Segundo Nicolau Santos, a RTP3 é neste momento
"um desafio" até tendo em conta o aparecimento do Now, um novo player
entre os canais de informação. “Não nos podemos conformar que a RTP3 seja o
canal menos visto dos canais de informação por cabo“, disse Nicolau Santos esta
terça-feira, em audição na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e
Desporto. O presidente da RTP defendeu a necessidade de uma “mudança
substancial“.
Segundo Nicolau Santos, a RTP3 é neste momento “um desafio” até tendo em conta o aparecimento do Now, o novo canal de informação da Medialivre que foi lançado esta segunda-feira e que foi o 14ª mais visto do cabo, à frente da RTP3. “Não nos podemos conformar que a RTP3, que compete com a SIC Notícias, CNN Portugal e agora o Now, seja o canal menos visto dos canais de informação por cabo. Estamos a preparar uma profunda reflexão nessa área para ver o que podemos fazer. É preciso haver uma mudança substancial“, afirmou.
Questionado quanto à possibilidade de fecho da RTP3, Nicolau Santos ressalvou que só uma decisão do Estado é que pode levar ao fecho (ou abertura) de canais na RTP. O responsável defendeu uma “renovação que seja uma refundação da RTP3, que traga novas ideias e novas maneiras de abordar” os temas e assegurou que está a ser analisado o que pode ser feito – ao nível de renovação dos estúdios, de alteração na programação ou apresentadores etc. -, embora seja sabido que os resultados não são imediatos.
Mas “existe um problema efetivamente na RTP3 porque
estamos a concorrer com outros canais e a perder“, disse, avançando que uma das
maneiras de o produto informativo da RTP3 ser diferente dos concorrentes passa
por “ter notícias do país”, pelo que é fundamental uma rede de colaboradores em
diversos pontos. Como razão para o canal informativo da RTP estar a perder,
Nicolau Santos apontou uma política mais abrangente de contratação de
comentadores por parte dos concorrentes, incluindo profissionais no ativo, coisa
que a RTP não faz. Além disso, a RTP3 paga “bastante menos” que os outros
canais, o que dá menos capacidade de contratação, refere.
A questão das audiências é também uma “preocupação” para a RTP1, segundo Nicolau Santos, referindo que a televisão pública se debate com uma diminuição de telespectadores, problema que todas as televisões estão a enfrentar em todo o mundo. Nicolau Santos explicou que se estão a tentar encontrar alternativas, tanto através da programação linear (através de um contínua procura por melhores conteúdos) como da aposta noutras plataformas de forma a chegar a outro tipo de público mais jovem, dando como exemplo a série Pôr-do-Sol que teve um enorme sucesso no digital, especialmente entre os jovens. O presidente do operador público defendeu também que a RTP “não é um problema”, e que a mesma cumpre um serviço público, dispõe de situação financeira controlada e que existe paz social na empresa.
Nicolau Santos avançou ainda que são necessários investimentos “pesados” na transformação digital da RTP e que é necessário ir renovando o perfil dos trabalhadores, sendo precisas pessoas “mais novas” e mais ligadas ao digital e redes sociais, em consonância com as novas tendências. Questionado sobre o facto de a RTP ter deixado de transmitir corridas de touros, Nicolau Santos diz que esse é um tema fraturante na sociedade portuguesa e que a RTP “tem de algum modo a ideia de que a sua programação deve procurar mais unir do que desunir”.
Além disso, a RTP já tinha vindo a transmitir cada vez
menos corridas, até que começou a transmitir apenas aquelas que eram
organizadas pela Casa de Pessoal da RTP, que deixou também de as organizar. Em
Espanha, a RTVE também deixou de transmitir, assim como aconteceu na Colômbia,
sublinhou Nicolau Santos, acrescentando que “há realmente um avanço nesta
matéria”. No entanto, “em matéria de programação, o conselho de administração
não tem poderes para intervir”, acrescentou o presidente da RTP, referindo que
o diretor de programação não considera que as corridas sejam um ativo
estratégico para atingir o objetivo de manter as audiências acima dos dois
dígitos.
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solução?
Já sobre a Contribuição Audiovisual (CAV) – que
representa 80% do financiamento do operador público – Nicolau Santos defendeu
que com os valores atuais não vai ser possível continuar a manter oito canais
de televisão e sete de rádio. “Gostávamos de ter uma CAV atualizada pelo menos
em termos de inflação“, disse o responsável, algo que não acontece desde 2016.
Segundo Nicolau Santos, para a RTP, 2023 foi um ano informativo de “muito sucesso”, com a cobertura com “equilíbrio e rigor” das guerras internacionais, das questões políticas e manifestações em Portugal e da cobertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), onde “toda a empresa esteve envolvida”. Além de ter feito a cobertura da JMJ, a RTP foi também host broadcaster para operadores a nível internacional do evento, sendo que “não haveria nenhum operador privado capaz de fazer aquilo que fizemos”, referiu Nicolau Santos. O presidente da RTP, que referiu o reforço do papel da RTP em 2023 enquanto principal motor da produção audiovisual portuguesa, sublinhou ainda que a RTP voltou a ser considerada a marca de comunicação em que os portugueses mais confiam, segundo o Reuters Digital News Report 2024 (Eco online, texto do jornalista Rafael Ascensão)
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