Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos
Médicos de Saúde Pública, alertou, em entrevista ao “Diário de Notícias” (DN),
que «há um número importante de novos casos todos os dias, que implicam um
esforço de contenção e se não intervirmos a situação poderá eventualmente
degradar-se».
«Não é uma catástrofe, mas também não é uma situação
que nos deixe tranquilos», sublinhou, denunciando que «as unidades de saúde
estão muito pressionadas» e já «há muitas semanas».
No entender do médico, «deveria ter havido
planeamento». «Se há três meses, os países foram apanhados de surpresa e não
estavam preparados, nestes três meses já é mais difícil de perceber porque é
que não se acautelaram estas situações, designadamente ao nível dos recursos
humanos», afirmou ao “DN”, considerando que «tivemos um primeiro embate em que
as coisas acabaram por não correr assim tão mal, o que foi positivo, mas depois
não se preparou a retoma».
Para Ricardo Mexia, é também «fundamental que as
mensagens sejam coerentes e claras» e que «as pessoas percebam que a situação
em que estamos não é assim tão diferente daquela em que estávamos em Março»,
porque «não temos nem imunidade de grupo nem vacina nem uma terapêutica
eficaz».
O presidente da Associação dos Médicos de Saúde
Pública defendeu que é necessário identificar os casos suspeitos, testá-los,
colocar os casos positivos em isolamento e os contactos em quarentena. «Temos
constatado que alguns bairros, onde existe maior desigualdade social, têm
registado maior incidência da doença. Provavelmente, as pessoas que vivem
nesses bairros têm maior dificuldade em cumprir o distanciamento, portanto é
importante criar medidas para que isso possa fazer-se de forma mais adequada. A
questão da precariedade laboral também tem que ser tida em conta», referiu
ainda.
Questionado sobre se existe o risco de voltarmos ao
confinamento, Mexia admitiu que «é difícil fazer uma avaliação apenas com um
indicador». Ainda assim, sublinhou, «ninguém deseja regredir naquilo que são as
actividades que já estão permitidas», mas «não regredir depende de todos nós».
Recorde-se que Portugal totaliza 1.543 óbitos
associados ao novo coronavírus num total de 40.104 casos de infecção, mostram os
dados do boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na
quarta-feira. Segundo a DGS, a região de Lisboa e Vale do Tejo regista já
17.527 casos, tendo ultrapassado o Norte (17.339) (ED)
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