Andam todos preocupados, cá, em Espanha e noutros países europeus (para não falar dos fenómenos como Trump ou Bolsonaro, etc) , com a alegada subida eleitoral da extrema-direita. Espanha, com eleições hoje, é disso exemplo mais recente. Ventura e o Chega, em Portugal, foram o foco da discussão - continuam a ser estranhamente esse foco... - embora em meu entender valorizado muito mais do que realmente merece e justifica e ignorando factores a jusante, nomeadamente desportivos ou clubísticos, que poderão ter influenciado também alguma da votação obtida pelo deputado benfiquista e ex-candidato do PSD de Passos Coelho - vejam bem - à presidência da Câmara de Loures, ganha pelo PCP, e cujo primeiro discurso foi um ataque aos ciganos sabendo que era uma das maiores comunidades residentes na cidade onde concorria!
O problema é que este fenómeno do extremismo de direita - ainda não aceito que ele esteja realmente institucionalizado na Europa - não acontece por acaso. Ninguém discute as causas de tudo isso, a desilusão das pessoas com os chamados partidos tradicionais, muitos deles esgotados e a definharem pouco-a-pouco, a corrupção nos sistemas políticos, os modelos de sistemas eleitorais esgotados, caducos e que apenas alimentam a abstenção e o distanciamento entre eleitores e eleitos, o perfil dos políticos contratados pelos partidos, os impasses políticos frequentes, devido à incompetência dos partidos e dos políticos, e que levam as pessoas a serem usadas e manipuladas pela política e "obrigadas" a votar 3, 4 ou mais vezes para tentarem tapar os buracos, melhor dizendo, para tentarem tapar a merda que os políticos deixam no seu caminho de incompetência, disputas, inveja e corrupção.
Portanto discutir estes alegados fenómenos da extrema-direita, ou a sua pretensa ameaça à estabilidade impotente e ultrapassada de muitos sistemas políticos europeus e dos seus modelos eleitorais - veja-se a vergonha dos negócios com as eleições europeias em Portugal que insiste numa lista única quando a abstenção roça os 60%, etc, etc - sem questionar as responsabilidades dos partidos tradicionais e da corja de oportunistas que os tomarem de assalto e que acima de tudo, pensam e decidem em função dos interesses corporativistas e não em função do que as pessoas, que votam, desejam e esperam, é uma farsa que temos que denunciar.
Uma coisa é certa: sem ser um fenómeno ainda preocupante, sem constituir sequer uma ameaça à democracia e à liberdade europeias, a verdade é que as pessoas começam a ficar fartas - basta ver os níveis de abstenções nas eleições que se realizam pela Europa fora - é um facto que a extrema-direita está a ressurgir, está atenta, é matreira, usa protagonistas com discurso fácil e cativante, sabe quais os argumentos que mais interessam às pessoas, é populista e oportunista, sabe aproveitar-se da desilusão dos eleitores, das frustrações sociais, etc, porque só assim consegue plantar paulatinamente o seu próprio terreno, para mais tarde recolher os frutos desse trabalho.
Enfim, repito e insisto: antes de perderem tempo a discutir a ameaça da extrema-direita sejam sérios e inteligentes e digam às pessoas quais as causas, aquelas que mais directamente têm contribuído para isso e quais os verdadeiros culpados do que está a acontecer. Polónia, Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Espanha, França, Portugal a dar os primeiros passos, etc, não são motivos mais do que suficientes para essa reflexão? Tenho receio, tenho mesmo, que as pessoas, de forma crescente, comecem a rever-se nos principais argumentos do discurso populista e facilitista e oportunista da extrema-direita. Mesmo que eu acredite - e fica registado com antecedência - que os cenários eleitorais previstos para o VOX, em Espanha, não se vão confirmar. Acredito que um eleitor consciente com um boletim de voto na mão, mesmo que esteja farto desta bandidagem e desta bandalheira dos partidos dito tradicionais, não dará oportunidade a retrocessos sociais e civilizacionais (LFM)
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