sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Portugal e a Ucrânia: mais dinheiro não, mais refugiados e apoio militar sim

Dos inquiridos, 79% concordam ou concordam completamente que o país receba mais refugiados ucranianos. Sondagem do Cesop tenta perceber limites dos portugueses num eventual reforço da ajuda à Ucrânia. Se Portugal for chamado a reforçar a ajuda à Ucrânia, deve fazê-lo recebendo mais refugiados ou enviando mais equipamento militar para a frente de batalha. Esta é a opinião da maioria dos inquiridos pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica. A sondagem feita para o PÚBLICO, RTP e Antena 1 revela que, por outro lado, uma ajuda superior em termos financeiros já não colhe o apoio maioritário dos inquiridos.

Resumindo: mais dinheiro não, mas mais meios militares ou mais refugiados acolhidos no país é aceite. Na sondagem feita pelo Cesop, que aproveita o momento em que se assinala um ano do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, os portugueses vêem os seus limites testados quando questionados sobre vários tipos de ajuda adicional que pode ser requisitada, caso se revele necessária. Mais de três quartos dos inquiridos – concretamente, 79% – concordam (58%) ou concordam completamente (21%) que Portugal receba mais refugiados ucranianos, se necessário. Já 18% discordam ou discordam completamente. E 3% dos inquiridos não sabem ou não respondem.

Os números revelam um grau de concordância significativo quanto a um acolhimento adicional de refugiados em Portugal. Desde o início da intervenção militar, Portugal acolheu mais de 58 mil refugiados ucranianos, havendo notícias recentes de que nem sempre a forma como são apoiados quando já se encontram em território nacional esteja a correr da melhor forma.

O PÚBLICO noticiou que quase dez mil crianças refugiadas ucranianas ficaram fora do sistema português de ensino. Além disso, os dados da sondagem são conhecidos numa altura em que ressurgiu em Portugal um debate sobre imigração, nomeadamente sobre a forma como os imigrantes são tratados no país.

Quanto a um envio para a Ucrânia de mais material e equipamento militar, caso seja necessário, 63% dos inquiridos concordam ou concordam completamente com essa ajuda adicional, 51% no primeiro caso e 12% no segundo. Já 33% discordam ou discordam completamente, respectivamente, 24% e 9%. São 4% os que não sabem ou não respondem. Portugal já enviou material militar, tendo integrado recentemente o grupo de países que enviam para aquele país tanques Leopard 2.

Já a abertura para dar à Ucrânia mais ajuda financeira recebe menos apoio por parte dos portugueses. Além da percentagem de inquiridos que concordam ser a mesma dos que discordam (38%), é olhando para os extremos que se pode concluir que mais apoio financeiro não é bem visto pela maioria.

É que 14% dos inquiridos discordam completamente e só 6% concordam completamente. Assim, mais de metade (52%) considera que Portugal não deve dar mais dinheiro, contra menos de metade (44%) que concorda ou concorda plenamente que seja reforçada a ajuda financeira no caso de ser necessário. Quatro por cento dos inquiridos não sabem ou não respondem.

Independentemente do que possa vir a acontecer quanto a um eventual reforço na ajuda, o grau de satisfação com o envolvimento de Portugal prestado até ao momento no que respeita à guerra na Ucrânia é elevado. Quase três quartos dos inquiridos (72%) consideram que Portugal está a envolver-se o necessário. Já quanto à actuação da NATO e dos países-membros – entre os quais está Portugal –, a percentagem dos que acham que o envolvimento corresponde ao necessário desce para 51%. Sobe, em contrapartida, para 30% a percentagem dos que acham que a NATO e os seus países estão e envolver-se menos do que deviam.

Quanto à origem do conflito e à duração, os inquiridos expressam opiniões muito claras: 85% consideram que Vladimir Putin e a Rússia são os responsáveis, com 5% dos inquiridos a distribuírem as culpas pelos EUA (2%), por Volodymyr Zelensky e a Ucrânia (1%), NATO (1%) e países europeus/União Europeia (1% também). Entre os inquiridos, 10% responderam "não sabe/não responde" (7%) ou outro responsável não identificado (3%).

Sobre a duração, e na resposta à pergunta sobre o que é visto como mais provável que aconteça, a maior fatia dos inquiridos (39%) sustenta que o conflito ainda vai demorar, mas ficará limitado à Ucrânia. Já 26% dos inquiridos consideram que o conflito vai tornar-se um conflito global.

E quem mais perde e quem mais ganha com a guerra? A Ucrânia é vista como o país que mais perde, a Rússia e a União Europeia (incluindo Portugal) também têm mais a perder do que a ganhar. Já os EUA e a China são os países que menos têm a perder e mais poderão ganhar com esta guerra.

Ficha Técnica

Este inquérito foi realizado pelo CESOP–Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e PÚBLICO entre os dias 9 e 17 de Fevereiro de 2023. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram seleccionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efectuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objectivo do estudo e demonstraram vontade de participar. 

Foram obtidos 1002 inquéritos válidos, sendo 46% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 29% da região Norte, 20% do Centro, 37% da Área Metropolitana de Lisboa, 7% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE (Publico, texto da jornalista Marta Moitinho Oliveira)

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