segunda-feira, fevereiro 22, 2021

Nota: Quinta Vigia e autárquicas....

 

Afinal o que se tem passado nesses encontros da Quinta Vigia?

Cheira-me que o propósito é resolver politicamente os casos mais polémicos, Ribeira Brava (depois do saneamento de Ricardo Nascimento em 2017, injusto e despropositado, acabou dando uma banhada nas autárquicas de 2017 com uma lista de cidadãos apoiada pelo CDS-M mas cuja base eleitoral foi essencial e claramente do PSD-M) um deles, São Vicente logo depois. E outros se seguem, casos da Ponta do Sol e Porto Santo (deixando de fora os maiores municípios), onde as pespectivas parecem ser negras, dadas as previsões de repetidas asneiradas políticas. E de fora deixo Porto Moniz, porque cheira-me também que o PSD-M já decidiu que não vai querer disputar agora a Câmara Municipal, ficando sentado de sofá à espera que o socialista Emanuel Câmara seja obrigado a sair daqui a 4 anos por limitação de mandatos. E nessa altura, depois do desastre eleitoral autárquico de 2017, provavelmente o PSD-M já deixou de existir no Porto Moniz….

Aliás esta ideia da desnecessidade de um PSD-M que "desaparece" do mapa político de freguesias ou concelhos, por opção própria, é outro risco grave que está a ser implementado pela nomenclatura laranja. Mais 4 anos de oposição nas autárquicas do costume inevitavelmente pode atirar o PSD-M para uma penosa travessia do deserto onde a luta pela sua sobrevivência passará a estar em cima da mesa. Não duvido que os próprios militantes e simpatizantes social-democratas, perante estes puzzles todos, acabem por concluir que a estratégia de abandono adoptada pelo partido - que deliberadamente falha naquelas que são as eleições que mais directamente mobilizam e interessam às bases partidárias e aos eleitores em geral - transformará o PSD-M numa inutilidade, ainda por cima num tempo que é o mais grave, como verificaremos com o tempo, da história da Madeira, mais grave política, social, económica e financeiramente, etc

É óbvio que não tem havido reuniões preparatórias das autárquicas dando a palavras às bases do PSD-M em cada freguesia ou concelho, quando são elas que estão no terreno, que garante a constituição de candidaturas e lutam pelos votos necessários às vitórias.

Acham que esses militantes vão andar no terreno, em campanha (se é que ela vai existir nos moldes tradicionais) a pedir votos a favor de listas ou de projectos autárquicos que estão contra o PSD-M, que concorreram em 2013 e 2017 (e não vou recordar os motivos que levaram a isso, alguns válidos, outros não) contra o PSD-M?

E que dizer do que se vai passar em São Vicente que será mais uma machadada na ética política e uma sem-vergonhice que eventualmente estará em preparação (falo do regresso de quem partiu, tudo porque o PSD-M vive de "retribuições" por favores políticos passados e aceita de forma lamentável ser pulverizado do mundo autárquico que foi sempre o seu), quiçá mesmo atropelando a própria lei?!

O que tem havido e tem sido noticiado são encontros para trocas e para resolver "berbicachos" que foram criados, ou pelo facto do PSD-M continuar refém de pressões e chantagens, tudo em nome da salvaguarda do poder, ou porque nem PSD-M nem CDS-M querem "apoquentar" as candidaturas independentes.

No caso da Ribeira Brava, surgida depois do comportamento vergonhoso mantido em 2017 com Ricardo Nascimento, claramente saneado por ter sido escolhido em 2013 por João Jardim.

No caso de São Vicente, um caso bem diferente, porque como é sabido, a candidatura dos denominados "independentes", em 2013 - que ganharam (repetindo a façanha em 2017) com os votos do eleitorado social-democrata - aconteceu em resposta a uma escolha, que na altura me pareceu discutível e pouco discutida, que o PSD-M tomou neste concelho, apesar de existirem sinais de problemas e de algumas movimentações de bastidores que foram erradamente desvalorizadas. Movimentações que pretendiam impor uma determinada candidatura que, ao ser preterida, acabou por ser incentivada (este processo teve sempre como pano-de-fundo a disputa pela liderança do PSD-M e pela sucessão de AJJ), processo que acabou por obrigar à desvinculação de várias pessoas que corporizaram depois uma candidatura de cidadãos contra um PSD-M que acabou enxovalhado e derrotado nas urnas.

Eu continuo a afirmar que o que se passou no processo autárquico de 2013, associado às regionais de 2011, teve a sua génese em disputas políticas e pessoais, na área do PSD-M, e não apenas no Funchal, a que se juntou uma organizada campanha de boicote - claramente perceptível no terreno (e muitos dos que a prepararam estão vivos e podem confirmá-lo) - antes das regionais de 2011 que realmente marcaram o princípio do fim da liderança de João Jardim no PSD-M e quanto a mim, aceleraram o processo de substituição e as directas no final de 2014.

O desgaste eleitoral do PSD-M era mais do que evidente e basta analisar os números. A uma queda eleitoral nas regionais de 2011 que colocaram o PSD-M com apenas 25 dos 47 deputados regionais num parlamento regional com 8 partidos políticos (algo inédito na política nacional), juntou-se em 2013 a perda de 7 das 11 Câmaras Municipais incluindo a do Funchal, explicada por acontecimentos políticos vários, que influenciaram negativamente o processo eleitoral, e o voto dos cidadãos, mas por que o próprio PSD-M se dividiu profundamente neste processo eleitoral. A própria presença do PSD-M como uma máquina operacional, oleada, organizada, mobilizada e omnipresente sofreu um rude revés e perdeu fulgor, sendo esse o momento em que se percebeu que as regionais e 2011 seriam as piores de todas para João Jardim. Antes dos pouco mais de 34% do PSD-M na autárquicas de 2013, tivemos um PSD-M abaixo dos 50% nas regionais de 2011 e com apenas 2 deputados acima da maioria absoluta.

Recordo os votos do PSD-M:

Regionais de 2007 – 90.339 votos, 64,2%

Autárquicas de 2009 – 72.188 votos, 51,9%

Regionais de 2011 – 71.556 votos, 48,6%

Autárquicas de 2013 – 47.207 votos, 34,8%

Regionais de 2015 – 56.569 votos, 44,4%

Autárquicas de 2017 – 46.536 votos, 33,6%

Regionais de 2019 – 56.448 votos, 39.4%

Mas podemos lembrar os eleitos pelo PSD-M:

Assembleia Legislativa (2007) – 33 deputados

Mandatos nas Camaras Municipais (2009) – 47 eleitos (345 nas freguesias)

Assembleia Legislativa (2011) – 25 deputados

Mandatos nas Camaras Municipais (2013) – 33 eleitos (247 nas freguesias)

Assembleia Legislativa (2015) – 24 deputados

Mandatos nas Camaras Municipais (2017) – 26 eleitos (251 nas freguesias)

Assembleia Legislativa (2019) – 21 deputados (perda maioria absoluta)

Portanto, estes encontros na Quinta Vigia, limitados às elites concelhias, pouco ou nada resolvem em termos eleitorais nem garantem que as bases do PSD-M, os seus militantes e simpatizantes, aceitem as "negociatas" feitas no Funchal para agradar gregos-e-troianos. Sobre este tema publicarei um dia destes, muito brevemente, o “Bloco de algumas das minhas notas tontas sobre o processo autárquico-2021 na RAM” (LFM)

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