quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Economia portuguesa cai muito mais do que no pior ano da troika (mas não foi tão mau como se esperava)


O Produto Interno Bruto recuou 7,6% em 2020, com a pandemia a penalizar em força a atividade económica. É a maior queda anual em democracia, bem mais severa do que a contração de 4,1% sofrida em 2012, o pior registo até agora. Mas, os números até são bem melhores do que previam os economistas É, de longe, a maior queda já sofrida pela economia portuguesa em democracia. Em 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 7,6%, segundo a estimativa rápida preliminar avançada esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Com a pandemia a cobrar um preço elevado em termos sociais e, também, ao nível da atividade económica - a economia sofreu um trambolhão bem mais expressivo do que em 2012, o pior registo até agora. Nesse ano, em pleno resgate internacional a Portugal, e com a troika no país, o PIB recuou 4,1%. Um número que agora até parece quase modesto, apesar de na altura ter estado associado a uma grande dose de austeridade e sacrifícios.

Apesar da queda do PIB ter sido mais expressiva do que em 2012, há uma grande diferença entre esta crise e a anterior. É que, segundo todas as projeções, esta será mais curta, com a campanha de vacinação a conduzir a uma melhoria da situação sanitária e, logo, ao retomar da atividade em níveis mais elevados.

Segundo o Banco de Portugal, a economia portuguesa deve regressar ao patamar de 2019 em 2022, ou seja, três anos depois. Há, contudo, projeções mais negativas, caso do NECEP da Catolica Lisbon School of Business & Economics, que aponta apenas para 2024, o que significa que serão precisos cinco anos para voltar a atingir o patamar de 2019.

Ainda assim, é um período bem mais curto do que na crise da dívida soberana. Com o resgate a Portugal, em 2011, foram precisos sete anos para regressar ao nível de 2010, o ano anterior ao pedido de ajuda internacional. Mais ainda, se a comparação for feita com 2008,antes da crise financeira internacional arrastar a economia portuguesa para um ciclo de crise que abrangeu os anos da troika, só dez anos depois, em 2018, o PIB regressou a esse patamar.


O INE não deixa margem para dúvidas na explicação do forte trambolhão da economia portuguesa em 2020. Segundo a autoridade estatística nacional, reflete "os efeitos marcadamente adversos da pandemia de covid-19 na atividade económica". Como resultado, "a procura interna apresentou um expressivo contributo negativo para a variação anual do PIB, após ter sido positivo em 2019, devido, sobretudo, à contração do consumo privado", diz o INE. Ao mesmo tempo, "o contributo da procura externa líquida foi mais negativo em 2020, verificando-se reduções intensas das exportações e importações de bens e de serviços, com destaque particular para a diminuição sem precedentes das exportações de turismo", destaca a instituição. Apesar da dureza dos números, estes acabaram até por ser menos negativos do que antecipado pelo Governo. Em outubro, no Orçamento do Estado para 2021, a equipa do Ministério das Finanças apontava para um recuo do PIB em 2020 de 8,5%.

A queda verificada, de 7,6%, é, também, menos negativa do que antecipado pelos economistas. Há pouco mais de duas semanas as projeções recolhidas pelo Expresso apontavam, em média, para uma contração de 8,2%.

A explicação está num desempenho melhor do que o previsto da economia nacional nos últimos três meses de 2020.

Os economistas ouvidos pelo Expresso em meados de janeiro consideravam que a economia não iria escapar a uma contração no quarto trimestre de 2020 face aos três meses anteriores, interrompendo a forte recuperação iniciada no Verão. A média dessas projeções apontava para um recuo de 2,1% em cadeia e de 8,3% em termos homólogos.

Afinal, os dados do INE indicam que a economia até cresceu no quarto trimestre de 2020 por comparação com os três meses anteriores. O aumento do PIB foi de 0,4%, depois de ter crescido 13,3%, também em cadeia, no terceiro trimestre. Tudo porque "os contributos da procura interna e da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB foram ambos positivos", aponta o INE.

Já em termos homólogos, a economia recuou 5,9% no quarto trimestre de 2020 (-5,7% no terceiro trimestre). Segundo o INE "o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB foi menos negativo que o observado no 3º trimestre, refletindo, em larga medida, a diminuição menos intensa do investimento, apesar da redução mais pronunciada do consumo privado".

Já "a procura externa líquida apresentou um contributo mais negativo no 4º trimestre, verificando-se uma contração mais intensa das Exportações de Bens e Serviços que a observada nas Importações de Bens e Serviços" (Expresso, texto dos jornalistas Sónia M. Lourenço e Carlos Esteves)

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