sexta-feira, novembro 17, 2023

De Governo minoritário a gerigonça 2.0: Marcelo tem cinco cenários em cima da mesa após as eleições de março


A noite eleitoral de 10 de março promete ser um ‘quebra-cabeças’ para Marcelo Rebelo de Sousa: de acordo com os resultados da primeira sondagem feita pela ‘CNN Portugal’ após a queda do Governo, PS e PSD estão em empate técnico, um cenário que, a repetir-se, vai colocar o Presidente perante um jogo de forças complexo para garantir uma legislatura para quatro anos. Há, pois, cinco cenários em cima da mesa. Quais?

PS ganha com Pedro Nuno Santos e reedita geringonça

O candidato mais provável do PS às eleições legislativas não escondeu, na apresentação da sua candidatura à liderança socialista, a sua qualidade de facilitador de negociações à esquerda durante a geringonça, que poderá voltar a surgir se o PS não renovar a maioria absoluta. “Acredito que Marcelo, ouvindo os partidos, seria mais favorável a um Governo à esquerda, porque a geringonça já foi uma realidade. No seu discurso, Pedro Nuno Santos lembrou que foi destruída essa barreira da esquerda. A geringonça 2.0 pode realizar-se porque se rasgou um tabu: os partidos eurocéticos não puseram em causa as metas de Portugal no contexto da União Europeia”, explicou à ‘CNN Portugal’ o politólogo João Pacheco. Têm a palavra a líder bloquista, Mariana Mortágua, e o comunista Paulo Raimundo, sendo que Marcelo vai exigir garantias, à semelhança do que fez Cavaco Silva em 2015, com um acordo formal entre partidos. “Acho que era a solução neste momento, até porque a segunda vez sem acordo escrito não funcionou [com o chumbo de BE e PCP ao Orçamento do Estado, que ditou a queda do segundo Governo de António Costa]”, considerou a politóloga Paula do Espírito Santo. Por último, convém não esquecer o PAN e o Livre nestas contas.

PS de José Luís Carneiro tenta bloco central

O candidato moderado à liderança do PS não descartou um cenário de bloco central quando apresentou a sua candidatura, no qual admitiu viabilizar um Governo minoritário do PSD para evitar que o Chega alcançasse o poder. No entanto, de acordo com os politólogos contactados pela estação televisiva, é um cenário com poucas probabilidades. “O bloco central não se irá verificar nem com José Luís Carneiro nem com Pedro Nuno Santos. José Luís Carneiro e Luís Montenegro [presidente do PSD] têm uma semelhança: não estão prontos para ganhar eleições. E não estão interessados num bloco central”, garantiu João Pacheco ao canal de televisão. Paula do Espírito Santo defendeu que a convergência num bloco central “passaria pela proximidade das lideranças e o traçar de metas no plano económico”, algo que seria mais prejudicial para Pedro Nuno Santos, mais alinhado com a esquerda.

PSD tenta gerigonça com partidos à direita

Um cenário que tem uma grande barreira nas próximas legislativas: a linha vermelha que Luís Montenegro colocou em redor do Chega. Os politólogos concordam que uma aliança com a Iniciativa Liberal e CDS-PP deverá ser sempre insuficiente para assegurar uma maioria parlamentar. Ou seja, a solução teria de contar com o Chega. “Se o Chega der apoio parlamentar, acho difícil o Presidente não dar vazão a isso”, indicou Bruno Gonçalves Bernardes. André Ventura já reconheceu que Marcelo Rebelo de Sousa lhe confidenciou que não se iria opor a um Governo com membros do Chega. Mas seria um cenário que implicaria uma mudança de 180 graus de Luís Montenegro. O apoio parlamentar do Chega ao PSD – com a garantias de abstenção ou aprovação nos Orçamentos do Estado – seria o caminho mais direto para uma solução à direita. A dúvida é se o Chega fará parte do Governo. “Vai depender muito da expressão do Chega. Se o PSD ficar excessivamente dependente do Chega, o grau de chantagem pode ser maior. O que faria o Presidente da República colocar de lado essa possibilidade”, sublinhou João Pacheco.

PSD tenta aproximar-se do PS

“O cenário ideal para Montenegro era que José Luís Carneiro fosse o secretário-geral do PS e reafirmasse o que disse na apresentação da candidatura”, frisou José Filipe Pinto. Seria um garante de estabilidade com dois possíveis impactos. Primeiro, junto dos eleitores, em especial ao centro, que poderiam deslocar-se para o voto no PSD. Depois, para Marcelo, que veria nesse compromisso condições para que Montenegro governasse. Este é um cenário só possível, de acordo com Paula do Espírito Santo, com José Luís Carneiro. “É sempre uma solução de recurso, contra um suposto mal político maior. José Luís Carneiro seria a figura a permitir essa viabilização de um acordo com o PS, para evitar o mal maior que é a força do Chega”, referiu.

Governo minoritário

Este é um cenário que os politólogos não descartam embora garantam ser de difícil governabilidade e acarreta riscos reputacionais a Marcelo Rebelo de Sousa. Já aconteceu no passado: seja PS ou PSD a vencer com maioria relativa, o Presidente entregaria o Governo ao partido mais votada. No entanto, este cenário obrigaria a constantes negociações à esquerda e à direita para permitir a viabilização do Orçamento do Estado todos os anos (Executive Digest)

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