Os portugueses estão com dificuldades para renovar os vistos de residência na Venezuela, o que os impede de trabalhar normalmente e levou a APA-Associação de Produtores Agrícolas de Los Altos Mirandinos a apelar à intervenção de Portugal. Situada a sul de Caracas, a APA disse ainda que há dificuldades no acesso a medicamentos para diversos tratamentos e emigrantes a precisar de ajuda económica de Lisboa. “Que o Governo português nos ajude, a nível do Governo daqui, a solucionar este grave problema, porque não podemos nem trabalhar porque os documentos estão caducados”, afirmou a presidente da APA, Maria Neves Correia Pereira. A dirigente associativa falava à Lusa no âmbito de uma jornada de recolha de dados de luso-venezuelanos do estado de Miranda, em São Pedro de Los Altos (35 quilómetros a sul de Caracas) onde vivem agricultores e floricultores portugueses.
“Não podemos nem conduzir, porque se a polícia nos parar, o bilhete de identidade está caducado. Não podemos fazer negócios, nem viajar. Não podemos registar um filho. É uma situação muito grave e quando nos dão o visto já chega caducado, porque demoram muito tempo e é preciso pagar de novo”, explicou. Esta portuguesa revelou que já identificaram mais de 500 agricultores portugueses, muitos deles sem visto, e luso-venezuelanos sem a nacionalidade portuguesa. Também muitos compatriotas têm problemas de saúde e estão sem Segurança Social.
“Necessitamos que o nosso Governo
[Portugal] nos ajude com medicamentos e economicamente, porque a Venezuela está
em crise. Há portugueses que não têm como comprar os medicamentos”, declarou.
Maria Neves Correia sublinhou que “a
crise é muito forte” e a comunidade está a ficar envelhecida porque os “filhos
tiveram de emigrar, porque não há futuro para a juventude” e “ficaram os
velhos”, que necessitam de “atenção e uma pensão”.
O conselheiro das comunidades Fernando
Campos esteve em São Pedro de Los Altos e explicou à Lusa que vai também “ficar
indocumentado, a partir de 05 de março”, porque o seu “visto de residência vai
caducar”.
“O processo de renovação é muito
difícil e demorado na Venezuela. Atualmente estou no que chamam de ‘recuento’
que é passar o visto de um passaporte para o outro [novo], mas já tenho mais de
um ano à espera e um ano a viajar [ao estrangeiro] com autorizações do Estado
venezuelano”, contou.
Fernando campos salientou que “o
problema está a alcançar dimensões claramente graves” e que Portugal tem que
tomar alguma medida.
O conselheiro explicou que já houve
“uma aproximação com o Ministério de Relações Exteriores da Venezuela, para
tratar de encontrar alguma solução”, mas sem resultados conhecidos.
“Temos uma grande maioria da comunidade
portuguesa com problemas de documentos num país onde a segurança jurídica
realmente é muito pouca. Há estrangeiros que precisam vender as suas
propriedades, que querem voltar ao seu país e que lamentavelmente não o podem
fazer”, frisou.
No entanto, insistiu que não é um
problema apenas da comunidade portuguesa, e que afeta todos os estrangeiros
radicados no país.
Sobre as carências dos compatriotas,
notou que a comunidade portuguesa é muito solidária: “Graças a Deus temos um
grupo de portugueses que triunfou, mas a grande maioria da comunidade da
Venezuela, aquela que é menos visível, continua a ter muitas dificuldades e
precisa de apoio”.
Entre as situações mais complicadas
apontou “os problemas de saúde”, que, na Venezuela, se sabe que “é um tema
muito difícil de resolver”.
O cônsul honorário de Portugal em Los
Teques (capital do estado), Pedro Gonçalves, explicou à Lusa que “mais de
metade das verduras e hortaliças” que alimentam Caracas e o ocidente da
Venezuela são produzidos localmente pelos portugueses.
“Grande parte desta comunidade são
madeirenses, que chegaram há muitos anos aqui (…) Falei com várias pessoas que
não têm a nacionalidade portuguesa, alguns luso-descendentes, cujos pais são
portugueses, mas falta-lhes documentação, por isso é importante que possamos
chegar ao pé deles e dizer-lhes que têm o direito de ser portugueses”, afirmou.
Por outro lado, o médico José Gomes, responsável pela atenção médica a portugueses, promovida por Portugal, referiu que o programa continua a funcionar, mas que é preciso diversificar os medicamentos enviados para Caracas, para evitar que continuem a chegar muitos de um tipo e poucos de outros (Sapo)
Sem comentários:
Enviar um comentário