quarta-feira, abril 27, 2011

Vaga de nacionalismo desafia "verdadeiros europeístas"

Li no Jornal de Negócios que "o reforço de movimentos eurocépticos, como os Verdadeiros Finlandeses, fez soar o alarme no Velho Continente. Os europeus são cada vez menos europeístas. O surpreendente resultado eleitoral na Finlândia fez soar os alarmes na Europa. Os Verdadeiros Finlandeses, que fizeram campanha a garantir que iriam opor-se a um resgate a Portugal, lançaram a questão: serão os 27 "Verdadeiros Europeístas"? O eurocepticismo tem vindo a ganhar terreno de forma consistente. Um pouco por todo o Velho Continente, multiplicam-se os exemplos de partidos nacionalistas - muitos de extrema-direita, com traços xenófobos e racistas - que ganham força eleitoral ao ponto de se afirmarem alternativas de poder que, a prazo, ameaçam o projecto da União Europeia e, em particular, da moeda única. A eventual recusa do resgate "levantaria graves problemas políticos" que podem ter consequências imprevisíveis, diz Paulo Gorjão. "O que está a acontecer na Finlândia é um sinal claro de que este processo europeu tem os dias contados, e teremos de repensar o caminho a seguir", prossegue o especialista em Relações Internacionais.
Às dificuldades externas, motivadas por pressões demográficas pela instabilidade no Norte de África e Médio Oriente, acrescem problemas internos na Zona Euro: défices e dívidas elevadas, dúvidas sobre a solidez de sistemas financeiros, 'commodities' a gerarem pressões inflacionistas. "Juntando tudo, vemos os pilares da UE, políticos e económicos, colocados em causa", resume Miguel Monjardino, professor da Católica. Questionar as regras de funcionamento do Euro, quer os credores do Norte quer os devedores do Sul, resulta num choque de duas culturas políticas e dois tipos de economia que "ninguém sabe bem como se irá resolver". Vários países assistem a um crescimento dos movimentos nacionalistas (ver caixa). A Frente Nacional, em França, tem vindo a subir nas sondagens. "Não posso aconselhar ninguém a entrar na UE. Não seria um conselho de amigo", frisou a nova líder do partido, Marine Le Pen. Já o chefe da diplomacia húngara assumiu que o "federalismo europeu foi uma bonita ideia", contrapondo o conceito "Estado-nação que tem vindo a ganhar poder e significado". Paulo Gorjão valoriza que os movimentos querem "negar o actual rumo europeu", ao invés de afirmar a identidade nacional.
Um problema previsível
Este era um movimento já expectável. "Culpar as crises grega, irlandesa e portuguesa é errado: o processo é muito mais antigo, e a reconfiguração do modelo já estava prevista desde o fim da Guerra Fria", aponta Gorjão. Como até agora nada mudou, "os Estados modificaram a forma como encaram o processo europeu de integração", e as opiniões públicas "estão distanciadas" do que se faz em Bruxelas e Estrasburgo. Os líderes europeus têm privilegiado a dimensão doméstica, "mas estão a aparecer muitos problemas ao mesmo tempo", concorda Monjardino, para quem "aquilo que precisa de ser feito é provavelmente incomportável agora em termos de opinião pública". Que soluções são essas? "Tendo em conta o nível de endividamento, é necessária uma harmonização política e económica que é quase inconcebível para muitos eleitorados. Ou em alternativa a reestruturação de dívida e saída de países do Euro. Todas elas com custos elevadíssimos", resume”.

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