Ainda bem
que em política a memória dos homens nem sempre se prolonga indefinidamente no
tempo. Vem isto a propósito das directas no PSD nacional. Aliás, a prova cabal
de que o PSD tem dificuldade em perceber tudo o que se passou em 2015 -
preferindo negar todas as decisões e acontecimentos que atiraram o partido para
a penosa travessia do deserto onde ainda hoje se encontra - reside no facto de
que, para a liderança do partido, concorrem dois figurões desses tempos do
"passismo" e, portanto, dois personagens que, de uma forma ou de
outra, com maior ou menor poder de decisão e espaço mediático, com mais ou
menos protagonismo junto do então líder, fizeram parte desse tempo que continuo
a dizer ter sido o mais negro que o PSD enfrentou, sobretudo quando resolveu
ser, e foi, "mais papista que o Papa" - leia-se a troika -
caindo num fundamentalismo liberalizador abjecto, de total submissão a
exigências externas e onde a Pessoa, os cidadãos em geral, classe média ou não,
pensionistas ou não, funcionários públicos ou não, pobres ou não, menos contavam.
Mas, ao invés disso, para a banca e para os negócios que resultaram de
"privatizações" céleres e estranhas, houve sempre milhares de milhões
de euros que todos ainda pagamos...
Obviamente
que não faço a apologia da terra queimada ou do vazio de poder no PSD nacional,
até porque acho que Rui Rio tem que sair, e rapidamente, da liderança do
partido, de onde discretamente já se devia ter afastado, sobretudo depois da
humilhante derrota que sofreu nas legislativas de 30 de Janeiro de 2022, um dos
piores resultados de sempre do PSD. Falo de um político de cujo perfil consta
apenas o facto de ter sido autarca do Porto e deputado em Lisboa. Nunca foi
membro de qualquer governo, o que não deixa de ser caricato. O problema é que o
PSD, eleja quem eleger, corre o risco, se não for capaz de dar um safanão
nisto, de definhar lentamente ou de prolongar a sua travessia do deserto,
sobretudo se não for capaz de tornear o confronto com esse passado
"passista" e "troikista" que dificilmente deixará de estar
associado ao futuro líder, seja ele quem for. Um passado e um legado que não
renderá nem votos nem criará qualquer relação de confiança com os cidadãos.
Muito menos quando se sabe, insisto, que qualquer dos candidatos à sucessão de
Rio, foram actores dos tempos de Passos Coelho e da troika que o PS de Sócrates
trouxe para o nosso país quando faliu Portugal.
O CDS, já
todos sabemos, por ser o parceiro mais vulnerável dessa coligação Passos-Portas,
foi rapidamente vítima desse tempo, e de uma forma mais acelerada desapareceu
do mapa parlamentar, embora o PSD, e apesar de tudo, quiçá por ser maior, ainda
resiste a esse desgaste que é a primeira causa da queda eleitoral nos últimos
anos.
Mas nada
impede que o PSD - se não for capaz de construir um discurso coerente e
alternativo, com propostas e ideias claras, sem hesitações, sem contradições,
sem avanços e recuos como aconteceu com Rio e seus pares, uma alternativa que respeite e tenha a Pessoa
como epicentro das preocupações, por via de um discurso limpo do fundamentalismo
ideológico radicalizado de direita, e que prevaleceu nos tempos da troika, vá
pelo mesmo caminho do seu antigo parceiro de coligação e ainda mais
aceleradamente.
Seria
penoso recordar-me de Sá Carneiro e ao mesmo tempo ver um PSD a definhar e a tornar-se
insignificante na democracia portuguesa. Prefiro nem pensar nisso... Mas tenho
a convicção de que tudo dependerá da forma como o PSD gerir o seu
posicionamento nesta maioria absoluta de Costa e do PS e da forma como souber
gerir estes mais de 4 anos de oposição em tempos que, no imediato serão de
crise e de perda de poder de compra e aumento das dificuldades das famílias e
empresas, e edificar uma alternativa consistente, credível, assente na lógica e
não na demagogia populista. Mesmo que as pessoas saibam que, nestas conjunturas
de crise, os "milagres" a pataco cheiram a populismo, mentira e manipulação.
Tresandam!
Lembro-me
dos vários conflitos que o ex-maçon (?) Montenegro protagonizou com a Madeira -
mas sobre isso muita coisa poderia ser dita, particularmente sobre a coerência
de posições assumidas que não pode morrer no tempo como se as pessoas se esquecessem
de tudo o que aconteceu ou foi dito - dos processos que o grupo parlamentar em
São Bento instaurou aos deputados da RAM por causa das votações do OE penalizador
da Madeira, das pressões para que Guilherme Silva abandonasse a
vice-presidência da Assembleia da República, das declarações agrestes de
Montenegro líder parlamentar contra os deputados do PSD-M que não se
comportaram como "carneiros" ignorando a imposição da disciplina de
voto.
Disciplina de voto num partido que nesses tempos teve como prioridade prejudicar a Madeira - e sobre isso muita coisa a história um dia terá que contar para percebermos tudo o que se passou, ligações, boicotes, propósitos, com destaque para o deliberado boicote a uma campanha eleitoral que foi das mais difíceis de sempre, a de 2011, devido à polémica suscitada pela descoberta do "buraco" financeiro, em Junho de 2011 com a chegada da troika, facto que para a hostil nomenclatura dirigente nacional do PSD em Lisboa, traçou o destino de AJJ. Pessoalmente não me esqueço: foi em São Roque, Funchal, num jantar-comício no recinto da escola do Galeão que ficamos a saber de tudo... (LFM)
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