sexta-feira, fevereiro 17, 2023

Opinião: Sondagem e a Turquia

A  publicação de uma sondagem, sobretudo quando isso ocorre em ano eleitoral, é sempre motivo para especulações, interpretações desalinhadas, reações pindéricas, tontices partidárias, algumas invenções, nomeadamente na transformação especulativa de percentagens em mandatos de eleitos, entre outros itens que permitem uma abordagem puramente especulativa neste tipo de trabalho. Ainda por cima com um universo não muito alargado e com uma elevada percentagem de indecisos.

Durante anos lidei com este tema, procurando desconstruir conclusões especulativas ou não, percebendo habilidades subjacentes, enfim, colocando as sondagens, em termos de validade, no lugar que realmente lhes pertence. As sondagens são, sempre foram, uma referência, valorizada ou ridicularizada pelos políticos conforme os resultados para as suas hostes forem ou não favoráveis. No caso vertente, apesar de uma sondagem ser apenas uma referência, passível de deixar alguns indicadores aos interessados, a verdade é que existe uma significativa distância temporal que pode impedir que os indicadores agora divulgados tenham depois correspondência com a realidade. 

Tanto mais quanto é sabido que vivemos tempos em que a política não controla factores externos que influenciam negativamente o sentimento social e que podem condicionar a própria economia e o voto. A inflação continua a deixar um rasto de destruição na vida das empresas, das famílias e das pessoas. Há, portanto, uma inegável incapacidade de qualquer político responsável poder garantir, com fiabilidade, o que vai acontecer, nestes domínios, a curto prazo. Falar de eleições, tentar adivinhar o sentimento das pessoas, a braços com quebras acentuadas de rendimentos, com a pressão dos juros nos empréstimos bancários para a compra de habitação, com os custos dos bens essenciais, etc, é pura ilusão. Por isso em vez de reacções dispensáveis recomendo que os políticos olhem para alguns sinais, alguns deles bastante complexos, na certeza de que esta sondagem não coloca de lado a ameaça de um cenário de ingovernabilidade, mesmo que isso possa determinar novas realidades num xadrez político-partidário regional nada habituado para essa eventual nova janela de negociação e de diálogo no quadro político-parlamentar nem sempre valorizado. Veremos o que os próximos meses nos reservam.

II. De repente - até pareceu que a guerra na Ucrânia, a caminho da sua fase mais mortal e sanguinária, tinha sofrido um intervalo... - a opinião pública europeia e mundial, saturada pelas imagens diárias e pela informação factual, cruzada com as notícias falsas e com a especulação manipuladora de comentadores (e não só) que não conseguem manter a isenção pragmática que estes tempos de incerteza e de destruição e morte a todos se exige, sobretudo na comunicação social, vê-se confrontada com um novo drama, na Turquia e na Síria. Um sismo violento, o mais poderoso nos últimos 100 anos, causou destruição e morte - fala-se em mais de 10 mil edifícios destruídos ou afectados, e mais de 25 mil mortes, sem bem que ainda não confirmadas por estarem em curso as operações de resgate - ocorreu em dois países situados próximo de uma zona de confluência de três placas tectónicas, o que aumenta a perigosidade da região para acontecimentos desta natureza.

O que pretendo colocar em evidência não é a tragédia, por que sobre ela a comunicação social tem dedicado muito espaço e atenção, é a repetição do debate, em Portugal, sobre a vulnerabilidade dos edifícios em Lisboa - incluindo hospitais e outros que precisam funcionar em caso de catástrofe - perante o impacto de um acontecimento desta natureza e gravidade, numa cidade onde 600 mil pessoas e 400 mil edifícios parecer estar numa situação de precariedade atribuída, segundo os especialistas, ao facto do Estado, nas suas diferentes dimensões, nunca ter valorizado os alertas para o reforço da exigência no sector da construção no que à segurança anti-sísmica diz respeito. Mais do mesmo! (LFM, texto de opinião publicado no Tribuna da Madeira de 10.2.23)

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