sábado, dezembro 07, 2019

PSD e a maçonaria. Todos os candidatos têm ligações (até Rio)

O presidente do PSD denuncia insistentemente a influência nefasta da maçonaria dentro do partido - mas a verdade é que a comunicação da sua campanha para a reeleição está a ser dirigida por alguém que é militante ativo do Grande Oriente Lusitano há mais de 25 anos. Miguel Pinto Luz foi maçon - mas entretanto aproximou-se de uma organização arqui-inimiga, o Opus Dei. A maçonaria "está um pouco por todo o lado e a tentar condicionar muitas coisas. Não tenho dúvidas sobre isso. Aliás, se eu não dissesse isto, era um hipócrita. Todos nós sabemos isto e ninguém tem coragem para o dizer, mas eu digo-o". No combate pela liderança do PSD, Rui Rio tem sido o campeão na denúncia da (má) influência maçónica no partido, acusando mesmo os seus dois adversários de estarem no raio de influência dos "interesses secretos, obscuros e pouco transparentes" de obediências maçónicas. O tema incendiou o debate Rui Rio-Luís Montenegro-Miguel Pinto Luz realizado pela RTP na quarta-feira passada.

Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz tiveram de facto, em tempos, relações com a maçonaria. Montenegro diz que participou num almoço e é tudo; já Miguel Pinto Luz admite uma filiação quando era jovem - mas assegurando ter-se demitido há dez anos. Em ambos os casos, as relações foram com a chamada maçonaria regular (de que hoje a principal obediência é a Grande Loja Legal de Portugal).
Contudo, o que interessa para o caso é que mesmo ao mais alto nível junto de Rui Rio há forte presença maçónica. O próprio líder do partido nunca teve qualquer militância desse género - e o seu combate à influência não escrutinável destas sociedades secretas vem de há muitos anos.
Contudo, há quem junto de si tente - como o próprio Rio diz - "condicionar muitas coisas", estando aliás contratado para isso mesmo. Trata-se do consultor de comunicação João Tocha, patrão da F5C (First Five Consulting), uma das mais influente empresas de comunicação institucional em Portugal.
Tocha é não só membro do Grande Oriente Lusitano (GOL, a mais antiga obediência maçónica portuguesa) há mais de 25 anos como é mesmo, no dizer de fontes da organização, "um irmão bastante ativo", com presença constante em reuniões e iniciativas na sede da organização (um palácio no Bairro Alto). Tocha é atualmente quem está a fazer a comunicação da campanha de Rui Rio para a sua reeleição como presidente do partido - ou seja, é um dos seus principais spin doctors.
Na campanha de Miguel Pinto Luz, a influência dominante pertence também a outro ilustre membro do Grande Oriente Lusitano, Alexandre Picoto, patrão da empresa de sondagens Pitagórica - também ele não apenas membro daquela obediência maçónica mas acima de tudo um militante ativo. Picoto é também muito amigo de Miguel Relvas, ex-membro do Grande Oriente Lusitano (já não era quando rebentou o escândalo da sua licenciatura).
Maçonaria... mas também Opus
Além do mais, a comunicação da candidatura é conduzia por Alexandre Luz, igualmente membro do GOL. Alexandre Luz é atualmente o patrão de uma outra agência de comunicação, a NextPower.
Assim, o que se percebe é que a comunicação das campanhas de Rui Rio e Miguel Pinto Luz - e não tanto a de Montenegro, que se saiba - são conduzida por maçons muito ativos no Grande Oriente Lusitano.
No caso de Miguel Pinto Luz, há outro paradoxo a registar. Apesar de ter sido maçon ativo, Pinto Luz está agora muito próximo de uma organização arqui-inimiga da maçonaria, o Opus Dei (congregação religiosa ultraconservadora).
Pinto Luz fez um mestrado na escola económica do Opus Dei, a Associação de Estudos Superiores de Empresa Business School (AESE). E, na altura, quando frequentou essa formação, terá até sido questionado internamente sobre a sua filiação maçónica.
Em suma: atualmente - como de há muitos anos para cá - há forte presença maçónica no PSD, presença que não é necessariamente exclusiva de uma das fações internas do partido, antes sendo transversal.
Costa já foi convidado - e recusou
Um influente membro do GOL avançou mesmo ao DN que, neste momento, é possível que haja mais elementos do PSD membros desta obediência do que membros do PS. E não era de todo assim logo em 1974 e depois - quando os socialistas tinham uma influência avassaladora.
No PS, aliás, apenas um líder era maçon, formado em França. Mário Soares nunca teve, porém, nenhuma militância relevante na organização (já o seu filho João, sim). Nenhum dos outros - Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Ferro Rodrigues, José Sócrates, António José Seguro e António Costa - pertenceu ou pertence à organização. António Costa - sabe o DN - já foi convidado várias vezes mas recusou sempre. António José Seguro tinha relações familiares próximas com distintos membros do GOL (através da mulher), mas também nunca aceitou integrar a organização.
A questão maçónica é - por iniciativa de Rui Rio - um dos tópico da campanha interna para a liderança do PS, campanha que irá decorrer até 11 de janeiro, dia das eleições diretas (uma eventual segunda volta decorrerá uma semana depois, a 18 de fevereiro). O presidente do partido será então eleito (ou reeleito, se Rio vencer). Depois, reunirá de 7 a 9 de fevereiro em Viana do Castelo o 38.º congresso nacional, no qual serão eleitos os órgãos nacionais (DN-Lisboa)

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