A dívida portuguesa de longo prazo tem, finalmente, uma maioria confortável de notações de rating A, depois de a agência Moody’s, na semana passada, ter subido, de surpresa, a classificação portuguesa para A3 (o equivalente a A- nas outras agências), tanto mais que a decisão foi tomada no meio de uma crise política grave. Há um efeito reputacional imediato: “Os investidores confiarão mais na dívida portuguesa, porque uma agência de referência como a Moody’s diz que é mais segura”, refere-nos David Brito, diretor-geral em Portugal da plataforma internacional de gestão de risco Ebury.
Com a melhoria da notação decidida pela Moody’s, a dívida portuguesa passa a ter quatro classificações no patamar de rating A (ver tabela). “Falta, apenas, a Standard & Poor’s (S&P) para fazer o pleno no rating A”, diz David Brito. A S&P ainda classifica a dívida portuguesa em BBB+. Até final do ano não está prevista mais nenhuma decisão de agências, e o calendário para 2024 ainda não é conhecido. O leque de notações atuais já equilibrou a situação com os ratings para a dívida espanhola (ver tabela).
MAIS E NOVOS INVESTIDORES EM POTÊNCIA
O ‘clube’ do rating A — que tem três escalões, A+, A e A- — é já considerado de grau médio elevado para investir. A consequência é que “há mais clientes potenciais para a venda das obrigações portuguesas por parte dos investidores que optam por não investir abaixo de um determinado rating”, acrescenta o responsável da Ebury.
Em termos concretos, há uma alteração na procura: “A dívida passa a estar cada vez mais sob o radar dos investidores, dos fundos e dos gestores de dívida em grau de investimento, deixando para trás os investidores em yields elevadas”, refere, por seu lado, Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. “Em casos particulares, pode ajudar a dívida portuguesa a entrar em alguns fundos de investimento. A Moody’s é a segunda agência entre as três mais importantes [juntamente com a S&P e a Fitch]”, acrescenta Filipe Garcia, presidente da consultora Informação de Mercados Financeiros.
O teste de mercado para as obrigações portuguesas, depois desta melhoria de notação, ainda não tem data marcada pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), que não anunciou, até agora, novos leilões de títulos. No entanto, o país ainda tem por colocar €800 milhões em dívida de médio e longo prazo e €1000 milhões em termos líquidos em Bilhetes do Tesouro (divida de curto prazo).
O primeiro impacto positivo foi a subida de notação, esta semana, pela Moody’s do rating dos depósitos a prazo de seis bancos e da empresa pública Infraestruturas de Portugal. Dois dos bancos, Novo Banco e Montepio, saíram de notações de ‘lixo financeiro’ para o patamar de triplo B. A CGD (banco público), o BCP, o BPI e o Santander, de cor espanhola, subiram para o patamar A, com estes dois últimos mais bem classificados (já com A2, equivalente a A), melhor do que a dívida portuguesa.
Filipe Garcia refere, ainda, que uma melhoria de rating na dívida nacional tem, logo, “efeitos na globalidade dos agentes económicos portugueses, já que o país é percecionado como menos arriscado, o que tem de imediato impacto nos modelos de crédito e de avaliação, bem como em outras análises comparativas”.
Garcia considera, contudo, que o grande ‘salto’ foi a saída da dívida portuguesa da classificação de ‘lixo financeiro’, o que aconteceu em 2017 e 2018 por parte da S&P, Scope (agência europeia), Fitch e Moody’s (esta foi a última a graduar Portugal, já em outubro de 2018).
Espanha: Sánchez não assustou os mercados
Pedro Sánchez, líder do PSOE (socialista), o segundo partido mais votado nas eleições legislativas de 23 de julho, conseguiu, pela terceira vez, ser presidente do Governo espanhol, sem que o mercado da dívida e a Bolsa madrilena se tenham assustado. Pelo contrário, o novo Governo de coligação entre o PSOE e o Somar (esquerda do PSOE), apoiado por uma maioria absoluta no Congresso de Deputados, graças à negociação com os partidos nacionalistas e independentistas, passou o teste. O principal índice bolsista, o Ibex 35, registou ganhos de 4,9% durante seis sessões consecutivas entre 13 e 20 de novembro e estava a negociar em terreno positivo na quarta-feira, à hora de encerramento desta edição do caderno de Economia. No mercado da dívida, os juros a 10 anos subiram a um pico de 3,94% depois da segunda derrota no Congresso da tentativa de investidura por parte de Alberto Feijóo (líder do PP, de direita), mas depois caiu para 3,9% no dia da investidura de Sánchez e para 3,5% esta quarta-feira (Expresso, texto do jornalista JORGE NASCIMENTO RODRIGUES)
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