sábado, fevereiro 25, 2023

Opinião: EFERVESCÊNCIAS

 

Esta foi uma semana com demasiada "turbulência" informativa. Primeiro foi a saltada de Biden a Kiev para adiantar nada ao que já se sabia antes dela. Ficou o simbolismo da visita. Depois foram dois discursos de Putin para dizer a mesma porcaria mentirosa de sempre, vendendo aos russos, sem acesso a uma comunicação social livre, um país e um mundo que nada tem a ver com a realidade, negando o que todos sabemos ser a verdade, mas demonstrando que a capacidade de manipulação do regime totalitário de Moscovo, e a forte censura imposta, rende os frutos desejados.

A isto junta-se o discurso de Biden em Varsóvia, com poucas novidades, direccionado contra Putin e a guerra que ele construiu na sua loucura sanguinária, mas "esquecendo" habilmente a China, porque os EUA dificilmente conseguem enfrentar duas potências ao mesmo tempo.

Daqueles dois discursos de Putin ficou a decisão - perigosa mas que pode ser também uma tentativa de pressão sobre as opiniões públicas ocidentais e de propagação do medo - de suspender (diferente de abandonar) o último Tratado Start assinado pelos EUA e pela Rússia e que ainda se mantinha em vigor. Embora de pouco ou nada valendo, na medida em que o sucesso destes acordos sobre matéria nuclear, depende da confiança entre os subscritores. Neste momento é fácil concluir que essa confiança mútua entre EUA e Rússia é nula.

Confesso que me interrogo, e cada vez mais, sobre os efeitos da manipulação informativa, promivida pelos dois lados, sobre as opiniões públicas ocidentais e do discurso belicista da NATO e daquele patético secretário-geral - dizem que vai abandonar o cargo para ocupar um tacho na liderança de um banco na Noruega - e a qual a dimensão da mentira que todos "cheiramos" em cada declaração proferida.

Acho que todos nos lembramos do que os EUA e os seus aliados na coligação que invadiu o Iraque disseram sobre as armas de destruição massiva alegadamente existentes no Iraque de Saddam, que foram o pretexto para a invasão militar que depôs Saddam e destruiu economicamente um pais rico e cujas sanções ocidentais nenhum efeito tiveram. Factual é que essas tais armas nunca foram localizadas e todos desconfiam que nunca existiram. Ou seja, foi montada uma enorme teia de mentira e de manipulação para justificar uma invasão que já estava decidida muito antes, enganando até organismos internacionais como a ONU. Os mentores sabiam que as opiniões públicas ocidentais, depois da invasão do Kuwait pelo Iraque, nunca mais perdoaram Saddam. Era fácil “vender” qualquer teoria. E nem falo na fantochada da cimeira nos Açores que antecedeu a invasão... O "ambiente" de hostilidade ajudou essa patifaria bem montada.

Desconfio que a guerra na Ucrania esconde muitas histórias - a começar por pretensas tentativas de contactos falhados ou recusados para evitar a guerra... -  que estão por contar. Não me espantaria nada que estivessemos em linha com mais uma situação semelhante à que aconteceu no Iraque e no Afeganistão - de onde os EUA sairam de forma vergonhosa abandonando aquele povo ao radicalismo talibã que reassumiu o poder. Espero que tudo o que aconteceu na Ucrânia - onde depois desta guerra nojenta, destruidora e sanguinária é fácil, demasiado fácil, reunir ódios contra Putin, porque na realidade foi ele a invandir um pais independente e a matar pessoas e destruir bens - não se compare a estes casos que referi.

E  não vale a pena perguntar o que fizeram os "indignados" de hoje quando em 2014 a Rússia de Putin invadiu o Donbass, o mesmo Donbass que é hoje palco de combates violentos, ou quando a Rússia tomou de assalto a Crimeira reclamando-a como território russo.

Sim o problema tem a ver com a História, com o processo de desagregação da antiga URSS, com a criação de uma vintena de novos países independentes, a partir do imenso territorio da antiga URSS soviética e comunista. Sim, o problema reside no facto de que Putin, antigo agente secreto do KGB e que há mais de 25 anos deambula pelos corredores do poder em Moscovo, tomando mesmo de assalto os mais altos cargos do país - primeiro-ministro e Presidente - nunca aceitou essa decomposição territorial incentivada e apoiada pelos ocidentais, com os EUA e a Europa à cabeça, que apostaram e conseguiram fragilizar a Russia e tornar Moscovo insignificante no contexto da política mundial, Sim, o problema é que tudo isso mudou agora, e muito, mudou demasiado, de forma violenta e sanguinária, sem que ninguém saiba o que vai acontecer e muito menos garantir como é que tudo isto acabará. Ou se vamos alegre e pateticamente  caminhar para um confronto nuclear guiados por idiotas como o secretário-geral da NATO e outros falcões que, dos dois lados do conflito, condicionam e dominam os processos de decisão das estruturas militares que, de uma forma ou de outra, estão presentes na guerra da Ucrânia.

Mas isso são factos para os especialistas, e para aqueles que acham que só podemos falar da guerra manipulando as opiniões públicas, incluindo a portuguesa, com comentadores televisivos tendenciosos que não explicam todas as realidades históricas essenciais a uma correcta percepção do que se passou na realidade na Ucrânia e no seu processo de independência que Moscovo sempre verberou. Histórias que contribuíram para uma guerra nojenta que todos diziam ser inevitável mas que hipocritamente vieram chorar lágrimas de crocodilo e de falsa surpresa quando os russos entraram há um ano pela Ucrânia e queria tomar Kiev de assalto e destruir o poder ucraniano. Sem sucesso, felizmente.

Mas nada ficará como antes, nada será igual à pré-invasão russa a começar pala Ucrânia apesar de, paradoxo dos paradoxos, este país continuar envolto em escândalos de corrupção em plena guerra, aproveitando-se essas redes de bandidos, com ligações sabe-se lá a quem - já se esqueceram das denúncias do Panamá Papers sobre a Ucrânia e alguns dos seus dirigentes?! Ou não interessa falar nisso agora?! (LFM, artigo de opinião publicado no Tribuna da Madeira de 24.2.2023)

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