Temos sido martelados nos últimos meses com
a eventualidade do PSD-Madeira retirar Pedro Calado do GRM, onde é elemento
fundamental, e com uma importância que vai crescer nos próximos tempos.
Isto atendendo às previsíveis pressões que
se farão sentir na RAM, nomeadamente as de índole económico, orçamental e
social (a recuperação será lenta e vai provocar grandes mudanças nalguns
sectores de actividade), realidade que vai exigir pessoas aptas para esses
desafios e não “maçaricos” sem expediente e sem experiência.
Julgo que depois das autárquicas algumas
mudanças no GRM, para o dotar de uma outra dinâmica e de uma maior facilidade
de comunicação com as pessoas, serão inevitáveis. Se fosse um GR do PSD-M diria
que isso é obrigatório. Como se trata de um governo de coligação, os
“melindres” – e não só… - podem impedir esse reajustamento, cada vez mais
necessário.
Há sectores que me parecem “parados”, sem dinâmica, sem grande eficiência, e não é a pandemia a culpada disso. Mesmo sabendo-se que o GRM teve apenas 4 ou 5 meses a separar a sua tomada de posse da chegada da pandemia à RAM, com todos os seus efeitos nocivos multiplicadores conhecidos. E que persistem com consequências ainda imprevisíveis.
Não escolho a CMF
Embora desconfie que a reconquista da CMF para
alguns, poucos, dos actuais dirigentes do PSD-M – e lembro que foi ainda no
tempo de João Jardim, em 2013, que o PSD perdeu a edilidade da capital madeirense
– se tenha transformado numa perigosa obsessão, estranha e intolerável –
sobretudo quando isso implica, como parece ser o caso, colocar o PSD-M refém de
um desejo de vitória, que está longe de estar garantida num quadro mais amplo
de um certo “ajustes de contas” com o PS-M.
Duvido que PSD-M e CDS-M, parceiros da coligação
regional no poder, façam depender o sucesso da governação – cujo sucesso depende
apenas deles, das suas opções, das suas decisões e da forma como souberem lidar
com as divergências políticas entre eles - – da vitória na CMF, que nem representa
metade da população da Região.
Por falar em eventuais caprichos, direi que
entre a estabilidade e a eficácia da governação regional até final da Legislatura,
e a resolução de diversas ineficácias, algumas delas perduram desde 2015 (já
falaremos disso), nomeadamente quanto ao diálogo institucional com Lisboa diz
respeito, e que não pode continuar a funcionar nos moldes actuais (recados e contactos
quase nulos entre as duas partes, em claro prejuízo da RAM) e uma vitória
eleitoral na CMF, que nem é certa, e que caso se concretizasse – tenho fortes
dúvidas, sobretudo depois de 2017 - será sempre “in extremis”, escolho a
primeira. Sem qualquer dúvida ou hesitação.
Inverter estas prioridades e subverter esta
lógica política da governação, é um erro que, mais do que ser mais uma
infantilidade, demonstra que estamos muito longe, infelizmente, da consistência
política que precisamos.
Temo que este processo autárquico - que me
cheira a esturro, com imposições, algum amadorismo e patéticas consultas
populistas que podem escolher nomes sugeridos mas não dão votos nem vitórias - possa
significar mais do que um reles jogo de xadrez, desta feita com pessoas, em que
se mudam peças de um lado para outro, sem convicção, tudo para tentar derrubar
alguém (normalmente acabam por ser eles os derrubados…). Pode significar mais
do que muitos pensam, provavelmente a fragilização política da coligação
regional no poder e o princípio do seu fim.
Acresce que a governação regional não se
limita ao Funchal, mas sim a uma Região com outros concelhos e 250 mil pessoas.
Basta pensarmos nisto: dificuldades
políticas nas relações com Lisboa, insuficientes transferências do OE para a
Madeira, segundo a RAM, previsão de uma queda acentuada das receitas próprias
devido à crise económica, encargos crescentes com os efeitos financeiros e sociais
da pandemia, aumento do desemprego, tecido empresarial regional com enormes dificuldades,
impreparado, vulnerável nalguns sectores e a roçar o colapso, a perspectiva de
uma recuperação lenta, bastante lenta, do turismo, uma acentuada crise na aviação
comercial que fará com que o sector recupere demorada e parcialmente – e sem
que o futuro tenha alguma coisa a ver com aquilo que era passado anterior à
pandemia desta indústria – a inevitabilidade de mudanças estruturais no tecido
empresarial e no modelo de muitos dos negócios tradicionais que percebem que
nada ficará como antes (e não sei se a Madeira, tal como outras regiões similares,
estão preparadas para viabilizarem essas mudanças de adaptação a um novo tempo),
os problemas com o CINM e a ameaça de perda de atractividade e de receitas
da RAM, etc. Se conjugarmos tudo isso acham que este é o tempo para
brincadeiras idiotas com eleições de camaras municipais?
E que dizer desta teoria de tirar pessoas de um lado para tentar metê-las noutro - a maioria acaba derrotada e humilhada nas urnas – que funciona contra os partidos, dando deles uma ideia de escassez de recursos humanos, de falta de competências e de pessoas preparadas.
Cheira-me a rasteira, salvo se…
Cheira-me a rasteira política, quiçá mesmo
um desejo de despachar Pedro Calado do GRM, provavelmente por ser hoje, mais do
que antes, olhado como uma potencial "ameaça" que alguns sectores partidários
temem.
Mas é isso que me faz uma confusão: quando
o PSD-M, ainda no primeiro mandato de Albuquerque (2015 a 2019), remodelou o governo,
fazendo entrar Pedro Calado para Vice-Presidente – aliás ele esteve, desde a
primeira hora, para fazer parte desse governo - não foi voz corrente (discurso
oficial) sustentar que o executivo
depois dessas mudanças ficou mais operacional e politicamente mais forte e
coeso, e com menos cinzentos oportunistas e inexperientes?! O que é que mudou
desde então até hoje?
Se com esta coligação essa premissa foi
mantida, como é que a menos de meio mandato, e com a Madeira na fronteira
daquela que poderá ser a sua pior crise social, económica e financeira de sempre,
causada pelo impacto da pandemia (a que se junta a deliberada e perigosa intenção
de matar o CINM), há quem ceda a meia dúzia de iluminados que nas redes sociais
e nas sarjetas da política doméstica querem "despachar" Calado para a
CMF? Ainda por cima sem garantias de nada, desde logo sem garantias de que
ganha eleições - e quanto a isso não quero perorar demasiado porque não sei
todos os contornos desta história mal contada – sabendo-se que existem sinais
que não são animadores, embora não sejam fiáveis, deixando inclusivamente a
dúvida se há ou não o propósito deliberado de o afastar, caso seja derrotado.
Num cenário desses, de derrota eleitoral,
Calado perderia espaço político, a começar pelo PSD-M, e dificilmente seria um
simples vereador numa autarquia onde já foi o número dois de Albuquerque. Ou
será que uma pretensa afinidade política entre Calado e AJJ justifica tudo
isto?
Estou confuso, e talvez não devesse. Erro
meu porque provavelmente nestes últimos anos já devia ter aprendido que a
irracionalidade e a incompetência na política e a incapacidade em antecipar
factos é o que há demais. Mas enfim, prometo que vou tratar dessa minha
insuficiência....
A outra possibilidade, digamos que a face B
desta moeda, tem a ver com o risco do PSD-M estar refém, ou poder ficar refém, de
obsessões relativamente à CMF, olhada como uma coutada que não pode ser gerida
pela oposição. Como se isso implicasse problemas para a governação regional,
porque é dessa que falamos e é essa a grande prioridade dos madeirenses,
incluindo os funchalenses, cada vez mais fartos de esquisitas guerras pessoais
de bastidores.
Outra possibilidade - a terceira neste
puzzle demasiado complicado, porque pouco transparente - tem a ver com o facto
de que sendo adquirido que PSD e CDS concorrerão coligados no Funchal (acho
natural que o façam mas considero um insulto aos eleitores e aos partidos
imporem uma coligação generalizada a toda a RAM, opção que terá efeitos
eleitorais desastrosos que podem colocar em causa o futuro da coligação, pelo
menos desta), podermos estar perante uma cedência, mais uma, de Miguel
Albuquerque ao CDS-M, que deste modo, ao "despachar" Calado para
cabeça de cartaz na disputa funchalense, ficaria com mais espaço de afirmação
no governo de coligação, algo que com Pedro Calado não tem sido possível dadas
as competências que ele acumula.
Dizem os manuais de ciência política que se
uma pessoa não ganha hoje uma eleição (ainda por cima o cenário não é
recomendável, porque pior ficará na altura das autárquicas, devido aos sinais
de crise que se vão acentuar), não ganha as seguintes, a não ser que caia no
esquecimento, efectuando uma travessia no deserto cuja temporalidade depende de
muitos factores. Nos Açores, por exemplo, o PSD-A tem muita experiência nessas
travessias do deserto que pura e simplesmente "acabaram" com muitos
candidatos a muita coisa... E todos sabemos como é que o PSD-Açores regressou
ao poder, em que condições e com que custos!
E os números (em queda)
não valem nada?
Outra questão,
finalmente, que eu penso que as pessoas ainda não perceberam muito bem, tem a
ver com a evolução eleitoral dom PSD-M no Funchal e com a perda de eleitores em
todas as eleições.
Elaborei um conjunto de
quadros que mostram a realidade eleitoral no Funchal, em várias eleições,
diferentes umas das outras, mas que ajudam a entender o peso da abstenção na
capital madeirense e a realidade eleitoral expressa pelos eleitores nas urnas -
e não puzzles montados em reuniões partidárias ou em "sondagens" que
valem pouco mais que zero por que os militantes de um partido sozinhos não
ganham eleições.
Mas como diz o outro,
façam o que entenderem e sejam felizes. Para a história contam aqueles que
merecem lá estar (LFM)
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