O problema dos apoios às empresas do sector do turismo, da restauração e serviços directamente ligados ao turismo (agências, prestação de serviços, alugueres de viaturas, transferes, etc), é que, mais do que a importância das intervenções de apoio imediato para empresas encerradas e com facturação praticamente nula - apoios que ninguém contesta, porque só assim se trava o impacto negativo da crise no desemprego e na queda de rendimentos das pessoas - é que eles não podem ignorar e impedir que, atempadamente, haja a obrigação de repensar o futuro, na certeza de que nada ficará como antes.
Pessoalmente
duvido que a aviação comercial, nomeadamente a lógica empresarial das low-cost,
a actividade hoteleira, as especificidades de muitos dos serviços prestados (particularmente
os que impliquem mobilidade de clientes na ilha), os cruzeiros com milhares de
pessoas concentradas num navio de grandes dimensões, etc, gostem ou não de o
ouvir, continuem na mesma. Desconfio que a retoma será muito lenta, mais lenta
do que aquilo que os agentes económicos erradamente ainda acreditam, tal como
julgo ser incontornável que muitas empresas ficarão pelo caminho quando a
actividade económica turística retomar a sua nova normalidade e as pessoas
recuperarem a confiança.
Estamos
a falar de uma pandemia que ninguém sabe como vai evoluir no futuro, mesmo com
vacinas, e de uma nova normalidade, não a normalidade do antigamente. É essa
perspectiva e essa reflexão que devem ser feitas com antecedência, definindo
prioridades, quiçá promovendo uma task-force específica para acompanhar a
evolução do sector, nas suas várias vertentes, fazer o levantamento da
amplitude dos estragos sociais e económicos causados pela pandemia - numa terra
que tem hotéis de 5 e 4 estrelas encerrados há meses, alguns à venda, etc, etc.
E inventariar quais os novos negócios, surgidos com a pandemia, que tipos de
apoios podem ou não receber, quais as regras de empregabilidade a seguir no
combate à precariedade, quais as empresas que podem ou não ter viabilidade assegurada
com a tal nova (e lenta) normalidade, etc.
Uma
terra como a Madeira que depende do turismo, que está a braços com a
perspectiva de uma machadada (política) no CINM, que tem a consciência da
importância dos transportes aéreos para qualquer estratégia turística futura,
estratégia essa que não pode ignorar que mais de 50 empresas privadas de
aviação (sobretudo low-cost) faliram neste último ano, que há empresas aéreas
de bandeira (incluindo a TAP) cuja falência só foi evitada com a injecção de
elevados apoios financeiros estatais, e que já despediram dezenas de milhares
de pessoas, um sector que sabe que a selvajaria da concorrência do passado onde
tudo era permitido, que tudo isso terá implicações na nova realidade e que
neste sector fundamental, a nova normalidade nada terá a ver com a normalidade
anterior a pandemia. Temos que começar a discutir isso antecipadamente, para
que um eventual impacto negativo provocado por eventuais novos acontecimentos
fora do controlo dos governos, não sejam fatais para a nossa economia.
Porque
há muitas dúvidas – e não apenas na RFAM, mas no país e na Europa - que persistem
sem resposta. Por exemplo:
-
qual o impacto da pandemia na economia regional em termos sociais e económicos?
-
qual o impacto da crise no turismo no desempenho regional?
-
quantos hotéis na RAM estão encerrados, quantos abriram e votaram a fechar, os
que nunca abriram depois do encerramento antes do Verão de 2020?
-
quantos restaurantes e outras empresas prestadoras de serviços na área do
turismo, estão encerrados, abriram e voltaram a encerrar, ou que estão em
actividade mas sem faturação suficiente para fazer face aos seus rendimentos?
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