Afinal
o que se tem passado nesses encontros da Quinta Vigia?
Cheira-me
que o propósito é resolver politicamente os casos mais polémicos, Ribeira Brava
(depois do saneamento de Ricardo Nascimento em 2017, injusto e despropositado,
acabou dando uma banhada nas autárquicas de 2017 com uma lista de cidadãos
apoiada pelo CDS-M mas cuja base eleitoral foi essencial e claramente do PSD-M)
um deles, São Vicente logo depois. E outros se seguem, casos da Ponta do Sol e
Porto Santo (deixando de fora os maiores municípios), onde as pespectivas
parecem ser negras, dadas as previsões de repetidas asneiradas políticas. E de
fora deixo Porto Moniz, porque cheira-me também que o PSD-M já decidiu que não
vai querer disputar agora a Câmara Municipal, ficando sentado de sofá à espera
que o socialista Emanuel Câmara seja obrigado a sair daqui a 4 anos por
limitação de mandatos. E nessa altura, depois do desastre eleitoral autárquico
de 2017, provavelmente o PSD-M já deixou de existir no Porto Moniz….
Aliás
esta ideia da desnecessidade de um PSD-M que "desaparece" do mapa
político de freguesias ou concelhos, por opção própria, é outro risco grave que
está a ser implementado pela nomenclatura laranja. Mais 4 anos de oposição nas
autárquicas do costume inevitavelmente pode atirar o PSD-M para uma penosa travessia
do deserto onde a luta pela sua sobrevivência passará a estar em cima da mesa. Não
duvido que os próprios militantes e simpatizantes social-democratas, perante estes
puzzles todos, acabem por concluir que a estratégia de abandono adoptada pelo
partido - que deliberadamente falha naquelas que são as eleições que mais
directamente mobilizam e interessam às bases partidárias e aos eleitores em
geral - transformará o PSD-M numa inutilidade, ainda por cima num tempo que é o
mais grave, como verificaremos com o tempo, da história da Madeira, mais grave
política, social, económica e financeiramente, etc
É
óbvio que não tem havido reuniões preparatórias das autárquicas dando a
palavras às bases do PSD-M em cada freguesia ou concelho, quando são elas que
estão no terreno, que garante a constituição de candidaturas e lutam pelos
votos necessários às vitórias.
Acham
que esses militantes vão andar no terreno, em campanha (se é que ela vai
existir nos moldes tradicionais) a pedir votos a favor de listas ou de
projectos autárquicos que estão contra o PSD-M, que concorreram em 2013 e 2017
(e não vou recordar os motivos que levaram a isso, alguns válidos, outros não)
contra o PSD-M?
E que
dizer do que se vai passar em São Vicente que será mais uma machadada na ética
política e uma sem-vergonhice que eventualmente estará em preparação (falo do
regresso de quem partiu, tudo porque o PSD-M vive de "retribuições"
por favores políticos passados e aceita de forma lamentável ser pulverizado do
mundo autárquico que foi sempre o seu), quiçá mesmo atropelando a própria lei?!
O que
tem havido e tem sido noticiado são encontros para trocas e para resolver
"berbicachos" que foram criados, ou pelo facto do PSD-M continuar
refém de pressões e chantagens, tudo em nome da salvaguarda do poder, ou porque
nem PSD-M nem CDS-M querem "apoquentar" as candidaturas
independentes.
No
caso da Ribeira Brava, surgida depois do comportamento vergonhoso mantido em
2017 com Ricardo Nascimento, claramente saneado por ter sido escolhido em 2013
por João Jardim.
No
caso de São Vicente, um caso bem diferente, porque como é sabido, a candidatura
dos denominados "independentes", em 2013 - que ganharam (repetindo a
façanha em 2017) com os votos do eleitorado social-democrata - aconteceu em
resposta a uma escolha, que na altura me pareceu discutível e pouco discutida,
que o PSD-M tomou neste concelho, apesar de existirem sinais de problemas e de
algumas movimentações de bastidores que foram erradamente desvalorizadas.
Movimentações que pretendiam impor uma determinada candidatura que, ao ser
preterida, acabou por ser incentivada (este processo teve sempre como
pano-de-fundo a disputa pela liderança do PSD-M e pela sucessão de AJJ),
processo que acabou por obrigar à desvinculação de várias pessoas que
corporizaram depois uma candidatura de cidadãos contra um PSD-M que acabou
enxovalhado e derrotado nas urnas.
Eu
continuo a afirmar que o que se passou no processo autárquico de 2013,
associado às regionais de 2011, teve a sua génese em disputas políticas e
pessoais, na área do PSD-M, e não apenas no Funchal, a que se juntou uma
organizada campanha de boicote - claramente perceptível no terreno (e muitos
dos que a prepararam estão vivos e podem confirmá-lo) - antes das regionais de
2011 que realmente marcaram o princípio do fim da liderança de João Jardim no
PSD-M e quanto a mim, aceleraram o processo de substituição e as directas no
final de 2014.
O
desgaste eleitoral do PSD-M era mais do que evidente e basta analisar os
números. A uma queda eleitoral nas regionais de 2011 que colocaram o PSD-M com
apenas 25 dos 47 deputados regionais num parlamento regional com 8 partidos
políticos (algo inédito na política nacional), juntou-se em 2013 a perda de 7
das 11 Câmaras Municipais incluindo a do Funchal, explicada por acontecimentos
políticos vários, que influenciaram negativamente o processo eleitoral, e o
voto dos cidadãos, mas por que o próprio PSD-M se dividiu profundamente neste
processo eleitoral. A própria presença do PSD-M como uma máquina operacional,
oleada, organizada, mobilizada e omnipresente sofreu um rude revés e perdeu
fulgor, sendo esse o momento em que se percebeu que as regionais e 2011 seriam
as piores de todas para João Jardim. Antes dos pouco mais de 34% do PSD-M na
autárquicas de 2013, tivemos um PSD-M abaixo dos 50% nas regionais de 2011 e
com apenas 2 deputados acima da maioria absoluta.
Recordo
os votos do PSD-M:
Regionais de 2007 – 90.339 votos, 64,2%
Autárquicas
de 2009 – 72.188 votos, 51,9%
Regionais
de 2011 – 71.556 votos, 48,6%
Autárquicas
de 2013 – 47.207 votos, 34,8%
Regionais
de 2015 – 56.569 votos, 44,4%
Autárquicas
de 2017 – 46.536 votos, 33,6%
Regionais de 2019 – 56.448 votos, 39.4%
Mas podemos lembrar os eleitos pelo PSD-M:
Assembleia
Legislativa (2007) – 33 deputados
Mandatos
nas Camaras Municipais (2009) – 47 eleitos (345 nas freguesias)
Assembleia
Legislativa (2011) – 25 deputados
Mandatos
nas Camaras Municipais (2013) – 33 eleitos (247 nas freguesias)
Assembleia
Legislativa (2015) – 24 deputados
Mandatos
nas Camaras Municipais (2017) – 26 eleitos (251 nas freguesias)
Assembleia Legislativa (2019) – 21 deputados (perda maioria absoluta)
Portanto, estes encontros na Quinta Vigia, limitados às elites concelhias, pouco ou nada resolvem em termos eleitorais nem garantem que as bases do PSD-M, os seus militantes e simpatizantes, aceitem as "negociatas" feitas no Funchal para agradar gregos-e-troianos. Sobre este tema publicarei um dia destes, muito brevemente, o “Bloco de algumas das minhas notas tontas sobre o processo autárquico-2021 na RAM” (LFM)
Sem comentários:
Enviar um comentário