sexta-feira, fevereiro 26, 2021

Resgate suave põe SATA a dar lucro em 2023

 

Com custos 40% mais baixos do que a TAP, SATA aplica cortes salariais de 10%. Plano prevê saída de 150 trabalhadores. O plano de reestruturação da SATA seguiu esta semana, quinta-feira, para Bruxelas, levando na bagagem propostas menos agressivas do que as previstas no plano da TAP e a perspetiva de um regresso aos lucros já em 2023. Se tudo correr como prevê Luís Rodrigues, o presidente da transportadora açoriana, a SATA vai conseguir tornar-se sustentável dentro de três anos, revertendo um ciclo de prejuí­zos que começou em 2013. O plano prevê cortes de 10% na remuneração mensal bruta e a saída de mais de 100 trabalhadores. Estão fechados os acordos com todos os sindicatos e não haverá despedimentos. As saídas serão feitas através de reformas e pré-reformas.

A SATA recebeu em agosto €133 milhões de auxílios do Estado, ao abrigo do artigo de resgate e restruturação, montante que permitirá à companhia viver mais uns meses sem asfixia financeira. Adicionalmente, o Governo Regional pediu, e teve autorização de Bruxelas, para receber mais €18 milhões extra, ao abrigo de medidas para minimizar o impacto da pandemia.


Com prejuízos superiores a €50 milhões em 2018 e 2019, a SATA, a maior empregadora da Região Autónoma dos Açores, vai encolher de dimensão. O número de aeronaves vai ser reduzido de 15 para 13 — os cortes far-se-ão na operação internacio­nal (Azores Airlines), que ficará com menos duas aero­naves. O serviço interilhas, que serve nove ilhas do arquipélago, manterá os atuais seis aviões. Haverá também uma redução de rotas, que hoje são 17. Politicamente, o plano foi bem recebido. A SATA, com os seus 1400 trabalhadores, é uma empresa muito relevante para a Região Autónoma e ninguém a quer deixar cair. Não obstante, os três partidos da coligação PSD, CDS-PP e PPM solicitaram ao Tribunal de Contas uma auditoria à situação financeira e operacional entre 2012 e 2020. Alegam “ingerência política da tutela, erros clamorosos a nível estratégico e negócios duvidosos” que deixaram a “sustentabilidade do grupo SATA (...) gravemente ameaçada”.

Luís Rodrigues, líder da SATA e ex-administrador da TAP, apresentou o plano de reestruturação com uma nota de otimismo. Estão previstas poupanças de €68 milhões até 2025, com a transportadora a apresentar um lucro de €23 milhões já em 2023. Será uma recuperação rápida, tendo em conta que o grupo arrasta prejuízos há oito anos e fechou o terceiro trimestre de 2020 com uma perda de €61 milhões. Os cortes nos salários aplicar-se-ão a partir dos €1200 brutos mensais. Globalmente, irão sair cerca de 150 trabalhadores — 48 já deixaram a companhia. A pressão da massa salarial na SATA não é tão elevada como na TAP, já que os custos laborais são cerca de 40% mais baixos. Contudo, a fatura pesa, já que a receita, dada a sua sazonalidade e as rotas deficitárias, é deprimida. A SATA tem receitas de €240 milhões e uma massa salarial de €70 milhões. Os voos diretos do Continente para a Horta, Pico e Santa Maria dão ciclicamente prejuízos e para continuarem terão de ter apoio. Esta é uma das incógnitas.

NAS MÃOS DE BRUXELAS

O futuro é nebuloso, tudo pode acontecer, e embora ninguém acredite que os voos interilhas possam desaparecer, Bruxelas é chave nesta equação. O Governo de José Manuel Bolieiro está confiante de que a SATA irá ultrapassar os problemas levantados por Bruxelas, inclusive face aos aumentos de capital ilegais no valor de €73 milhões. A solução, à espera de aprovação comunitária, passa por duas operações financeiras: €52 milhões serão pagos via Obrigações de Serviço Público e €20 milhões através da compensação por danos provocados pela pandemia, mecanismo comunitário pelo qual a SATA já recebeu €18 milhões. A companhia açoriana tem estado a ser assessorada pela Boston Consulting e o Governo Regional pela Vieira de Almeida e Associados.

NÚMEROS

€68 milhões é o montante de poupança previsto com cortes salariais, negociações com fornecedores e redução da frota de 15 para 13 aviões

10% é o corte salarial negociado com os sindicatos, previsto inicialmente para ser de 20% (EXPRESSO, texto da jornalista ANABELA CAMPOS)

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