Reino Unido, Grécia, Malta ou Dinamarca estão a
fechar-se a Portugal devido ao aumento da pandemia, as agências de viagens
falam da "pior crise de sempre" e esperam que o panorama se reverta
em julho. Portugueses são os únicos a reservar férias, mas com uma procura 95%
abaixo do habitual. O aumento de novos casos de covid-19 em Portugal, numa
altura em que os países estão a decidir a reabertura de fronteiras e a retoma
de voos, está a trazer um revés ao sector do turismo e viagens. Segundo a Abreu
Viagens, a maior rede de agências a nível nacional e líder de mercado, o
momento já é grave tendo em conta que as vendas de viagens organizadas para
trazer estrangeiros a Portugal estão paradas a 100%, e com quebras da ordem dos
95% no que toca a levar os portugueses para destinos no exterior.
"Este verão, temos zero reservas de estrangeiros
na Abreu. Teve de ser tudo cancelado desde março, e a situação continua, porque
as fronteiras ainda não foram abertas", adianta Pedro Quintela, diretor de
operações da Abreu Viagens, que se ressente por ter totalmente paralisados, e
já desde março, os escritórios de vendas no Brasil e na América Latina, os seus
mercados mais fortes no verão no segmento designado de 'incoming' (captação de
turistas estrangeiros a Portugal).
"Esses que são os nossos principais mercados
externos estão há quatro meses reduzidos a zero, nunca passámos um momento assim.
Isto não tem só a ver com a realidade da pandemia em Portugal, mas também dos
próprios países, pois o Brasil e a América Latina estão a sofrer bastante com a
covid-19", salienta o responsável da Abreu, reiterando que "trazer
estrangeiros para Portugal é um negócio que parou, e os que vêm é por sua
iniciativa, sem recorrer a agências".
As viagens dos portugueses ao exterior (segmento
designado de 'outgoing', na gíria das agências) também está a ter quebras de
90% a 95% face ao que era no ano passado. "A procura para sair do país
está muito reduzida, e não é só na Abreu, mas em qualquer agência de viagens em
Portugal. Há fronteiras ainda fechadas, países que anunciam que não vão abrir a
Portugal, mas esperamos que isso possa mudar em julho, para no verão poderemos
recuperar um pouco da situação que tivémos em março, abril e maio", refere.
Há mais de uma dezena de países que nesta fase estão a
fechar-se a Portugal no processo de retoma de voos, ou a impôr restrições aos
turistas como quarentenas no regresso, mas ainda não se sentiram estes impactos
porque as vendas das agências de viagens já estavam a bater no fundo desde
março. "Não há aqui uma relação direta com a quebra de reservas, que de
forma estável se mantém negativa, uma vez que não tem havido procura",
resume o diretor de operações da Abreu, frisando que, a prolongarem-se pelo mês
de julho, estas restrições já irão fazer soar os alarmes.
Se a lista dos países que estão a excluir Portugal ou
a criar restrições tem casos que não fazem grande mossa às agências de viagens,
como Lituânia, Eslováquia ou Eslovénia, também envolve destinos populares de
férias para os portugueses, como Malta ou Grécia, além de Dinamarca ou Áustria.
O destaque vai para a Grécia, que deixou Portugal de fora ao reabrir as fronteiras
a 29 países, a 15 de junho. "Se a situação não se alterar, em destinos
como a Grécia pode haver um impacto forte para nós. Estamos ainda num período
em que não temos tido o que vender, mas a partir de julho o impacto já será
muito maior, se se mantiverem as limitações destes países", sublinha Pedro
Quintela.
Outro caso crítico é o Reino Unido, que impõe
quarentenas aos viajantes vindos de Portugal. "É uma limitação enorme. O
Reino Unido é um dos destinos onde os portugueses mais fazem 'short breaks'
(viagens de estadas curtas), e se tiverem de ficar 14 dias de quarentena vai
tudo por água abaixo", faz notar o responsável.
“ESTAMOS À ESPERA DE UM VERÃO NEGATIVO, COMO NUNCA
TIVEMOS NA VIDA”
"Estamos todos ansiosos que chegue o mês de julho
para fazer as poucas reservas que temos, e esperando que a situação se altere
até lá - que Portugal deixe de ter 400 casos por dia e que os países vão
levantando as limitações", frisa o diretor de operações da Abreu,
lembrando que a 1 de julho reabrem as fronteiras entre Portugal e Espanha.
"Já temos alguma procura por ilhas espanholas ou o sul de Espanha. Mas
estou a falar de coisas muito ténues e residuais, as pessoas estão com medo de
viajar, apesar de terem vontade, e estamos à espera de um verão negativo, como
nunca tivemos na vida".
De momento, o que os portugueses mais procuram são
destinos nacionais. "Temos portugueses a fazer reservas no verão para
Madeira e Porto Santo, para o Algarve, o Alentejo ou o norte, mas com uma
procura muito inferior à que havia anteriormente", refere Pedro Quintela,
lembrando que "para novembro já temos algumas reservas para países
asiáticos, há uns portugueses mais arrojados que pensam viajar até às Maldivas,
Tailândia, ou Zanzibar que têm praias mais exóticas, e as pessoas têm a perceção
que, ficando numa ilha, estão mais seguras relativamente à situação da pandemia.
Mas tudo isto é muito residual".
No meio de um panorama negativo, as "boas notícias"
destacadas por Pedro Quintela prendem-se com o facto de a Ryanair estar a
relançar voos na Europa, a par de outras companhias aéreas. "As rotas vão
sendo definidas, mas podem ser desmarcadas à última hora se não houver clientes
suficientes. Esta incerteza é o drama que estamos todos a passar."
O maior risco nesta altura é Portugal "passar a
ser percecionado pelos clientes como um destino não seguro em termos de
covid-19", e segundo Pedro Quintela "o que há a fazer a seguir é
reduzir os números atuais, e não tentar escondê-los, para o país continuar a
ser visto como um exemplo na forma como lida com a pandemia. E fazer o que for
possível para transmitir no exterior que estamos a gerir os casos de forma
real, e que continua a ser seguro visitar Portugal. Esse tem de ser o
caminho".
"Que países estão de facto a comunicar o que é
real, ou a pensar no turismo que querem captar?", questiona o diretor
operacional da Abreu, referindo não sentir "que Portugal seja visto como
um país que está numa 'lista negra', ainda", mas vai depender da forma
como destinos concorrentes "se procuram vender como seguros, sem
despromover outros. Há destinos que dependem muito de turismo, e neste momento
até Espanha e Itália, que passaram o que passaram, estão a promover-se de forma
muito incisiva".
Apesar de todas as incertezas geradas pela covid-19, a
partir de julho a Abreu vai reabrir mais lojas, passando das 26 que já
reabriram para mais de 50 (a empresa portuguesa de viagens tem ao todo 140
lojas). A certeza é que "este é o pior ano de sempre para o sector, a
Abreu em 180 anos de história nunca viveu uma crise assim, nem mesmo com a
pandemia da gripe espanhola. Estar quatro meses com o negócio parado, e ainda
por cima a ter de reembolsar por tudo o que parou, é uma realidade nunca antes
vivida" (Expresso da jornalista Conceição Antunes)
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