domingo, outubro 28, 2018

Vinho da Madeira dos séculos XVIII e XIV vai a leilão


Numa adega fria no Bronx, há duas semanas, um famoso vinicultor português retirou rolhas antigas de garrafões de vidro de 19 litros de vinho da Madeira do século XIV. E ainda se podia consumir aquele vinho? O vinho da Madeira envelhece mais tempo do que outros vinhos, mas será que sobrevive mais de 150 anos?
Não vou manter o suspense. Surpreendentemente, a resposta foi sim.
Um garrafão continha um vinho da Madeira sercial seco de 1846. Seco, picante, ácido e saboroso, tinha uma acidez penetrante e aromas frescos e picantes que permanecem até mesmo numa taça vazia. Outro vinho da mesma época, um verdelho meio seco de cor âmbar, tinha aroma de damasco, tabaco e pétalas de rosa e ainda apresentava um frutado opulento com várias camadas que fazia querer beber mais. E ambos os vinhos têm mais de 170 anos. Eles vêm de uma colecção de vinhos da Madeira dos séculos XVIII e XIV que foi descoberta no ano passado durante uma reforma do Liberty Hall Museum em Nova Jersey. E, em 7 de Dezembro, a Christie’s vai oferecê-los em conjunto com algumas garrafas de tamanho normal de vinho Madeira que datam de 1796, numa venda em Nova Iorque.

Descoberta
O Liberty Hall, construído originalmente em 1772, foi ampliado e transformado numa residência com 50 quartos pela famosa família Kean, activa politicamente e proprietária do imóvel desde 1811. Quando John Kean Sr. herdou a casa, há 12 anos, começou a transformá-la no museu que actualmente dirige.
No ano passado, durante uma reforma, foi descoberta no sótão uma das maiores colecções de vinhos da Madeira dos séculos XVIII e XIV nos EUA, atrás de uma parede numa adega suja e repleta de teias de aranha. A colecção continha cerca de 42 garrafões e umas duas dúzias de garrafas de Lenox Madeira, importadas pelo falecido Robert Lenox em 1796, e provavelmente escondidas durante a Lei Seca. Algumas estavam vazias, outras não.
"Eu sabia que o vinho se deteriorava em ambientes quentes, por isso supus que o vinho dos garrafões estaria estragado por ter passado tantos anos no sótão", admite Kean. "Eu estava pronto para dá-lo aos funcionários para fabricar lâmpadas". Felizmente, um jovem guia do museu procurou no Google informações sobre vinhos Madeira antigos e sobre alguns dos nomes nas garrafas e acabou por convencer Kean de que estes poderiam ter algum valor. É aí que entra a Christie’s. Quando a casa de leilões soube da descoberta, Edwin Vos, director de vinhos da Christie’s para a Europa e especialista em vinhos da Madeira, fez uma visita e, entusiasmado, propôs um leilão. "Não existem muitos vinhos Madeira antigos disponíveis", disse. "E pode-se dizer que este é o vinho fino mais subestimado do mundo." Alguns foram vendidos no primeiro leilão da Christie, em 1766.
Antigamente, o vinho Madeira era uma bebida de prestígio para americanos ricos. Supostamente, foi usado no brinde em comemoração da assinatura da Declaração da Independência e era popular em Washington muito antes de o bourbon se tornar na bebida favorita dos congressistas (Jornal de Negócios - Texto original: We Dranka 172-Year-Old Wine. How’s It Taste?)

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