segunda-feira, outubro 08, 2018

Madeira: Representante da República tem que ser mais discreto e não se entusiasmar com as rasteiras do protagonismo mediático



Começarei por referir - para marcar bem posições - que sou totalmente contrário à existência da figura do Representante da República - hoje apenas uma personagem nomeada pelo Presidente da República mas com competências diminutas e portanto sem grande razão de ser institucional e constitucionalmente falando - tal como era relativamente ao Ministro da República. Isto nada tem a ver com as pessoas que exercem essas funções, credoras de todo o meu respeito, apesar de um desses protagonistas no cargo ter sido incapaz de separar o trigo do joio, confundindo as críticas que eram feitas ao cargo - nomeadamente ao seu enquadramento institucional, depois de esvaziado de competências e importância, ao papel dúbio que lhe era atribuído no contexto regional, etc - de questões meramente pessoais, ainda por cima quando na minha vida nunca falei com a pessoa.
Recentemente, em Angra do Heroísmo, durante um encontro com o Representante da República nos Açores, a comitiva de que eu fazia parte percebeu claramente que a figura hoje é mais um acompanhante do processo autonómico, repetindo várias vezes que por natureza é uma pessoa reservada e que não gosta de ter intervenções públicas que possam ter aproveitamentos políticos. Pessoa simpática, antigo diplomata prestigiado, conhecedor da realidade açoriana, estudioso do tema autonómico, fiquei com muito boa impressão da pessoa em questão, não confundindo isso com a minha posição pessoal e política sobre o cargo propriamente dito.


Há dias, depois da cerimónia autárquica em Câmara de Lobos, parece que ficaram todos "escandalizados" pelo facto do  Representante da  República não ter sido convidado. Fracamente, 40 anos depois da autonomia regional e esta submissão continua intratável? Que desilusão! Obviamente que a pergunta, em situações normais, seria o contrário: porque razão o Representante da República  é convidado pelas Câmaras Municipais da oposição, e porque razão o titular nomeado pelo Presidente e sem os poderes que teve outrora, aceita esse papel de "ouvidor" do reino, sabendo perfeitamente que não tem nenhuma competência em matéria autárquica na Região. Aliás, parece-me que seria de bom tom, acho eu, que o titular do cargo optasse por uma atitude de maior reserva pública, menos mediatizada, pois isso não constitui nenhuma mais-valia para o cargo ou desprestígio para quem o desempenha. E muito menos tem alguma coisa a ver com a pessoa do dr. Irineu Barreto, que muito prezo e respeito, por sinal irmão de uma figura que esteve envolvida activamente no processo autonómico depois do 25 de Abril e na afirmação de uma nova Madeira. Estou a falar do Representante da República que não devia imiscuir-se em actos públicos claramente fora da sua competência, onde não há qualquer representação institucional da República, sem a sabedoria de perceber que está a ser usado, por puro oportunismo partidário, como um mero instrumento numa "guerra" política e partidária entre autarquias da oposição e o governo regional, tudo com as eleições regionais de 2019 no horizonte. Nada é ingénuo, nada acontece por acaso.
Orador nessa cerimónia autárquica, Tranquada Gomes, presidente do parlamento regional, colocou abertamente o dedo na ferida - aliás já tinha feito declarações semelhantes em entrevista no passado - quando referiu ter sido a primeira vez, desde que assumiu o cargo de Presidente da Assembleia, que recebeu um convite que, "contrariamente a todos os outros que sempre recebo por ocasião dos aniversários dos concelhos da nossa Região Autónoma, não se limitou a convidar-me para estar presente ou assistir". Apesar de muito sinceramente ter alguma dificuldade, também, em ver o presidente do parlamento presidir a actos de natureza autárquica em concreto.
Sublinhando que estes eventos relativos a cerimónias do poder local regional "assumem um carácter vincadamente regional", Tranquada  lembrou que ele era o "primeiro titular do primeiro órgão de governo  da nossa Região Autónoma que representa toda a população madeirense e portosantense". Gostem ou não é isso mesmo que acontece, seja o PSD, PS, CDS, ou qualquer outro partido na liderança do parlamento regional.
"Como tenho vindo a sublinhar, parece-me importante e necessário que as instituições locais valorizem os órgãos de governo próprio, independentemente das diferenças ideológicas ou das opções partidárias dos eleitos. Cada instituição na região tem o seu espaço, as suas competências e a correspondente  legitimidade. Confundir eleitos com nomeados fragiliza as instituições autonómicas e ofusca de forma irresponsável a legitimidade dos eleitos. Não podemos, por um lado, reclamar a defesa da autonomia como uma prioridade colectiva e uma obrigação da classe política e por outro ter procedimentos que vão exactamente em sentido oposto, contra essa alegada predisposição autonomista. Não se trata de reclamar protagonismo a favor de quem quer que seja. Trata-se apenas, como tenho vindo a enfatizar, de recomendar que a Assembleia Legislativa, representante máxima da vontade livre e democraticamente expressa pelos cidadãos, não seja menorizada e relegada para protagonismos secundários ou transformada num actor de segundo plano, numa encenação na qual, paradoxalmente, até parece que a afirmação da Autonomia Regional passa pela valorização mediática e institucional de respeitáveis entidades nomeadas".
Obviamente que a polémica surgiu mas a verdade é que isto tinha que ser dito, dito em voz alta para que as pessoas percebam do que falamos e do que realmente está em causa.
Se a ideia é no fundo demonstrar uma submissão que deixou de fazer sentido num quadro institucional que 40 depois da autonomia é diferente e de respeito mútuo, então melhor será que, em vez de se alimentarem farsas - isto apenas no caso dos madeirenses não terem espinha dorsal nem orgulho e dignidade a defender - que se revoguem as normas constitucionais imediatamente bem como  toda a restante legislação e se volte aos tempos do antes do 25 de Abril, com uma Junta Geral comandada à distancia por Lisboa e onde tudo era pedido pela Madeira como se se uma esmola se tratasse (LFM)

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