quinta-feira, dezembro 05, 2019

Orçamento: para salvar o SNS, mais dinheiro não chega

A pouco mais de uma semana de o Governo entregar a proposta de Orçamento do Estado, os bastonários dos Médicos e Enfermeiros e o economista Pedro Pita Barros garantem que será preciso mais do que um reforço financeiro para salvar o SNS do estado crítico. Entrevistados pelo Expresso e SIC, alertam para a necessidade de uma aplicação criteriosa das verbas e uma organização eficiente, que garanta autonomia na gestão e novos regimes de trabalho. A bastonária Ana Rita Cavaco desafia os médicos e os farmacêuticos a trabalharem por turnos, lado a lado com os enfermeiros. O Orçamento do Estado para a Saúde em 2020 tem de ir muito além de um reforço de verbas para ser capaz de tratar de forma eficiente o estado crítico em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ter mais dinheiro faz falta tanto como uma melhor organização que garanta autonomia na gestão e novos regimes de trabalho. “Se simplesmente colocamos dinheiro para resolver problemas sem pensar, fazemos desaparecer o dinheiro mas não os problemas”, avisa o economista de Saúde Pedro Pita Barros.

Entre as prioridades está a valorização dos profissionais. “O principal que temos de fazer nos serviços públicos de saúde é valorizar o trabalho das pessoas”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães. “Não conseguimos melhorar se continuarmos a pagar salários miseráveis, porque os médicos têm outras opções e a concorrência é grande. Portugal não está a saber adaptar-se a ter as portas abertas para a Europa.”
Critica do atual entendimento do Governo sobre a necessidade de enfermeiros, a bastonária Ana Rita Cavaco já fez as contas: faltam 30 mil profissionais. “Há quatro anos iniciámos esta discussão e quase ninguém nos acompanhou. Era raro alguém dizer que a Ordem dos Enfermeiros tinha razão e que havia deficiências no sistema.”
As falhas são muitas e o novo Orçamento do Estado deve acudir. “O problema das dívidas que recorrentemente surge torna claro que o orçamento atual da Saúde é insuficiente”, diz Pedro Pita Barros. Ainda assim, o economista é perentório: “Nem sempre aquilo que é mais eficiente é mais caro.” E dá um exemplo: “As regras do sistema público impõem um espartilho dispendioso e pouco eficiente.” Mais autonomia é, portanto, necessária.
E um dos exemplos das mais-valias de uma maior autonomia na gestão é a possibilidade de mudar o regime de trabalho. Ana Rita Cavaco desafia os médicos e os farmacêuticos a trabalharem por turnos como os enfermeiros, garantindo assim a prestação de cuidados de acordo com as necessidades, que não se suspendem durante a noite ou aos fins de semana e feriados (Expresso, texto da jornalista Vera Lúcia Arreigoso)

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