sábado, junho 27, 2020

«Situação em que estamos não é assim tão diferente daquela em que estávamos em Março», aponta especialista


Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, alertou, em entrevista ao “Diário de Notícias” (DN), que «há um número importante de novos casos todos os dias, que implicam um esforço de contenção e se não intervirmos a situação poderá eventualmente degradar-se».
«Não é uma catástrofe, mas também não é uma situação que nos deixe tranquilos», sublinhou, denunciando que «as unidades de saúde estão muito pressionadas» e já «há muitas semanas».
No entender do médico, «deveria ter havido planeamento». «Se há três meses, os países foram apanhados de surpresa e não estavam preparados, nestes três meses já é mais difícil de perceber porque é que não se acautelaram estas situações, designadamente ao nível dos recursos humanos», afirmou ao “DN”, considerando que «tivemos um primeiro embate em que as coisas acabaram por não correr assim tão mal, o que foi positivo, mas depois não se preparou a retoma».

Para Ricardo Mexia, é também «fundamental que as mensagens sejam coerentes e claras» e que «as pessoas percebam que a situação em que estamos não é assim tão diferente daquela em que estávamos em Março», porque «não temos nem imunidade de grupo nem vacina nem uma terapêutica eficaz».
O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública defendeu que é necessário identificar os casos suspeitos, testá-los, colocar os casos positivos em isolamento e os contactos em quarentena. «Temos constatado que alguns bairros, onde existe maior desigualdade social, têm registado maior incidência da doença. Provavelmente, as pessoas que vivem nesses bairros têm maior dificuldade em cumprir o distanciamento, portanto é importante criar medidas para que isso possa fazer-se de forma mais adequada. A questão da precariedade laboral também tem que ser tida em conta», referiu ainda.
Questionado sobre se existe o risco de voltarmos ao confinamento, Mexia admitiu que «é difícil fazer uma avaliação apenas com um indicador». Ainda assim, sublinhou, «ninguém deseja regredir naquilo que são as actividades que já estão permitidas», mas «não regredir depende de todos nós».
Recorde-se que Portugal totaliza 1.543 óbitos associados ao novo coronavírus num total de 40.104 casos de infecção, mostram os dados do boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na quarta-feira. Segundo a DGS, a região de Lisboa e Vale do Tejo regista já 17.527 casos, tendo ultrapassado o Norte (17.339) (ED)

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