Li no Observador que “foi em 2012 que Pervin decidiu
abandonar Kobane, na Síria, para se juntar às forças armadas femininas curdas.
Tinha apenas 17 anos. Nessa altura, a Síria era devastada por uma guerra civil
e o principal adversário era Bashar al-Assad. Dois anos passaram, o adversário
agora intitula-se Estado Islâmico e Pervin está de regresso à sua cidade natal,
junto à fronteira com a Turquia, para impedir que esta caia nas mãos dos
fundamentalistas islâmicos. Ela, que é uma das muitas mulheres curdas que lutam
pela defesa de Kobane, reencontrou recentemente o pai, de forma absolutamente
inesperada. Em 2012, Pervin deixara os pais sem um propósito muito claro. “Não
tinha grandes ambições, na verdade. Apenas queria viver uma vida livre, como
mulher, conseguir ver a nossa realidade, ter os meus direitos. Viver apenas”,
conta à Associated Press, que a foi encontrar numa pequena unidade no leste da
cidade sitiada. Regressada a Kobane há cerca de dois meses, Pervin estava longe
de imaginar que, há três semanas, iria dar de caras com o pai, que já não via
há dois anos, segurando uma arma na mão.“Sinceramente, quando soube que o meu pai estava a
combater na frente ocidental, fiquei muito orgulhosa dele e deu-me vontade de
lutar ainda mais”, afirma Pervin, cuja mãe está refugiada na Turquia e tem o
seu único irmão a estudar na Argélia. Farouk, pai de Pervin, decidiu pegar em armas a meio
de setembro, quando Kobane começou a ser mais fortemente atacada pelos
combatentes do autoproclamado Estado Islâmico, que desde essa altura tentam
conquistar aquela cidade fronteiriça. “Eu digo-lhe: ‘quando vais lutar,
concentra-te na luta'”, comenta Farouk. Pervin parece concordar: “Não
deixaremos os grupos terroristas entrar até à última gota do nosso sangue”. Nos
últimos dois meses, Kobane tem sido o palco de violentos combates. A dada
altura, parecia inevitável e iminente a queda da cidade nas mãos do Estado
Islâmico, mas uma série de ataques aéreos levados a cabo pelas forças armadas
de diversos países conseguiram travar o ímpeto dos fundamentalistas. Nos
últimos dias, terão morrido mais de 50 combatentes islâmicos na batalha pela
cidade”.