sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Sondagem: A guerra será longa e a NATO não deve intervir


Cresceu o pessimismo quanto à duração do conflito. Mas, se este se alargar, 64% defendem que Portugal deve enviar os seus militares para a Ucrânia. Um ano depois da invasão da Rússia à Ucrânia, os portugueses estão mais pessimistas quanto ao tempo que a guerra ainda vai durar: 59% apontam para mais de um ano a ferro e fogo, de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Há poucas dúvidas quanto a quem é o principal responsável pelo conflito (86% acusam Moscovo), mas são cada vez mais os que apoiam a decisão da NATO de não intervir diretamente (62%). No entanto, e na hipótese de esse agravamento se verificar, são também quase dois terços (64%) os que defendem o envio de tropas portuguesas para a Ucrânia.

É quando os portugueses são confrontados com a duração da guerra que as diferenças entre o resultado de sondagens anteriores e a atual são mais evidentes. Em abril do ano passado, dois meses depois do início da guerra, a maioria dos inquiridos (53%) ainda acreditava que tudo estaria terminado em menos de um ano. Agora, os "otimistas" são apenas 22%. O pessimismo alastrou (59% dizem que haverá guerra para lá de fevereiro de 2024), em particular entre os homens.

São também os homens os que mais apoiam a decisão da NATO de não intervir diretamente na guerra (ainda que a diferença para as mulheres se fique sobretudo a dever ao facto de muitas se refugiarem numa resposta neutra). Em abril do ano passado, 52% dos portugueses já estavam de acordo com a tentativa de evitar um confronto em larga escala com a Rússia; agora, e depois de várias ameaças de Putin sobre o eventual recurso a armas nucleares, são ainda mais (62%), sendo que o apoio vai aumentando com a idade (74% entre os inquiridos com 65 anos ou mais).

A guerra será longa e a NATO não deve intervir

Apesar do apelo maioritário à contenção, perguntou-se o que deveria fazer Portugal, no caso da escalada da guerra implicar uma intervenção da aliança militar ocidental no terreno. E a resposta é igualmente clara: 64% entendem que, nesse cenário (improvável nesta altura), deveriam ser enviadas para a Ucrânia tropas portuguesas, mais que os 51% de julho do ano passado. Note-se que a defesa do envio de tropas portuguesas é maioritária em todos os segmentos (geografia, género, idade, classe social) da amostra. Encontra-se uma única exceção quando se cruzam os resultados com o voto nas últimas eleições legislativas: 59% dos eleitores comunistas rejeitam a hipótese de um envolvimento de tropas portuguesas.

São também os comunistas os que mais se desviam da quase unanimidade quanto ao principal responsável por esta guerra: 23% dos eleitores da CDU apontam o dedo aos Estados Unidos, ainda que 69% responsabilizem a Rússia. Se considerarmos a totalidade da amostra, são 86%, praticamente a mesma percentagem de março do ano passado, e os mesmos 4% a responsabilizar os norte-americanos.

Apoio aos ucranianos

Um dos parâmetros em que se nota uma evolução na opinião dos portugueses é no que diz respeito à ajuda da União Europeia (e, portanto, de Portugal) ao povo ucraniano. Em março do ano passado, e depois das primeiras sanções à Rússia e dos anúncios de apoio em equipamento militar, 51% achavam que era suficiente. Vários pacotes de sanções e de ajuda militar depois, são agora 60%.

Mas são ainda 40% os que entendem que o que se está a fazer é insuficiente. E quando se pergunta a estes últimos o que falta, quase metade defende o agravamento das sanções ao regime de Putin (46%), dividindo-se os restantes pelo pedido de uma intervenção no terreno por parte dos exércitos europeus (28%), com destaque para os habitantes da Região Norte (38%); e por um aumento do apoio ao acolhimento de refugiados (27%), com destaque para as mulheres e os mais jovens.

Governo não faz tudo o que pode para controlar preços

O Governo não está a fazer tudo o que deve para minimizar o aumento dos preços de primeira necessidade. É o que diz a esmagadora maioria (82%) dos portugueses, praticamente a mesma percentagem dos que, um ano depois da invasão, dizem já ter sentido o impacto da guerra na sua vida particular (81%), de acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF.

A crítica ao Governo é unânime em todos os segmentos da amostra, ainda que seja possível perceber algumas diferenças quando se analisam as respostas em função do voto nas últimas legislativas: os maiores críticos de António Costa são os eleitores do BE e do Chega, enquanto os socialistas são, sem surpresa, um pouco menos cáusticos: 29% acham que o Governo está a fazer o suficiente.

O impacto da guerra cresceu substancialmente no último ano (passou de 59% em março passado, para os 81% deste mês), mas manteve-se praticamente unânime que foi sentido sobretudo ao nível económico (95%). E um pouco mais de dois terços (68%) aponta para os efeitos negativos da subida das taxas de juro, em particular os que vivem na Região Norte (75%) e os que têm 35 a 49 anos (85%). Os que menos se queixam da subida do custo do dinheiro são os que têm 65 ou mais anos: 52%.

É igualmente muito significativa a percentagem de portugueses que já se viram obrigados a alterar os seus hábitos de consumo, por causa da subida de preços dos alimentos: 69%, com destaque para as mulheres e para o escalão etário dos 35 a 49 anos (76%). A exemplo do que se passa com as taxas de juro, volta a ser entre os cidadãos mais velhos que há uma maior percentagem de pessoas que não acusa a necessidade de poupar na alimentação (36%).

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a guerra na Ucrânia.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 10 e 16 de fevereiro de 2023 e foram recolhidas 807 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 807 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,45%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)

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