Funchal)
- PS-BE-PND-MPT-PTP-PAN, 21.102 votos, 39,2%, 6 mandatos (maioria absoluta)
- PSD, 17.971 votos, 32,4% (candidatura liderada por Bruno Pereira), 4 mandatos
Regionais de 2019
- PS, 51.207 votos (melhor votação de sempre), 35,8%, 19 mandatos (Cafofo 1º candidato e Emanuel Câmara 2º candidato)
- PSD, 56.448 votos, 39,4% (candidatura liderada por Miguel Albuquerque), 21 mandatos
Legislativas nacionais de 2022
- PSD-CDS, 50.634 votos, 39,8%, 3 deputados
- PS, 40.004 votos, 31,5%, 3 deputados
Duas observações complementares:
a primeira tem a ver com o facto de não saber se Paulo Cafofo vai querer resolver, como devia, o diferendo que parece existir hoje com Emanuel Câmara, se vai promover a reaproximação pessoal e política com o autarca que, sem ofensa, serviu de "barriga de aluguer" à sua ascensão na política regional, fora do espaço autárquico, e no PS-Madeira. Ricardo Franco, autarca de Machico, poderá ser determinante neste desfecho. Lembro, de novo, que Paulo Cafofo foi lançado para a ribalta autárquica, em 2013, por Vítor Freitas, na altura líder do PS madeirense. Uma vitória socialista no Funchal que, lembro-me bem, gelou o PSD-Madeira. A memória é algo que fica bem a todos;
a segunda nota tem a ver com Carlos Pereira, que obviamente deixou de ter condições políticas de manter-se em Lisboa (não pelo ataque feito agora a Cafofo, mas pelas polémicas que rodearam a sua passagem pela Assembleia da República) e de obter apoio de Cafofo seja para o que for. Não há volta a dar. Acho que deixou de haver confiança mútua e ponto final! Acredito que Pereira nunca perdoou à dupla Cafofo-Câmara a derrota sofrida que o afastou da liderança do PS-Madeira. A minha dúvida é saber se vai assumir a liderança da oposição interna a Cafofo - e como - e se vai sequer marcar presença no Congresso Regional depois de praticamente não ter sido visto na campanha das regionais, salvo no dia em que Costa veio participar numa arruada seguida de comício em Machico e regressou a Lisboa horas depois.
Finalmente não me repugna nada que Cafofo seja candidato a Lisboa nas legislativas, mesmo correndo o risco - pelo desgaste que os socialistas vão sofrer no país - porque não tendo sido candidato a deputado regional o futuro líder do PS-Madeira , precisará, depois de eleito de um espaço político que lhe dê protagonismo mediático e algum espaço de manobra acrescido, sendo previsível que mantendo-se o calendário político regional até 2027, suspenda depois o mandato em Lisboa para se dedicar às regionais desse ano (LFM)
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