A pandemia parou o setor da aviação. Depois de meses, os voos comerciais começam agora a rasgar de novo os céus. Processo lento, praguejado de dificuldades das companhias e de receio por parte dos passageiros. E tudo isso espelha bem a realidade atual do turismo português. É uma espécie de pescadinha de rabo na boca.
A low-cost Ryanair anunciou a eliminação de três mil postos de trabalho nos aviões e 250 nos escritórios (Foto: Oli Scarff/AFP)
Por incrível que pareça, aconteceu há um ano. No dia 8 de junho de 2019, a notícia enchia o país de orgulho. Reforçava-nos a fama e sublinhava o potencial das nossas paisagens além-fronteiras. Portugal era eleito, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor destino turístico europeu pelos World Travel Awards, os oscars do turismo. O reconhecimento vinha em crescendo, muito antes disso. Era notório. Maioritariamente pelos aviões que aterravam cheios. No Porto, em Lisboa e no Algarve. Não faltavam elogios. “Amazing”, “beautiful”, “oh my God”. Nunca o setor do turismo foi tão próspero. Abriam-se restaurantes, porta sim, porta sim. Os alojamentos locais proliferavam como pipocas. Os tuque-tuque como formigas. As praias eram enxames. O Alentejo fazia o pleno. O Interior cativava pela calma. O Minho pela sombra. As ilhas pela beleza. Os cruzeiros não tinham mãos a medir. Nem os tours de norte a sul. A dada altura, deu-se a questão de haver turistas a mais. E de repente, precisamente um ano depois, o panorama é, no mínimo, curioso. A época balnear já abriu, mas este não será um verão como os outros. Fruto de circunstâncias inéditas. Em todos os sentidos. Miguel Aguiar, piloto da TAP, inspira fundo antes de constatar a dura realidade. 53 anos de vida. 30 de aviação. “É a primeira vez que fico tanto tempo sem voar.” E embora assuma que estas não tenham sido semanas depressivas, ao fim de mais de dois meses sem entrar num cockpit há algo que o começa a inquietar. Não há outra forma de o dizer. “Sinto saudades de voar um avião e da azáfama das operações. Já sabia bem ir trabalhar.”
A questão é que ainda não há perspetivas para isso acontecer. E enquanto a situação do lay-off se mantiver, continuará em Beja, onde se confinou com a família. Dedicado à bricolage, à jardinagem. Sem obrigações laborais, não deixa de estar atento ao que se passa. E assim, por “alta recriação”, junta a responsabilidade e a vontade de estar apto para quando for chamado e tem aproveitado para “refrescar o estudo de manuais e estar atento às alterações na aviação”, mesmo em termos de legislação europeia. “Por exemplo, se não aterrar no Funchal durante seis meses, tenho de voltar a fazer simuladores.” Em alguns casos, durante a pandemia, esses prazos foram alterados. Miguel não fecha os olhos. “Vou acompanhando para ver se não perdi qualificações.” Acaba por ser uma forma de preencher os dias e de manter estável a confiança. “Mais mês, menos mês, isto há de retomar e com essa atitude vamos enfrentando as coisas.” O piloto acredita que os passageiros “estão doidos por voltar a viajar”, mas admite que possam ter “medo de chegar aos destinos e de serem obrigados a fazer quarentena ou impedidos de entrar nos países”. Algo que se resolverá, “assim que ficar claro que as pessoas podem circular.” É quase como a ida às praias, as pessoas estão com receio, mas precisam sair e voltar rapidamente à vida normal.”
Os dias passam e o desconfinamento faz-se lento, desconfiado (Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP)
O tal normal, já se sabe, é um manto de nevoeiro. Metaforicamente, essas são sempre condições atmosféricas difíceis para a aviação. No turismo a incerteza é grande. Quem o salvará? Melhor, de que forma pode ser salvo? A pandemia esvaziou os céus e arrastou as companhias aéreas, apontadas como engrenagem do setor, para uma crise séria, à escala mundial. O fantasma da falência está à espreita. No primeiro mês de confinamento, as companhias aéreas perderam mais de 227 mil milhões de euros. No segundo mês, a maioria das operações manteve-se reduzida a 10%, no melhor dos cenários. A Associação de Transporte Aéreo Internacional estima que o impacto da pandemia no volume de negócios em 2020 represente uma redução de 55% em relação a 2019.
E, entretanto, os dias passam e o desconfinamento faz-se lento, desconfiado. A retoma não será feita como um salto de trampolim. Vai arrastar-se. E com ela haverá companhias que podem não sobreviver. Aliás, muitas estão em sérias dificuldades, pendentes do apoio dos governos. É o caso da TAP. Uma intervenção que custará “umas centenas largas de milhões de euros”. “Ainda estamos a fazer a avaliação”, referiu o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos. Um sacrifício com justificação. “Não podemos deixar de ter em conta o que a TAP representa para a economia nacional em termos de emprego, receitas, turismo, exportações. E é este equilíbrio que temos que fazer”, admitiu, sem deixar de referir a “dívida brutal” da TAP, “de mil milhões de euros”, que chega “aos 3,3 mil milhões juntando os contratos de leasing de aviões”. A intervenção exigirá uma revisão do plano estratégico. Terá consequências “do ponto de vista de frota”, porque “a dimensão que a empresa hoje tem não é sustentável face ao momento que nós vivemos e que vamos viver nos próximos anos”, esclareceu o ministro.
À polémica do dinheiro juntaram-se as rotas. A TAP esteve há pouco tempo “debaixo de fogo” por anunciar que ia centrar a maioria das operações de retoma em Lisboa e praticamente ignorar os restantes aeroportos nacionais, deixando o Porto com apenas dois voos internacionais (e outro para o Funchal, sendo a ponte aérea operada a partir da capital) e Ponta Delgada com apenas duas ligações, a Boston e a Toronto, a partir de julho. As reações não tardaram. A voz mais sonante foi a de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, que acusou a companhia aérea de segregar o Norte. “O Porto, Trás-os-Montes, o Douro e o Minho, e a parte norte da região centro, também fazem parte de Portugal.” O autarca foi mais longe. “Na senda daquilo que tem sido a sua história, a TAP nunca perdeu o vínculo de ser uma empresa de caráter colonial e a sua estrutura nunca pensou de outra maneira.”
O debate incendiou com o Bloco de Esquerda e o PCP a considerarem que as opções tomadas pela companhia justificam a nacionalização, enquanto o PS convocou Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração da empresa, a dar explicações urgentes no Parlamento. A TAP acabou por recuar no plano anunciado: “O Conselho de Administração da TAP SGPS, SA afirma que a companhia está empenhada e vai de imediato colaborar com todos os agentes económicos, nomeadamente associações empresariais e entidades regionais de turismo, para viabilizar o maior número de oportunidades, adicionar e ajustar os planos de rota anunciados para este momento de retoma, por forma a procurar ter um serviço ainda melhor e mais próximo a partir de todos os aeroportos nacionais onde a TAP opera”. A Ryanair aproveitou e já veio anunciar, a partir de outubro, voos adicionais desde o Porto para Barcelona, Milão, Bruxelas (rotas suspensas pela TAP) e Madrid, bem como uma nova ligação para Varsóvia (Polónia).
Durante a pandemia, em abril, a TAP viu a sua operação de mais de três mil voos semanais ser reduzida para cinco ligações semanais entre Lisboa e as regiões autónomas da Madeira e Açores.
Manuel Santos, 46 anos, piloto da TAP, não participou em nenhuma. Voa há 18 e também ele nunca ficou tanto tempo em terra. Mais de 100 dias. Dividido entre a cozinha, a jardinagem e a família, foi tendo conferências na plataforma Teams para se manter ligado à corrente. “Estamos em lay-off, mas a companhia teve esse cuidado. Claro que é de caráter voluntário, mas é bom para rever matérias e nos mantermos atentos.” O piloto também não encarou estes meses com stresse. “Tento pensar que é uma situação temporária, os anos de profissão ajudam-nos a controlar a ansiedade.” Mas não consegue evitar o sentimento de falta de produtividade e a tristeza de cada vez que, de longe a longe, vê um avião no ar. “O dia em que regressar à empresa vai ser uma festa, uma alegria.” A incógnita é quando. “Eu tenho um feeling que em julho, mesmo voando pouco, inicio alguma atividade. Ao certo não sabemos. Vai ser preciso haver aceitação por parte dos passageiros. Não adianta abrir 100 rotas se depois não há passageiros para isso. Terá de haver confiança. Segurança nos voos haverá.”
Em 18 anos como piloto, Manuel Santos nunca ficou tanto tempo em terra. Aponta o dia de regresso para breve e já imagina que será uma grande alegria (Foto: DR)
Em 2020, o número de turistas no Mundo pode cair entre 60 e 80% por causa dos efeitos da pandemia, de acordo com as últimas previsões da Organização Mundial de Turismo, publicadas no início de maio. Devido a isso, estima-se que só na Europa sejam precisos 30 mil milhões para amparar as quedas vertiginosas das companhias aéreas. Os despedimentos estão na mira. Veja-se o processo da Lufthansa, a maior companhia aérea alemã que, combinada com as suas subsidiárias, é a segunda maior da Europa em termos de passageiros transportados. Há dias, depois do conselho de supervisão da empresa ter aprovado o plano de resgate do Governo alemão e da Comissão Europeia, no valor de nove mil milhões de euros, a Lufthansa anunciou que vai avançar com cortes. O regresso aos céus, nos próximos meses, obrigará a emagrecer frotas e a cortar nos trabalhadores. Para já, só no Velho Continente, o despedimento já afetou 140 mil trabalhadores. Na lista estão Ryanair, EasyJet, Aer Lingus, Norwegian, Finnair e Qatar Airways. O número vai certamente disparar quando a essas se juntarem a British Airways, a American Airlines, a Delta, a United e a Southwest, que planeiam cortar milhares de postos de trabalho ou reduzir horas, mesmo com as ajudas estatais de muitos milhões. Inevitavelmente, a Emirates, a Aeroméxico e a Air Canada têm planos no mesmo sentido.
Julyana Yokota, analista da S&P Global Ratings, explicou ao jornal espanhol “El Economista” que o tráfego aéreo deverá demorar pelo menos três anos a voltar ao que era antes de a covid-19 ter obrigado a aterrar todos os aviões de uma vez. “O tráfego de passageiros vai diminuir entre 50% e 55% em 2020. Antecipamos que o número de passageiros fique abaixo dos níveis pré-pandémicos até 2023.” A Boeing é ainda mais pessimista e diz mesmo que poderá atrasar esta recuperação até 2025. Desde que tornaram a levantar voo, as empresas de aviação têm feito os possíveis para se adaptar ao mercado, que será obrigatoriamente diferente nos próximos anos.
Eva Aguiar tem 23 anos e é filha do primeiro piloto citado neste texto, Miguel Aguiar. A jovem que seguiu as pisadas do pai começou a trabalhar há um ano e meio na TAP. Confinada no Alentejo, desabafa que a atual situação não lhe ocorreria nem nos seus piores pesadelos. “Tudo isto foi bastante estranho e inesperado. A nossa área, apesar de passar por muitas crises, nunca se viu numa situação como esta.” Eva partilha do mesmo desejo de normalidade do pai. “As pessoas vão precisar de viajar, tanto a nível pessoal como profissional. E julgo que os procedimentos implementados serão suficientes para transmitir confiança tanto aos passageiros como aos trabalhadores, de que será possível voar em segurança.”
Uso de máscaras, diminuir bagagem de mão e evitar cruzamento de passageiros são algumas das regras de prevenção da covid-19 que podem manter-se em vigor como mecanismos de segurança para evitar novas pandemias. Apesar disso, e mesmo que o ar na cabine dos aviões seja comprovadamente filtrado como nenhum outro, a confiança dos passageiros é que vai ditar o número de deslocações nacionais e internacionais. Outrora apinhados, os aeroportos seguem vazios. A Associação Internacional de Transporte Aéreo calcula que o impacto da pandemia na aviação se prolongue a médio prazo, sendo pior nas rotas de longo curso.
Eva e Miguel Aguiar, ambos pilotos da TAP, estão confinados em Beja, à espera de serem chamados para trabalhar (Foto: DR)
Segundo a Navegação Aérea de Portugal, em março os voos sobre os céus nacionais diminuíram 36% relativamente ao mesmo mês do ano passado – menos 24 300 voos, realizando-se 43 800. Em abril, a quebra foi de 94%, correspondendo a apenas quatro mil dos 69 mil registados em abril de 2019. Também foi nesse mês que praticamente todos os 105 aviões da TAP ficaram em terra, cerca de nove mil trabalhadores entraram em lay-off e mil tiveram redução de 20% no horário. A reposição de mais alguns voos começou devagar, a 8 de maio, e só se prevê que aumente ligeiramente em julho. Até agora, o tráfego nos aeroportos nacionais atingiu quebras superiores a 90%, ainda que algumas companhias já tenham recomeçado a voar. Com máscaras e sem limitações à lotação de passageiros.
Em Faro, destino turístico português, e postal por excelência no estrangeiro, o ambiente é de confiança. Elidérico Viegas, presidente da AHETA – Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve – salienta, antes de tudo, que “a região é vista como segura” por “ter ficado praticamente de fora da pandemia, devido ao baixo número de infetados”. Um resultado que se traduz numa “valência competitiva muito importante com a concorrência mais direta que é Espanha”.
O fenómeno parece calhar bem, já que a maioria dos portugueses está a evitar fazer planos ou marcações de férias a longo prazo, revelou a sondagem da Pitagórica para o JN. Dos 25% que tinham planeado viajar para fazer férias no estrangeiro, só 2% mantêm essa intenção. Metade vai passar o próximo verão em território nacional. Aliás, enquanto não houver vacina ou tratamento eficaz para a covid-19, 73% dos inquiridos consideram pouco provável viajar para fora do país. Elidérico Viegas confia que muitos em julho e agosto irão rumar ao Algarve. “Assim, no que diz respeito ao turismo interno, as nossas perspetivas são de retoma, no que diz respeito ao turismo externo existem muitos fatores de incerteza, tudo vai depender do comportamento do transporte aéreo e das restrições dos países que, esperamos, possam ser esbatidas.”
As principais companhias de aviação a aterrar em Faro (Ryanair, EasyJet e Jet2), que asseguram 70% do tráfico aéreo da região, já anunciaram a retoma dos voos. O que aumenta a confiança dos empresários relativamente ao verão. “É significativo se pudermos contar com alguma receita que ajude a esbater os efeitos negativos da pandemia que nestes meses reduziu a faturação a zero.” A notícia de que o Reino Unido queria impor uma quarentena de 14 dias a todas as pessoas que chegassem ao país vindas do estrangeiro preocupou o Governo português. O mercado inglês representa cerca de uma em cada cinco dormidas na hotelaria, uma fatia considerável dos turistas que se deslocam todos os verões a Portugal. Por isso, o Governo encetou negociações para a criação de um corredor bilateral para o turismo, que permita assegurar essas deslocações. De acordo com Elidérico Viegas, a grande maioria dos hotéis e empreendimentos turísticos já decidiu reabrir na segunda quinzena de julho e na primeira semana de agosto. “Os hotéis têm nos seus manuais de boas práticas medidas que asseguram e induzem confiança aos hóspedes, mas não são desnecessariamente exigentes a ponto de desmotivar quem queira viajar.” O representante da AHETA dá como exemplo o acesso às praias. “Somos um exemplo, reconhecidos internacionalmente, o que na nossa perspetiva é uma vantagem competitiva importante.” O futuro alimenta-se dessas faíscas de esperança. Portanto, remata, “não vamos ter um ano turístico igual ao do ano passado, mas temos perspetivas positivas.”
O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal defende que esta fase de desconfinamento é a “grande oportunidade” para os quatro “subdestinos” da região mostrarem aquilo que têm de melhor aos turistas nacionais. “Se calhar, está na hora de os portugueses voltarem também a olhar para o país fantástico que têm e perceberem que conseguem fazer dentro do nosso território férias inesquecíveis”, disse Luís Pedro Martins, no fim de maio, enaltecendo “a segurança, a natureza, a tranquilidade, a privacidade e as experiências diversificadas” que existem no país.
Falta a confiança
Pedro Coimbra tem 26 anos e também é piloto da TAP. Começou na Ryanair. Há cinco anos e meio que tem a profissão dos seus sonhos. Num ápice viu, como todos os colegas, a situação descontrolar-se. É uma questão de personalidade ver o copo meio cheio. Tem aproveitado o tempo em terra para fazer desporto, estar com os amigos e ter outra rotina. A paragem forçada coincidiu com a mudança de casa. “Até deu jeito”, brinca. A verdade é que não consegue desligar dos aviões. E mantém constante contacto com os colegas, “uma maneira de não perder o ritmo”. Por tudo isso, não tem sido difícil preencher os dias. Mas falta-lhe – são palavras suas – “o cheiro do avião, a conversa do cockpit”. A mão está estendida e quase toca o céu. Quase. “Está toda a gente expectante, as companhias estão dependentes dos passageiros, e se eles têm medo de voar, mesmo que se levantem as restrições, vai ser complicado.”
O lay-off da TAP coincidiu com a mudança de casa do piloto Pedro Coimbra, que, apesar de bastante ocupado, não se consegue desligar das notícias da aviação (Foto: DR)
No ar, em vez de aviões, tem havido espírito de entre ajuda. “Se a companhia precisar que vá para outro sítio, vou. Quem trabalha nesta área fá-lo por paixão. É o meu caso. O espírito agora é de sacrifício, são e continuarão a ser tempos difíceis.” O jovem piloto olha para dentro de casa. “As pessoas da minha idade têm vontade de viajar. Já a geração dos meus pais está mais reticente no que toca a voltar ao normal, muitas delas estão a transferir os planos das viagens para locais mais próximos, onde possam ir de carro.”
A Comissão Europeia abdicou da regra de colocar assentos vazios para garantir distanciamento dentro dos aviões, reconhecendo que afetaria a viabilidade económica das operações. E já são muitas as companhias em risco. França e Holanda socorreram a Air France-KLM com um plano que vai de 9 a 11 mil milhões de euros. Itália optou por nacionalizar a Alitalia. A Easyjet obteve um empréstimo público de 600 milhões de libras (cerca de 675 milhões de euros) e a Suíça garantiu 1,2 mil milhões de euros em empréstimos à Swiss e à Edelweiss, filiais da Lufthansa.
O Governo português vai prolongar até 15 de junho a interdição de voos de e para fora da União Europeia, com exceções às ligações para países extracomunitários com forte presença da comunidade portuguesa: Canadá, Estados Unidos, Venezuela e África do Sul. Também serão mantidos voos para todos os países de língua oficial portuguesa.
Nuno Duarte, 49 anos, radicado na base portuense da TAP, também não vê a hora de voltar a entrar num avião. “Tenho muitas saudades de voar, cresci no aeroporto, tenho outro irmão que é piloto, vive no Dubai, somos uma família de aviões.” Ultimamente, em vez da farda habitual, usa a de chefe de cozinha, professor e jardineiro. “Faço de tudo, estamos a aprender uma data de coisas para nos ocuparmos.” No ar, só mesmo a esperança. Falar com os colegas sobre a crise é inevitável. “Não vale a pena fazer muitos cenários porque, na realidade, nem as empresas sabem o que o Governo vai decidir, nem se conhece a reação do público.” E essa é que é a grande incógnita. “Já foram colocados vários voos à venda e há pouquíssimos passageiros, obrigando a cancelamentos. As pessoas ainda têm medo de voar.”
Nuno Duarte tem dividido o tempo entre a família, a cozinha e a telescola das filhas. E aguarda expectante a reação do público à abertura normal dos voos(Foto: DR)
João Lima Pereira, 34 anos, também piloto da mesma companhia aérea, só que na base de Lisboa, diz não haver outra maneira de se levar isto. “Está fora do nosso controlo, não podemos fazer nada. A nossa profissão é muito específica, só voamos aviões.” O piloto não encobre a realidade, apesar de manter o pensamento positivo. “Quando voltarmos a voar, a normalidade não será aquela a que estávamos habituados.” Ciente disso e do muito que está em jogo, sublinha esperar “que haja da parte de toda a gente vontade de fazer uma retoma com cabeça, para evitar que muita gente perca o emprego neste setor.” E esse setor, factualmente o meio de transporte por excelência dos turistas, encaixa no fenómeno de pescadinha de rabo na boca. Para o bem e para o mal (Notícias Magazine, texto da jornalista Filomena Abreu)
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