O presidente da Autoridade Nacional da
Aviação Civil (ANAC) disse entender as queixas dos empresários quando há
constrangimentos no aeroporto da Madeira devido ao vento, mas assegura que a
prioridade é a segurança dos voos da qual não abdicará. “Eu compreendo a frustração das pessoas e dos
empresários que têm os seus negócios e o que querem é ter uma conexão para os
turistas não terem problemas. Mas o que é facto é que os ventos mudaram”,
afirmou à Lusa Luís Ribeiro. Segundo o presidente do regulador aéreo, “as
regras não mudaram e o que aconteceu foi que nos últimos dois anos - não este
último verão que foi atípico, não houve grande impacto nos ventos - houve uma
grande percentagem de dias em que houve ventos acima dos limites e foi, por
isso, que a operação foi mais impactada".
Na quinta-feira, no discurso de abertura do
45.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo
(APAVT), no Funchal (Madeira), o presidente desta associação, Pedro Costa
Ferreira, afirmou que a Madeira tem "um problema de inoperacionalidade
[aeroportuária] que vem matando a confiança dos 'players' e vem afastando
lenta, mas inexoravelmente, os aviões da pista". Pedro Costa Ferreira classificou esta questão
como "inexplicável", pois, no seu entender, "nos últimos anos os
ventos não se alteraram, a tecnologia de gestão da aproximação das aeronaves
melhorou e a tecnologia a bordo dos aviões igualmente se aperfeiçoou".
Para o presidente da APAVT, o que
"piorou" foi "o número de aproximações à pista autorizadas, o
que, face ao quadro descrito, é simplesmente inimaginável e portador de
prejuízos incalculáveis". Na resposta, à margem do congresso da APAVT,
o presidente da ANAC realçou que “as questões não podem ser vistas desta forma
assim tão simples”.
“O problema deste aeroporto em particular são
as alterações bruscas da intensidade e a direção do vento. Isso é que tornas as
aproximações a este aeroporto particularmente perigosas”, explicou, sublinhando
que, em primeiro lugar, são os fabricantes que definem limites de ventos para
as aeronaves e, depois, as companhias nos seus manuais de operação definem
outros limites que, normalmente, são um pouco mais exigentes que os do próprio
fabricante.
“Depois há casos excecionais em que o próprio
regulador impõe outro tipo de limites”, esclareceu. Segundo Luís Ribeiro, situações como as já
registadas no aeroporto da Madeira podem “acontecer outra vez", pois estes
fenómenos "são imprevisíveis" e que, mesmo no grupo de trabalho que
estuda estas matérias e que conta com técnicos do Instituto Português do Mar e
da Atmosfera, "não sabem se estão a deparar-se com uma tendência ou com
anos atípicos".
"Aquilo que temos de fazer é
relativamente bem definido, que é utilizar novas tecnologias para minorar os
impactos deste fenómeno, garantindo aos utilizadores do aeroporto que os voos
são perfeitamente seguros. Portanto, esta é a nossa prioridade e não vamos
fazer nada que ponha em causa a segurança da aviação civil", reforçou o
responsável pela ANAC.
"Não podemos andar atrás de prejuízos,
que eu respeito, mas que são impossíveis de ultrapassar nesta fase",
acrescentou, explicando que o grupo continua a desenvolver o seu trabalho e que
ajudará o desenvolvimento de tecnologia e instrumentos próprios para medir a
turbulência em tempo real. Luís Ribeiro adiantou à Lusa que, além do
trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho, com IPMA e companhias aéreas, já
foram feitos testes, exemplificando com um realizado por um Airbus 321 Neo que,
quando terminou o teste, após cerca de 15 aproximações à pista, teve de
substituir o trem de aterragem.
"Há um efeito turbulência [na Madeira]
por causa da própria orografia do vale em que estas operações são feitas”,
declarou, insistindo na importância de “tecnologia e de instrumentos próprios”
para “tentar medir essa turbulência em tempo real”. O presidente da ANAC admite que se tal for
alcançado se conseguirá “reduzir nalguma medida os períodos de
indisponibilidade do aeroporto”, mas ressalvou: “Agora não nos vamos enganar,
os ventos não vão desaparecer, o que podemos fazer é medir com maior facilidade
e com mais precisão as condições precisas que os pilotos vão defrontar" (Lusa)
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