terça-feira, fevereiro 02, 2021

Nota: o turismo madeirense tem que debater o seu presente e o futuro com seriedade e pragmatismo

O problema dos apoios às empresas do sector do turismo, da restauração e serviços directamente ligados ao turismo (agências, prestação de serviços, alugueres de viaturas, transferes, etc), é que, mais do que a importância das intervenções de apoio imediato para empresas encerradas e com facturação praticamente nula - apoios que ninguém contesta, porque só assim se trava o impacto negativo da crise no desemprego e na queda de rendimentos das pessoas - é que eles não podem ignorar e impedir que, atempadamente, haja a obrigação de repensar o futuro, na certeza de que nada ficará como antes.

Pessoalmente duvido que a aviação comercial, nomeadamente a lógica empresarial das low-cost, a actividade hoteleira, as especificidades de muitos dos serviços prestados (particularmente os que impliquem mobilidade de clientes na ilha), os cruzeiros com milhares de pessoas concentradas num navio de grandes dimensões, etc, gostem ou não de o ouvir, continuem na mesma. Desconfio que a retoma será muito lenta, mais lenta do que aquilo que os agentes económicos erradamente ainda acreditam, tal como julgo ser incontornável que muitas empresas ficarão pelo caminho quando a actividade económica turística retomar a sua nova normalidade e as pessoas recuperarem a confiança.

Estamos a falar de uma pandemia que ninguém sabe como vai evoluir no futuro, mesmo com vacinas, e de uma nova normalidade, não a normalidade do antigamente. É essa perspectiva e essa reflexão que devem ser feitas com antecedência, definindo prioridades, quiçá promovendo uma task-force específica para acompanhar a evolução do sector, nas suas várias vertentes, fazer o levantamento da amplitude dos estragos sociais e económicos causados pela pandemia - numa terra que tem hotéis de 5 e 4 estrelas encerrados há meses, alguns à venda, etc, etc. E inventariar quais os novos negócios, surgidos com a pandemia, que tipos de apoios podem ou não receber, quais as regras de empregabilidade a seguir no combate à precariedade, quais as empresas que podem ou não ter viabilidade assegurada com a tal nova (e lenta) normalidade, etc.

Uma terra como a Madeira que depende do turismo, que está a braços com a perspectiva de uma machadada (política) no CINM, que tem a consciência da importância dos transportes aéreos para qualquer estratégia turística futura, estratégia essa que não pode ignorar que mais de 50 empresas privadas de aviação (sobretudo low-cost) faliram neste último ano, que há empresas aéreas de bandeira (incluindo a TAP) cuja falência só foi evitada com a injecção de elevados apoios financeiros estatais, e que já despediram dezenas de milhares de pessoas, um sector que sabe que a selvajaria da concorrência do passado onde tudo era permitido, que tudo isso terá implicações na nova realidade e que neste sector fundamental, a nova normalidade nada terá a ver com a normalidade anterior a pandemia. Temos que começar a discutir isso antecipadamente, para que um eventual impacto negativo provocado por eventuais novos acontecimentos fora do controlo dos governos, não sejam fatais para a nossa economia.

Porque há muitas dúvidas – e não apenas na RFAM, mas no país e na Europa - que persistem sem resposta. Por exemplo:

- qual o impacto da pandemia na economia regional em termos sociais e económicos?

- qual o impacto da crise no turismo no desempenho regional?

- quantos hotéis na RAM estão encerrados, quantos abriram e votaram a fechar, os que nunca abriram depois do encerramento antes do Verão de 2020?

- quantos restaurantes e outras empresas prestadoras de serviços na área do turismo, estão encerrados, abriram e voltaram a encerrar, ou que estão em actividade mas sem faturação suficiente para fazer face aos seus rendimentos?

- quantos hotéis na RAM, devido à crise, estão à venda? (LFM)

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