quarta-feira, julho 24, 2024

Turismo de massas: Câmara de Sintra afirma que "residentes estão em primeiro lugar” no centro histórico

A Câmara de Sintra diz que continua “empenhada em desenvolver um centro histórico em que os residentes estão em primeiro lugar”, reagindo ao manifesto da associação QSintra, exigindo medidas contra “turismo de massas e caos no trânsito”. No dia 20, a QSintra – Em Defesa de um Sítio Único divulgou um manifesto, “Sintra é de todos e precisa de todos”, e, em simultâneo, colocou faixas nas janelas e varandas e cartazes nas montras de lojas, restaurantes e cafés contra a transformação da vila “num mero parque de diversões congestionado”. Denunciando a “perda de qualidade de vida” dos habitantes de Sintra, a associação criticou os “constantes congestionamentos de trânsito” e a “descaracterização acelerada da zona inscrita como Património Mundial”. Questionada pela Lusa sobre as críticas, a autarquia de Sintra respondeu que tem tentado implementar “medidas que procuram o equilíbrio entre os benefícios do turismo” e o seu impacto no centro histórico.

A autarquia confirma que o número de atendimentos nos postos de turismo da vila “tem demonstrado um aumento contínuo” – dos 340.633 registados em 2022 cresceram para 522.176 em 2023. Porém, assinala que se verificou “uma quebra de vendas nos primeiros meses de 2024”: até 15 de julho de 2024 foram vendidas perto de dois milhões de entradas, menos 3% do que em idêntico período de 2023. No ano passado, os monumentos geridos pela Parques de Sintra - empresa de capitais exclusivamente públicos criada em 2000, após a classificação pela UNESCO como Património da Humanidade – acolheu mais de três milhões de visitantes.

A autarquia exemplifica que houve uma redução “significativa” de visitantes (16,5%, relativamente a 2023) no Palácio Nacional da Pena, “monumento com maior pressão turística”. A limitação de visitantes a seis mil por dia, imposta no início de 2024, resultou de “uma opção estratégica”, recorda a autarquia, adiantando que vai aplicar uma medida idêntica na Quinta da Regaleira, gerida pela Fundação CulturSintra, onde, a partir de setembro, o número máximo de visitantes diários sofrerá uma redução de 50%.

“Estas medidas, no Palácio Nacional da Pena e na Quinta da Regaleira, têm um profundo impacto na pressão turística que se sente no centro histórico e zonas limítrofes”, destaca a autarquia. Sobre a questão do trânsito, a Câmara recorda que impôs condicionamentos ao trânsito automóvel no centro histórico da vila e construiu o parque de estacionamento periférico da estação da Portela de Sintra, com 550 lugares.

Atualmente, estão em fase de implementação o Parque de Estacionamento Ramalhão 1 (no final do IC19 e junto à principal entrada de Sintra), para veículos e autocaravanas, e o Parque de Estacionamento Ramalhão 2, na mesma localização, com 500 lugares. No manifesto, a QSintra faz seis reivindicações: revitalização da comunidade e qualidade de vida dos residentes; maior cuidado e mais critério no planeamento e na gestão urbana; turismo de qualidade e não de quantidade; combater a “excessiva dependência” do turismo; recuperar e preservar a natureza, pedindo “regras e fiscalização mais estritas que preservem a paisagem, a área florestal e a orla costeira”; e a criação de uma estrutura especializada para gerir a Paisagem Cultural de Sintra. Para a associação, “o turismo é importante para Sintra, mas não pode ser um fator de desqualificação da paisagem e de despovoamento” e não pode prejudicar o dia-a-dia dos habitantes.

Em resposta, a câmara municipal diz que tem “contrariado a vila de Sintra como destino de um dia, criando mecanismos de retenção nas estadias” e que tem desenvolvido programas para contrariar a redução de habitantes no centro histórico, investindo na “compra de espaços e edifícios abandonados no sentido de os recuperar e de os colocar" no programa de arrendamento jovem a custos controlados. Atualmente, refere, estão a ser reabilitados dois edifícios municipais no centro histórico destinados a habitação jovem, num investimento de dois milhões euros (Sapo)

Sem comentários: