domingo, dezembro 29, 2019

Nota: uma confusão, ou talvez não...

Ouve-se falar, frequentemente, a nível nacional, da necessidade de medidas concretas para apoiar as empresas de comunicação social, debate no qual até Marcelo Rebelo Sousa se envolveu. Desde medidas de apoio através de programas financeiros específicos, passando por medidas de apoio à formação contínua dos profissionais e criação de emprego (uma das grandes doenças do sector, a falta de recursos humanos) até programas de difusão publicitária institucional, passando por eventuais medidas fiscais - apesar de sabermos que Centeno não gosta de jornalistas e que por ele os meios de comunicação social estavam todos no lixo - tudo isto tem sido colocado em cima da mesa para salvar um sector, fundamental para a democracia e para a liberdade e cidadania. O ataque do poder ao sector começou com a extinção da Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas (decidida em Dezembro de 2011 com a chegada da corja passista e da troika a Portugal e concretizada por via do Decreto-Lei nº 26/2012), pela forma como o processo foi imposto e concretizado, decisão que na altura foi considerada uma espécie de ajuste de contas da ala política mais direitista do PSD de Passos e do CDS de Portas (agora é vê-lo comentador dominical de uma televisão privada, sem contraditório tal como MRS beneficiou durante anos no seu trampolim presidencial...) com uma classe profissional atrevida que tinha que ser "posta no seu lugar". Eu lembro-me bem do que se passou, de providências cautelares estranhamente recusadas por uma outra corporação que devia meter a mão na consciência por tudo o que nesse passado tenebroso troikano ajudou a que fosse feito no país.

Contudo, parece-me que nos últimos tempos e depois de conhecida a versão do OE-2020 - embora essas medidas não tenham necessariamente que constar do documento, apesar de eu pensar que deviam - a descrença é maior do que a esperança. Isto apesar de aumentarem as situações de salários em atraso, de dificuldades financeiras até em empresas onde supostamente tal demoraria eventualmente a acontecer, até de algumas televisões que andam a tremelicar com o acumular de dívidas que nem matreirices contabilísticas conseguem disfarçar, etc.

O que eu pergunto é se no caso concreto da Madeira a situação não se coloca. Porque com o orçamento já entregue e a ser debatido em breve que eu saiba o assunto nunca foi suscitado frontalmente e posto em cima da mesa, mesmo com programas "milagrosos" que na realidade apenas resolveram a questão anterior da titularidade do JM mas que em nada resolveram os problemas de fundo mais concretos nem a realidade do sector da comunicação social em concreto, pelo menos numa perspectiva de estabilidade a médio e longo prazo. Mais não fosse para acabar com algumas dependências que podem condicionar muita coisa porque a comunicação social existe para estar no sector dos mídia, não mais do que isso. Como eu sei que há precariedade, que há salários absolutamente abjectos, que há falta de recursos humanos, que as redacções sentem a pressão da realidade por muito que ela seja disfarçada ou escondida, fico surpreso por esse debate, no que à RAM diz respeito, não ter sido suscitado ainda. Mas não me quero aventurar mais porque nem me compete fazê-lo. Quanto muito apenas suscitar muito levemente um tema que me diz muito mais não fosse por ser detentor de uma carteira profissional que sempre procurei honrar e dignificar (LFM)

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