Eu sempre afirmei que na coligação Passos-CDS, Paulo Portas foi sempre mais político, mais matreiro, mais manhoso, sabendo gerir mais eficazmente o seu espaço, sabendo mais do que isso gerir a sua presença na comunicação social. Politicamente Passos esteve sempre à frente de Portas só porque o PSD é maior que o CDS. Repito, só por isso. Na realidade Portas, em termos políticos - aliás ele fez questão de sublinhar isso quando tentou comparar o tempo de liderança de ambos... - esteve sempre uns passos à frente de Passos, graças à sua experiência, aos ódios de estimação que foi alimentado um pouco por todo o lado e que nalguns momentos funcionavam a favor dele, e ao facto de ser matreiro e de ter uma conhecida facilidade de comunicação. O "sniper" da extinta - ainda bem! - PAF, como foi catalogado pelos socialistas na última campanha, que inúmeras vezes reagiram incomodados à contundência dos ataques que desferia contra a Costa e não só, mostraram que para os socialistas Portas era o principal problema, foi sempre o principal problema.
Por isso esta demissão é pensada, foi preparada, foi repensada, foi esmiuçada ao pormenor. Não aconteceu por acaso. Não se trata de elogiar decisões de políticos porque isso em política não existe. Os políticos vêm e vão normalmente, porque tem que ser assim. É como o movimento das marés, ora sobem, ora descem. O político não tem que ser elogiado quando entra, tal como não tem que ser elogiado quando sai ou se demite no momento das derrotas. Por isso recuso alinhar com a idiota afirmação de um dirigente qualquer do CDS para quem a demissão de Portas revela "maturidade política"! Maturidade política qual carapuça? Portas percebe o que espera o CDS, aliás deixou vários indicadores. Percebe que os desafios que esperam PSD e CDS provavelmente serão mais complicados do que alguns imaginam, sabe que se começarem a abrir o baú dos segredos, patifarias e embustes da anterior governação, as cosias vão dar para o torno. Antecipou-se. Um político inteligente e hábil como ele antecipa-se, não fica agarrado ao poder, não inventa tretas para ser recandidato quando vai apresentar se aos militantes com uma mão vazia e outra cheia de nada.
O que vai dizer Passos aos militantes? Dar-lhes uma versão diferente dos factos, ir por um caminho diferente do que Portas agora antecipou? Ou vai afirmar-se como um tachista que vive do poder e para o poder, que foi um mero peão-de-brega de interesses de grupos económicos e financeiros nacionais que em nome de teorias liberais de merda o escolheram, provavelmente pelo patético da personagem, como porta-estandarte de algo que o transcendeu. Aliás, foi por causa de tudo isso que tomaram o poder de assalto no PSD, rampa de lançamento para tudo o que se seguiu depois.
Caminhos diferentes, direcções opostas...
Em suma, a demissão de Portas - em meu entender inevitável até pelo esgotamento do ainda líder do CDS que penalizava o partido desde a cena da demissão irrevogável - é um desafio a Passos, provavelmente coloca-o encostado à parede e dá legitimidade a quem no PSD está farto dos Passos, dos Montenegros, dos Marcos Costas, etc e entende que o partido deve sair de uma realidade adversa, procurar uma lufada de ar fresco, uma mudança.
É bom ter presente que para além do embuste da PAF - um bom negócio para o CDS que graças ao desespero de Passos pelo tacho e pelo poder, acabou por ganhar três vezes mais os deputados que teria se concorresse sozinho - desde 2011 o PSD nunca mais ganhou eleições, já que apenas o PSD-Madeira lhe salvou a face nas regionais deste ano. A vitória da PAF foi uma vitória de Pirro, pois não esconde que, além de não ter conseguido a maioria absoluta que tanto perseguiam mas que nunca assumiram publicamente como objectivo eleitoral, perderam mais de 700 mil votos e 25 deputados (LFM)
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