Um inquérito europeu mostra que 62% dos portugueses manifesta racismo, ou seja tem opiniões ou acredita em máximas racistas. O European Social Survey (ESS), cuja edição mais recente é de 2018/2019, parte de um conjunto de perguntas para perceber com que ideias concordam os cidadãos europeus: há grupos étnicos ou raciais por natureza mais inteligentes? Há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores? Há culturas, por natureza, mais civilizadas que outras´? As primeiras duas medem o racismo biológico, ao passo que a última oferece indicadores sobre o chamado racismo cultural.
Há ainda quem discorde de todas estas ideias, mas fica-se apenas pelos 11%. Os números revelam, por isso, que há três vezes mais pessoas a manifestar racismo do que a rejeitar o mesmo. Segundo a mesma publicação, o inquérito foi realizado em Portugal com base numa amostra aleatória de 1.055 pessoas representativa da população.
Analisando pergunta a pergunta, nota-se que 59% dos portugueses discorda da ideia de que há grupos étnicos ou raciais mais inteligentes. Por outro lado, 33,1% discorda da crença de que há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores. Os números descem ainda mais quanto à crença racista de que há culturas mais civilizadas do que outras: apenas 12,6% discorda.
O ESS aponta ainda para diferenças ao nível da faixa etária. Quanto mais velhos são os portugueses, maior é o número de pessoas que manifesta racismo: 70% dos que têm entre 15 e 35 anos discorda de que existam grupos étnicos ou raciais mais inteligentes, ao passo que somente 34% dos que têm mais de 70 anos não concorda com esta ideia. Além disso, 81% dos inquiridos com mais de 75 anos concorda que há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores.
Os mais jovens, contudo, também mostram tendências racistas no que ao racismo cultural diz respeito. Se é verdade que entre as pessoas com mais de 75 anos, 94,3% acredita que há culturas mais civilizadas do que outras, também é veradade que 70% dos inquiridos entre os 15 e os 35 anos pensa o mesmo. O mesmo estudo aponta ainda que maiores níveis de escolaridade ou de rendimento não apagam por completo o racismo, ainda que se note menos racismo entre estes cidadãos: 79,1% dos licenciados e 74,8% dos que vivem confortavelmente com o seu rendimento discordam que há grupos étnicos ou raciais por natureza mais inteligentes, o que compara com 41% dos que têm o ensino básico e 48,9% do que têm dificuldade em viver com o seu rendimento. «Ao contrário do que se diz, as crenças racistas estão disseminadas na sociedade portuguesa», garante a socióloga Alice Ramos, coordenadora nacional do ESS em Portugal. segundo a mesma responsável, houve cerca de 10% a optar por “não concordo nem discordo”, que pode ser um «cantinho que as pessoas escolhem por não quererem revelar» crenças racistas. «Porque é feio ser racista, há uma norma de anti-racismo e apesar de tudo as pessoas não gostam de dizer que o são», esclarece Alice Ramos (ED)
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