segunda-feira, dezembro 09, 2019

OE-2020: Madeira e Governo negoceiam para aprovar contas

PSD/Madeira vale três votos no Parlamento e pode ajudar num plano B, caso os parceiros de esquerda do PS não dêem a mão ao Executivo. Já há negociações mais técnicas a decorrer, mas caminho ainda é longo. Não é a primeira vez que o PSD/Madeira negoceia diretamente com um Governo da República socialista as condições para votar a favor de um Orçamento do Estado. Já o fez no consulado de António Guterres, quando o seu Executivo geria o país, mas estava em minoria. Agora, a história repete-se e prosseguem, por estes dias, negociações técnicas entre o vice-presidente do governo regional, Pedro Calado, e os secretários de Estado do Ministério das Finanças, apurou o i. Há 22 anos, Alberto João Jardim também admitiu votar a favor, tal como o atual presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. No final bastou a abstenção do CDS e de cinco deputados, eleitos pela Madeira e pelos Açores. Mas vamos ao Orçamento de 2020. O primeiro-ministro já reuniu com o presidente do Governo Regional da Madeira e o ministro das Finanças, Mário Centeno, no passado dia 20 de novembro. Entretanto houve mais um contacto ao mais alto nível e o processo já levou Miguel Albuquerque a assumir, em público, a disponibilidade para viabilizar o Orçamento do próximo ano.

 “O Orçamento do Estado pode depender do PSD/M e apenas de uma coisa: é de as justas reivindicações da Madeira serem satisfeitas pelo poder central. Temos de olhar para o Orçamento em função dos interesses da região e nós confiamos, como sempre dissemos, a nossa votação em função daquilo que são os legítimos direitos do povo madeirense”, declarou Albuquerque, citado pela TSF, num jantar de Natal do PSD/Madeira, na passada sexta-feira.
Assim, em troca dos três votos (dos deputados Sara Madruga da Costa, Paulo Neves e Sérgio Marques), o Governo Regional da Madeira lançou um longo caderno de encargos para 2020 e que pode rondar os 200 milhões de euros ou mais, segundo fontes parlamentares.
À cabeça está o financiamento do novo Hospital Central da Madeira, tanto ao nível da construção como de equipamentos, mas também taxas de juros similares às dos empréstimos do Governo da República, contraídos durante o período da troika. Em 2012, recorde-se, a Madeira também teve de pedir 1500 milhões de euros, em pleno período de assistência financeira. E, apesar de os juros terem vindo a descer, ainda não estão em linha com as taxas pagas pelo Estado atualmente. Contas feitas, em média, são pagos a mais seis a sete milhões de juros pelo Governo Regional da Madeira. E Miguel Albuquerque quer baixar essa fatura. Depois há uma velha reivindicação (quase tão antiga como a construção de um novo hospital) que são as passagens aéreas para o Continente a 86 euros. A seu favor, Albuquerque tem um diploma aprovado em 2018 para que os residentes e estudantes da Madeira paguem 86 euros e 65 euros, respetivamente, ao abrigo do subsídio de mobilidade. O Executivo madeirense tem-se queixado de o diploma ter ficado na gaveta. Até agora, os madeirenses têm de pagar o bilhete na totalidade e só depois são reembolsados. Nesta versão, não têm de esperar pelo reembolso. Só pagam o valor tabelado.
Como forma de pressão, Albuquerque já tinha estabelecido um protocolo com agências de viagem para acautelar que os estudantes madeirenses só pagariam os 65 euros de bilhete, sem precisar de avançar com o valor total da passagem – que nalguns casos, dependendo da época, pode chegar aos 600 euros (ida e volta). O protocolo incluiu quatro viagens no anterior ano letivo, tendo beneficiado cerca de três mil estudantes.
Na lista de encargos da Madeira são exigidos também apoios para garantir a ligação por ferry entre Lisboa e o Funchal durante todo o ano. Mas há mais: segundo apurou o i, o governo regional quer garantir que o Estado assuma os apoios do passe sub-23 aos universitários da Madeira, reclamando também acertos sobre adiantamentos feitos para os subsistemas de saúde da GNR e da PSP, no total de 20 milhões de euros, que a Madeira foi assumindo. A solução fora da caixa Para aprovar o Orçamento do Estado, os socialistas podem precisar dos três deputados do PSD/Madeira, do PAN, com quatro parlamentares, e do Livre – uma solução fora da caixa que o SOL já tinha noticiado como possibilidade no passado dia 19 de outubro. O PS tem 108 deputados e não há certezas absolutas de que os parceiros da anterior legislatura deem o aval ao documento, cuja proposta chegará ao Parlamento no próximo dia 16 (texto da jornalista do Jornal I, CRISTINA RITA)

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