terça-feira, fevereiro 23, 2021

UE corre risco de sair do «Grande Confinamento» para entrar na «Grande Divergência»


A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou hoje para a possibilidade de se desenvolver uma ‘Grande Divergência’ em 2021, depois do ‘Grande Confinamento’ de 2020, inclusive na União Europeia (UE). Num discurso no âmbito da Semana Parlamentar Europeia, coorganizada pelo Parlamento Europeu e pela Assembleia da República, no quadro da dimensão parlamentar da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), Kristalina Georgieva admitiu que a sua “maior preocupação” para 2021 é que “o ‘Grande Confinamento’ de 2020 se tranforme numa ‘Grande Divergência’ em 2021”.

“A divergência é mais profunda no mundo em desenvolvimento, onde metade dos países que normalmente costumavam acelerar os níveis de rendimentos para os níveis dos seus pares mais ricos estão agora a ficar para trás. Mas é um risco também para a UE”, disse a responsável búlgara no discurso realizado a partir de Washington, por videoconferência.

Apesar de o FMI estar a prever uma recuperação económica mundial de 5,5% e de 4,2% para a União Europeia, “o caminho para a recuperação é altamente incerto e, mais importante, desequilibrado”, afirmou Kristalina Georgieva.

“É incerto por causa da atual corrida entre o vírus e as vacinas. Desequilibrado por causa da diferença das posições de partida, estruturas económicas e capacidade de responder – causando um crescimento de desigualdades tanto entre como dentro dos países”, afirmou a economista responsável pelo FMI.

A diretora-geral salientou que, por exemplo, “os tradicionais destinos turísticos experimentaram contrações muito mais agudas – mais de 9% em Espanha, Grécia e Itália – comparando com uma contração média de 6,4% na UE”.

Além disso, o FMI aponta para que no final de 2022 “o rendimento ‘per capita’ dos mercados emergentes da Europa Central e da Europa de Leste estarão 3,8% abaixo das projeções pré-crise, comparado com uma queda de 1,3% das economias avançadas da UE – um impacto negativo quase três vezes maior que abrandará o ritmo de convergência”, assinalou Georgieva.

Dentro dos países, a diretora-geral do FMI também observa “aumentos de divergência”, com “as regiões com PIB [Produto Interno Bruto] mais baixo a entrar na crise com menor produtividade, maiores setores de grande contacto, e menos empregos que permitem o trabalho remoto”, com impacto em milhões de pessoas, “com as mulheres e os jovens a sofrer mais, especialmente aqueles com menores rendimentos e poupanças”.

Assim, a responsável da instituição sediada em Washington elencou três tipos de questões fundamentais que os decisores políticos enfrentam: a crise de saúde, a crise económica e mudanças estruturais para a digitalização e ecologia.

“Até derrotarmos a pandemia em todo o lado, arriscamos novas mutações que ameaçam o nosso progresso”, disse Kristalina Georgieva sobre a saúde, pelo que “aumentar a produção e a distribuição de vacinas é crítico”.

Sobre a crise económica, a responsável – que já tinha saudado no discurso a resposta das instituições europeias, em particular do Banco Central Europeu (BCE) – disse que o apoio a famílias e empresas deve continuar “até à pandemia estar derrotada”.

“Uma retirada gradual deve seguir-se, e não preceder, uma saída duradoura da crise de saúde”, algo que “interessa internamente” aos países mas também “em termos de contágios”, já que uma retirada antes do tempo “poderia exacerbar a divergência entre países”.

Sobre a digitalização e ecologia, Georgieva afirmou que é necessário “um ‘empurrão’ coordenado de investimento em infraestruturas ‘verdes'”, com o FMI a apontar para um aumento anual do PIB mundial de 0,7% durante 15 anos.

A responsável sugeriu ainda a taxação das emissões de dióxido de carbono, a melhoria ao “acesso a internet de alta velocidade nas zonas rurais e subdesenvolvidas”, o investimento na educação e formação profissional, e ainda abordou a conclusão da união bancária e de mercados de capitais na UE e a taxação das empresas “adequada à era digital”, para cortar desigualdades (Executive Digest)

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