A abstenção tem sido frequentemente apontada como um
fator negativo nas várias eleições em Portugal. Desde 1975 que a participação
tem vindo a diminuir e que o desprendimento em relação à política tem crescido.
É, aliás, um dos países da União Europeia em que a percentagem de pessoas a
votar é menor. Começou por situar-se acima dos 90%, nas primeiras eleições
depois do 25 de Abril, e em 2015 foi apenas de 56,97%. As causas por trás desta acentuada queda foram
estudadas por um grupo de cientistas políticos, coordenado pelo investigador
João Cancela, inserido no think tank português Portugal Talks. Segundo o
relatório que apresenta as conclusões preliminares, o objetivo foi o de
“apresentar uma caracterização atualizada e fidedigna das várias dimensões da
abstenção em Portugal, assim como um conjunto de possíveis intervenções que
possam levar a um aumento dos níveis participação”. Assim, e depois de um
estudo aprofundado, os motivos encontrados podem ir da questão geográfica à
forma como os políticos abordam o tema da abstenção.
Os números portugueses encontram-se num patamar
“semelhante ao das novas democracias que emergiram do antigo espaço de
influência soviética”, pode ler-se no estudo. De entre as várias vertentes de análise, a questão
geográfica está na base de uma das conclusões mais curiosas deste trabalho.
Depois de comparar os dados da abstenção entre os meios urbanos e os rurais, os
investigadores concluíram que é nos meios rurais que menos se vota quando há
eleições legislativas, presidenciais e ou para o Parlamento Europeu. No
entanto, o caso muda de figura nas eleições autárquicas. “Este quadro
inverte-se”, observa o documento.
O estudo não esquece também os sucessivamente
referidos problemas com a falta de atualização dos cadernos eleitorais.”As
estimativas de população residente afeta de forma particular os municípios
rurais, pelo que os níveis oficiais de abstenção podem estar particularmente
inflacionados nestas zonas“. Um dado que ajuda a enquadrar os números da
abstenção no locais onde por vezes são mais elevados mas que, sublinha o
documento, não explica o decréscimo da participação. Há ainda uma conclusão relevante que acaba por
desmistificar a ideia de que é entre os eleitores mais jovens que a abstenção
mais tem crescido. Errado.
A tendência dos mais jovens (até aos 30 anos) para a
abstenção não é um fenómeno recente, sendo observável já na década de 1980. A
principal transformação ao longo das últimas três décadas relaciona-se com o
modo como a propensão para a abstenção se propagou desde a viragem do século ao
escalão etário seguinte, que inclui aqueles que têm entre 30 e 44 anos”,
explica o relatório.
O estudo foi apresentado esta sexta-feira em
Cascais, na primeira edição de conferências do Portugal Talks. Ao longo do dia
decorrem vários debates onde se vão expor as conclusões e discutir eventuais
soluções. A versão final é
apresentada apenas em dezembro.O grupo de trabalho que elaborou este documento
estabeleceu como objetivo encontrar potenciais soluções para resolver e
ultrapassar as falhas identificadas. Para isso, lançará para a discussão temas
como o voto obrigatório ou o voto eletrónico. Duas formas possíveis de combater
a abstenção (Observador)
Sem comentários:
Enviar um comentário