quinta-feira, outubro 11, 2018

Turismo madeirense: estatísticas deixam indicações a reter


Por ocasião da realização no Funchal, hoje, da XII Conferência Anual do Turismo - "Rentabilidade", elaborei este pequeno texto com algumas curiosidades que são apenas uma reflexão pessoal sobre o sector, tendo por base os indicadores estatísticos turísticos da RAM reportados a Junho de 2018.
Os indicadores estatísticos mostram, que precisamos urgentemente na Madeira de repensar o modelo de promoção turística - acho eu - de reforçar a promoção com base em parâmetros bem definidos, que não podem ser inflexíveis, antes adaptados às oscilações dos mercados.
Um exemplo: digam o que disserem o Brexit vai deixar marcas, aliás, já está a deixar marcas nos fluxos turísticos provenientes do Reino Unido. Não há volta a dar. Negar é ser pouco sério.
Aliás, e no caso da Madeira, esses primeiros sintomas, se bem que ainda ténues - até porque o acordo final do Brexit não está assinado pelo que não se sabe quais as novas regras do jogo – já se começam a sentir nas estatísticas.
Há indicadores concretos, como podemos perceber:


- De Janeiro e Junho de 2018 a Madeira recebeu menos 6,4% turistas comparativamente a 2017, e menos 30,4% de turistas irlandeses. Reino Unido e Irlanda registaram naquele período menos 7 a 8% de dormidas.

A minha dúvida, a dúvida de quem não é especialista neste assunto, apenas um "perguntador", tem a ver com a necessidade de sabermos se o facto do Reino Unido continuar a ter, apesar de tudo, 19,1% do mercado turístico regional (20,1% em 2017) e a Irlanda representar apenas 0,3%, se o modelo de promoção deve continuar o mesmo indiferente ao impacto que o Brexit começa a ter nestas movimentações. Duvido que assim deva ser.
Penso que precisamos de manter a todo o custo alguns mercados tradicionais mas temos também que apostar claramente em mercados turísticos emergentes que podem vir a ter um peso maior no turismo regional.
Julgo não estar a ser agreste se sustentar que os indicadores mostram que temos que abandonar utopias, nomeadamente aquelas que acham e que há mercados que são importantes quando na realidade serão sempre residuais, independentemente dos sonhos que alguns empresários do sector possam ter. Basta ver os números.
Eis alguns dados:

- Irlanda (menos 30,4%, representando 0,3% de quota no mercado regional), Países Baixos (menos 16,9% e 3,3%), Polónia (menos 8,8% e 2,5%) e Reino Unido (menos 67,4% e 19,1% do mercado turístico regional) foram os mercados que registara,  até Junho deste ano, maiores descidas nas entradas na RAM, comparativamente ao ano anterior;
- Estónia (mais 119,6%, mas representando 0,1% de quota no mercado turístico regional), Roménia (52,9% e 0,3%), Hungria (42,5% e 0,3%), Suécia (25,9%, 2,3%), Canadá (20,4%, 0,5%), Luxemburgo (16,8% e 0,3%), Brasil (14,5% e 0,7%), Espanha (12,6% e 1,4%) e Noruega (mais 10,8% de entradas e 1% de quota no mercado turístico regional).

Promoção nos aeroportos

Importante, por exemplo, tentar reforçar uma promoção também em Lisboa e Porto, aeroportos de chegada de turistas, onde a Madeira pode vir a ficar na retina se conseguir campanhas visualmente agressivas, sobretudo em termos de imagens fotográficas. Os aeroportos nacionais e mesmo no estrangeiro, são um potencial que em meu entender não exploramos devidamente.
Mas há que fazer opções e estar atentos a mudanças.

Importância da Escandinávia

Por exemplo, a Escandinávia (Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca) continua a demonstrar estabilidade ascendente nas entradas - 8,5% de quota do mercado regional e subidas em todos entre 2017 e 2018:

- Suécia - 17.807 entradas de Janeiro a Junho de 2018 (14.142 no mesmo período em 2017), 2,3% do mercado regional
-Finlândia - 15.586 entradas (15.243) e 2%
-Noruega - 7.917 entradas (7.143) e 1%
- Dinamarca - 25.301 entradas (24-375) e 3,2% do mercado turístico regional.

Ou seja, a Escandinávia é claramente um mercado multinacional a apostar em qualquer estratégia promocional da RAM. O mesmo acontece com a Alemanha com 169.959 entradas em 2018 contra 168.812 em 2017.
A Alemanha representa 21,8% de quota no mercado turístico regional (era 21,7% em 2017) pelo que há que aposta numa promoção mais intensa, mais direta e com prioridades, de acordo com as preferências dos turistas germânicos que nos visitam (o que é que elas mais gostam de fazer na Madeira?).
Outras curiosidades que apurei tendo por base os resultados estatísticos do turismo madeirense, em Junho de 2018, e que não podem passar dissociadas de qualquer promoção que venha a ser organizada ou reorganizada pela RAM, pressionada também pela sensação de que há mercados concorrenciais localizados nas proximidades - p.e. norte de África, que parece estar a recuperar lentamente a sua importância, o que não deixa de ser importante dado que a instabilidade social e política naquela região, incentivada pela chamada "Primavera Árabe", foi responsável pela subida acentuada do turismo em Portugal:

- o Benelux (Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos) representa cerca de 5,5% da quota das entradas na RAM, com aproximadamente 42 mil pessoas entre Janeiro e Junho.

Acho que há potencialidades de crescimento que devem ser exploradas nesta zona da Europa:

. Bélgica, 14.256 entradas (13.248 em 2017), 1,8% do mercado regional
. Luxemburgo, 2.055 entradas (1.759), 0,3%
. Países Baixos (Holanda), 25.516 entradas (30.704, menos 16,9%), 3,3 do mercado regional.

Quanto aos EUA – mercado que continua a apostar noutros destinos que não propriamente a Europa – eles representam 0,8% do mercado regional de entradas turísticas. Desconheço, muito sinceramente, se será um mercado potencial, com margem de crescimento significativo que justifique uma aposta promocional em larga escala. Sinceramente tenho algumas dúvidas.

O leste europeu?

Não estarei a exagerar se sublinhar, de forma destacada, que há um novo mercado europeu, com potencialidades que devem ser integralmente apuradas, desconhecendo - confesso-o - se a promoção da Madeira tem vindo a dar atenção aos países do leste europeu - é deles que eu falo - como os indicadores estatísticos recomendam, com destaque para a Polónia (que registou uma queda de turistas). Vejamos as entradas de Janeiro a Junho deste ano:

- Rússia, 4.554 entradas (4.455 em 2017), 0,6% de quota do mercado regional
- Polónia, 19.570 (21.458), 2.5%
- República Checa, 7.791 (7.374), 1%
- Roménia, 2.066 (1.351), 0,3%
- Hungria, 2.343 (1.644), 0,3%
- Estónia, 1.087 (495, mais 119,6% de entradas em 2018) e 0,1% de quota no mercado regional de entradas de turistas

Dormidas

Um dos aspectos curiosos na leitura dos dados turísticos da RAM, tem a ver com as dormidas, mas quanto a isso publicamos alguns quadros que ajudam a perceber o que se passa:

- De Janeiro a Junho as dormidas ascenderam a 3.951.495;
- O turismo nacional contribuiu com 430.454 dormidas, 10,9% do total;
- Alemanha somou 1.055.191 dormidas, 26,7% contra 393.740 da França, 10%, 895.718 do Reino Unido (menos 7,2% comparativamente a igual período de 2017), 22.7% do total e Dinamarca com 148.701 dormidas, 3,8% do total;
- a taxa de ocupação na hotelaria foi de 61,9% de Janeiro a Junho de 2018 (menos 3,7% que em 2017), sendo que nos hotéis foi de 67,6% (menos 2,9%) e nos hotéis-apartamentos de 67,3% (menos 5,5%). Destaque para os 36,3% no alojamento local, sem contabilizar os alojamentos com menos de 10 camas).


Aqui, no domínio das dormidas, penso que os participantes na conferência sobre turismo, hoje no Funchal, poderão ter muita coisa que refletir, a começar por eles próprios, pelos procedimentos comerciais adotados, promoção, pela política de preços, concorrência interna de alternativas em crescendo, pela dependência, sim ou não, de operadores turísticos apostados em preços low-cost, pelos impactos negativos que o aeroporto do Funchal passou a com portar devido a restrições operacionais, sem dúvida uma nova realidade que ocorre com mais frequência, etc.

REV-PAR

Deixo para os especialistas - e certamente não faltarão hoje muitos no Funchal - a apreciação de questões relacionadas com o preço praticado pela hotelaria regional, o REV-PAR, porque entendo que se trata de temática muito complexa, pouco consensual e com implicações a jusante e a montante, que não quero abordar neste texto, mas que tenho a consciência que condicionam a estrutura a política de preços.

Muito sinceramente acho que os problemas que se colocam hoje, os desafios, as dependências, as limitações, os condicionalismos, as insuficiências, etc, determinam que estes temas se debatam com muito realismo e de forma pragmática, sem teorizar muito num tempo em que as propostas concretas e as soluções são o que mais interessa. Não divagações ou lucubrações demasiado vagas ou teóricas, distantes da realidade, procedimento que, repito, não me envolve, porque reconheço, e assumo, que não sou especialista neste sector, um dos mais importantes da economia regional, o que não invalida que tenha as minhas opiniões naturalmente genéricas e superficiais (LFM)

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