terça-feira, novembro 28, 2023

Sondagem: sem maioria, coligações são cenário preferido mesmo que com adversários ideológicos

A sondagem avalia quais as preferências dos inquiridos perante um cenário em que o partido mais votado não tem maioria para governar. São poucos os que querem ver o vencedor a governar sozinho. O partido que vencer as eleições legislativas de 10 de Março deve procurar apoio à esquerda ou à direita, se não tiver maioria absoluta, mesmo que esse suporte venha do lado oposto do hemiciclo. A sondagem feita pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO e RTP mostra assim que a fatia de leão dos inquiridos defende entendimentos que permitam governar, em vez de o partido vencedor governar sozinho. Se as eleições fossem hoje, o PSD seria o partido mais votado, com 29% dos votos, e o PS seria o segundo partido com maior percentagem de votos, com 28%. Uma diferença curta e que não dá maioria absoluta a nenhum dos dois maiores partidos. O inquérito previa esta possibilidade e quis questionar os inquiridos sobre as coligações pós-eleitorais.

Olhando em primeiro lugar para o partido que teve maior percentagem de votos, os inquiridos foram questionados: “Se o PSD ganhar as próximas eleições legislativas sem maioria absoluta, o que será melhor para o país?” Setenta por cento dos inquiridos consideram que deve haver um governo apoiado pelo PSD. No entanto, dividem-se sobre a que lado do hemiciclo o partido de Luís Montenegro deve ir buscar apoios. Naturalmente, 42% (a maior percentagem) consideram que o Governo deve ser apoiado pelo PSD e “um ou mais partidos à sua direita”.

Mas 28% admitem que o executivo possa ser apoiado pelo PSD e por “um ou mais partidos à sua esquerda”. Só 10% responderam que, no cenário de o PSD ser o mais votado mas sem maioria absoluta, Portugal deve ter um Governo “apoiado apenas pelo PSD” – ou seja, são mais os que admitem o apoio da esquerda ao PSD do que aqueles que admitem o PSD sozinho, sem maioria.


No cenário de ser o PS o mais votado, as conclusões não são muito diferentes, embora as percentagens sejam diferentes. Quase 60% dos inquiridos (59% mais precisamente) entendem que é melhor para o país um Governo apoiado pelo PS com apoio de um ou de outro lado do hemiciclo que garanta a maioria para governar.

Naturalmente, também neste caso, a maior fatia (32%) considera que o apoio deve vir de “um ou mais partidos à sua esquerda”. Mas 27% acreditam que o melhor para o país, neste cenário, deve ser um governo apoiado pelo PS e “um ou mais partidos à sua direita”. E, também aqui, os inquiridos mostram que preferem governos apoiados pelo lado oposto do hemiciclo do que governos apoiados apenas pelo partido mais votado. No caso de ser o PS, apenas 7% dos inquiridos preferem a opção “governo apoiado apenas pelo PS”.

O tema das coligações pós-eleitorais tem marcado o actual momento político, tendo em conta que as sondagens não têm apontado para uma maioria absoluta e que já no passado uma solução pós-eleitoral deitou por terra a regra de ser o partido mais votado a governar.

Geringonça sem o vencedor?

Outra das conclusões desta sondagem é que os inquiridos fazem uma avaliação diferente quanto à possibilidade de o país ter governos que excluem o partido mais votado, conforme se o partido vencedor é o PSD ou o PS. No primeiro caso, ou seja, se o mais votado for o PSD, apenas 7% acham que o melhor para o país seria “um governo sem PSD, apoiado por partidos à sua esquerda”. Este cenário já se verificou, em 2015, quando Pedro Passos Coelho saiu vencedor das eleições, mas António Costa fez um entendimento à esquerda que permitiu um governo do PS apoiado pelo PCP, BE e Verdes.

Já se o PS vencer as eleições sem maioria, 22% dos inquiridos defendem que o melhor seria um “governo sem a presença do PS, isto é um governo apoiado por partidos à sua direita”. Isso parece indicar que os eleitores podem estar mais disponíveis para uma “geringonça” à direita do que para uma “geringonça” à esquerda.

Ficha técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e PÚBLICO entre os dias 15 e 24 de Novembro de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram seleccionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efectuadas por telefone. Os inquiridos foram informados do objectivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1102 inquéritos válidos, sendo 41 dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 31% da região Norte, 20% do Centro, 33% da Área Metropolitana de Lisboa, 7% do Alentejo, 5% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral. A taxa de resposta foi de 31%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1102 inquiridos é de 3% com um nível de confiança de 95% (Publico, texto da jornalista Marta Moitinho Oliveira)

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