É verdade que os
tempos já foram piores e que, no auge da crise, o desemprego entre os mais
novos chegou quase aos 40%. Isso já passou mas há estragos que ainda vão
demorar a ser reparados. O poder de compra médio dos recém-licenciados caiu 18%
desde 2008. Não foram os únicos a perder, pelo contrário, mas perderam
bastante. Ao mesmo tempo, o prémio salário das licenciaturas, ou seja, o
acréscimo de remuneração para quem estudou, tem igualmente vindo a encolher. E
isso tem um duplo problema: não valoriza as qualificações nas empresas e gera
ineficiências e, pior, pode dar um sinal errado a quem está a decidir sobre
investir na sua educação.
Há 10 anos anos, uma
licenciatura valia mais 51% de salário líquido face a quem apenas tinha ficado
pelo ensino secundário. Agora são apenas 22%. Se o prémio se tivesse mantido
igual, seriam hoje mais 180 euros mensais. Pode parecer pouco mas para níveis
salariais relativamente baixos e para jovens em início de vida adulta faz
diferença. E pode ser também a distância entre ficar em Portugal ou procurar
alternativas no estrangeiro onde a mão-de-obra escasseia e onde as
qualificações portuguesas são bastante apreciadas.
Agora, o governo quer
contrariar esta tendência. A subida dos salários dos jovens qualificados é uma
das prioridades do acordo que o Governo levou à concertação social. Chama-se
“Acordo Global sobre Crescimento Económico e Política de Rendimento” e pretende
acordar um referencial para os aumentos salariais na negociação colectiva e,
para os jovens qualificados, um patamar superior.
Objetivos: eliminar o
gap com a Europa no peso dos salários no PIB e melhorar o prémio salarial das
licenciaturas. No primeiro caso, passa por fixar um referencial de subida dos
salários na negociação coletiva acima da inflação e da produtividade que
permita aumentar a fatia dos salários no PIB em quatro pontos, num acordo
semelhante ao desenhado por Guterres na década de 90. No segundo caso, passa
por determinar um aumento superior para jovens qualificados, a par de outras
medidas como maiores valores dos estágios do Instituto de Emprego e Formação
Profissional. Curiosamente, nos aumentos para os funcionários públicos, as
Finanças ficam-se pela inflação deste ano. E com isso poupam cerca de 230
milhões de euros (Expresso)
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