terça-feira, março 24, 2020

Covid-19: Algumas coisas que gostávamos de saber (a par com outras que infelizmente já sabemos)

- Qual a principal forma de transmissão do vírus?
A mais importante parecem ser as gotículas de tosse e espirros emitidas por alguém próximo de nós. Daí a necessidade de nos mantermos a uma distância segura dos outros - um metro no mínimo, mas há quem recomende dois metros. Quando depositadas em determinadas superfícies, ou mesmo na mão de quem espirra, essas gotículas invisíveis podem ser transmitidas a outra pessoa que entre em contacto com elas, por exemplo num aperto de mão. Se essa pessoa levar então a mão à boca, ao nariz ou aos olhos, a possibilidade de ser contagiada é real. Lavar as mãos com bastante frequência e evitar tocar na cara com elas é a recomendação essencial.

- Quanto tempo dura o vírus em vários tipos de superfícies?
Segundo um estudo publicado há dias, ele mantêm-se ativo até 72 horas sobre o plástico e o aço inoxidável, até 4 sobre o cobre e 24 sobre cartão. Tecidos, e de modo geral superfícies absorventes, são onde ele dura menos tempo. Mas mesmo no plástico e no aço, ao fim de algumas horas, o seu poder patogénico diminui, e ao fim de um dia ou dois está muito reduzido.
- Quem pode ficar infetado?
Basicamente, ao que parece, toda a gente, embora as crianças pareçam ter uma resistência mais elevada do que os adultos, e em especial as pessoas idosas. Estas últimas são a categoria da população mais vulnerável ao Covid-19 (a doença que resulta do vírus), juntamente com as pessoas que sofrem de obesidade, diabetes, doenças cardio-vasculares e oncológicas.
- As crianças podem transmitir o vírus a adultos, mesmo estando assintomáticas?
Ao que parece, sim, ainda que não existam dados completamente seguros. A confirmar-se, isto mostra como a decisão de fechar as escolas é necessária nesta altura. Nem sempre um dos progenitores pode ficar em casa a tomar conta dos filhos pequenos. Se as crianças ficarem com os avós, estes poderão ficar em risco acrescido, sobretudo se a escola só tiver fechado numa altura em que as crianças já tiverem sido infetadas pelo vírus.
- Qual o período de incubação?
A estimativa mais citada vai até 14 dias, mas há quem refira a possibilidade de ir até quase um mês.
- Quais são os sintomas de infeção?
Os dois mais frequentes são a febre e a tosse seca, seguidos por dores de cabeça, dificuldades de respiração, dores musculares, fadiga, eventualmente diarreia e vómitos. Dado que estes sintomas também aparecem noutros tipos de doença, incluindo a gripe, só um teste pode confirmar a presença ou não do coronavírus no corpo.
- Que problemas de saúde podem resultar da infeção?
O principal é a pneumonia. Se os pulmões se encherem de líquido devido à inflamação e as trocas gasosas não forem efetuadas convenientemente, todo o organismo terá falta de oxigénio, o que poderá levar à falência de vários orgãos, incluindo o coração, produzindo a morte.
- Qual a taxa de mortalidade do vírus?
Uma questão bastante discutida neste momento. Encontra-se algures entre os 3 por cento e menos de um por cento, dependendo da idade e da qualidade do tratamento médico recebido. A dificuldade em estimar a taxa tem a ver com o desconhecimento de quantas pessoas se encontram realmente infetadas em cada país. Desde logo, por uma parte substancial delas serem assintomáticas, ou cuja infeção ainda não foi confirmada num teste.
- O vírus transmite-se pelos animais?
Não havendo uma certeza absoluta, há indícios de que os cães e os gatos poderão ser fontes de contaminação, por exemplo através do pelo. Mas ainda não sabemos se o são a um nível que justifique preocupações sérias para os seres humanos.
- E pela comida?
Até agora, nada indica que a comida seja fonte de contaminação. No caso da comida cozinhada, em particular, o processo dá uma garantia virtualmente total de segurança.
- O uso de produtos de limpeza comuns basta para eliminar o vírus das superfícies numa casa?
Sim. Mas convém que essa limpeza seja muito frequente.
- Convêm usar máscara na rua?
Os responsáveis de saúde pública desaconselham, quer pelo facto de a máscaras poderem não dar proteção total, quer pelo facto de serem necessárias, em primeira linha, para os profissionais de saúde, que encontram o maior risco de contaminação no seu dia-a-dia.
- E luvas?
Também elas estão longe de fornecer proteção absoluta. Até pelo facto de serem contamináveis, bastando uma pessoa levar a mão à cara quando as tem calçadas para se produzir o mesmo efeito que se não as tivesse.
- É seguro andar de transportes públicos?
Em princípio, sim, desde que se mantenha a distância recomendada (metro e meio) entre os passageiros e o veículo seja lavado diariamente, como agora se exige. Quanto ao risco de apanhar secreções deixadas por outros passageiros nos varões ou nos assentos, aplicam-se as recomendações habituais: lavar frequentemente as mãos, evitar tocar na cara com elas.
- E de elevador?
Sim, desde que não seja na companhia de um passageiro infetado. Se o elevador não for muito grande, convém não estar lá mais ninguém. Existe uma possibilidade de aerossóis emitidos por passageiros anteriores se manterem no ar, mas as chances de contaminação parecem ser mínimas.
- O sexo pode transmitir o vírus?
Quanto à atividade sexual em si mesma, ainda não está provada a possibilidade de contaminação. Mas os beijos são claramente um risco, e uma investigação recente provou que a matéria fecal também contém traços do vírus.
- Quanto tempo vai demorar a surgir uma vacina?
Outra incógnita. A estimativa mais comum, que considera um processo relativamente acelerado, é entre 12 e 18 meses.
- Existem tratamentos para o Covid-19?
Pode-se procurar tratar os sintomas da doença, como se tratam outras semelhantes. Mas medicamentos específicos para ela já aprovados ainda não existem, embora estejam em curso vários ensaios clínicos.
- O vírus vai aliviar ou desaparecer com a melhoria do tempo?
Não sabemos. Alguns cientistas notam as suas semelhanças genéticas com o SARS, que desapareceu ao fim de uns meses em 2003, e afirmam que sim. Outros dizem que isso é especulação.
- Mesmo que desapareça ou se atenue daqui a uns meses, o vírus vai regressar no outono?
Também não sabemos.
- Quem já o tenha tido pode voltar a tê-lo?
Também não sabemos.
- A ser esse o caso, quanto tempo dura a imunidade de quem já o teve?
Também uma incógnita. A esperança é que, mesmo que a imunidade dure apenas uns meses, seja o suficiente para uma pessoa aguentar a duração deste surto, e provavelmente do próximo.
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Fontes de informação consultadas na elaboração deste artigo:
fda.gov; New England Journal of Medicine; medscape.com; sciencedaily.com; jamanetwork.com; wormsandgermsblog.com; who.int; vcacanada.com; worryproofmd.com; e diversos orgãos de comunicação generalista, incluindo o New York Times, o Guardian, o Telegraph e o Haaretz (Expresso, Luís M. Faria)

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